Por Nathan Sacchetto Madureira
Em 2023, o Betim Futebol ficou em terceiro lugar no Módulo II do Campeonato Mineiro, a um passo de alcançar a inédita promoção à elite estadual. A oportunidade escapou no último minuto da última rodada do hexagonal do acesso, quando enfrentou o Uberlândia em um confronto direto e perdeu por 1 a 0, vendo o rival subir.
Trata-se de mais um insucesso de Betim – uma cidade com forte presença na indústria de serviços e crescimento econômico contínuo – nos gramados. Situado na Região Metropolitana de Belo Horizonte, o município enfrenta desafios persistentes em sua busca por destaque no cenário futebolístico estadual e ainda não conseguiu se estabelecer como uma força significativa no esporte mais popular do mundo.
A oportunidade de 2023 é apenas um exemplo adicional de como o insucesso é uma constante nos campos de futebol da região. Várias equipes tentaram prosperar e se estabeleceram na cidade como sua base; no entanto, devido a falhas em campo e dificuldades de investimento, essas equipes eventualmente deixaram a cidade em busca de novas oportunidades por todo o estado de Minas Gerais.
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No século XXI, pelo menos três clubes se esforçaram para se destacar no cenário profissional do esporte na área. Vamos analisar os casos desses clubes que não conseguiram alcançar o sucesso:
1. Betim EC
O Ipatinga, uma equipe tradicional em Minas Gerais, já ostentou o título do Campeonato Mineiro ao derrotar o Cruzeiro em 2005, tornando-se uma das raras equipes do interior a conquistar tal feito. Após campanhas memoráveis no cenário estadual, incluindo vice-campeonatos (2002, 2006 e 2010), uma histórica semifinal na Copa do Brasil (2006) e presença na Série A do Campeonato Brasileiro (2008), o Tigre enfrentou dificuldades no início da década.
No final de 2012, após ser rebaixado da Série B para a Série C, o então presidente do clube, Itair Machado (ex-vice de futebol do Cruzeiro), tomou a decisão de mudar a sede para Betim e adotar um novo nome, o Betim Esporte Clube. Na época, houve muita discussão devido à falta de apoio da torcida, patrocinadores e das autoridades municipais ipatinguenses. A oferta de empresários locais foi um atrativo significativo para a mudança.
No entanto, mesmo após a mudança, o clube não pôde disputar competições profissionais na cidade, frente às condições inadequadas do Estádio Capelão, que posteriormente seria reformado. O time teve que mandar seus jogos em estádios como a Arena do Jacaré, em Sete Lagoas, e a Arena do Calçado, em Nova Serrana. Embora tenha colocado a cidade no mapa nacional do futebol, essa parceria foi de curta duração.
Em 2013, apesar de algumas polêmicas judiciais, o Betim EC chegou às quartas de final da Série C, mas não conseguiu a promoção para a segunda divisão nacional. Após essa campanha, uma nova gestão, liderada por Jaider Moreira, decidiu retornar a Ipatinga no final do mesmo ano, mantendo o compromisso de não deixar a região novamente.
No início de 2014, o clube foi rebaixado para a Série D após ser julgado pelo STJD devido a disputas legais relacionadas à edição anterior da Série C.
2. FC Betinense
O Futebol Clube Betinense, que já atuava no cenário amador, tornou-se profissional em 2014. Assim como o Ipatinga, enfrentou desafios para realizar seus jogos em Betim e acabou jogando na Arena do Calçado, em Nova Serrana.
Iniciando sua jornada na Segundona Mineira, equivalente à terceira divisão estadual, o time teve algumas tentativas frustradas de conquistar o acesso ao Módulo II. Na primeira edição, ficou em sexto lugar no Hexagonal Final, e em 2015, não conseguiu avançar para a próxima fase. Finalmente, em 2016, alcançou o segundo lugar no Hexagonal e conquistou o acesso junto com o Tupynambás de Juiz de Fora.
Após a temporada do Módulo II em 2017, o clube decidiu deixar Betim a partir do ano seguinte, alegando a falta de apoio tanto da esfera política quanto de outras parcerias na cidade. Com uma nova base em Nova Serrana, o clube se transformou no Serranense, atraindo mais apoio e interesse da comunidade local. Em 2023, a equipe se transferiu para Itatiaiuçu.
3. AMDH
O Betim Futebol começou a focar em suas categorias de base e se tornou profissional em 2019, a partir da mudança de nome da AMDH (Associação Mineira de Desenvolvimento Humano). Recebeu investimentos adicionais e o apoio da Prefeitura local, liderada por Vittorio Medioli, que é dono de um extenso currículo: prefeito eleito de Betim em 2019, fundador do jornal O Tempo, proprietário do Grupo Sada e fundador do time de vôlei Sada Cruzeiro.
Diferente dos outros casos, o time conseguiu mandar suas partidas na Arena Vera Cruz, após adaptação correta do local para receber os jogos. Logo em seu primeiro ano como equipe profissional, conquistou a promoção imediata para o Módulo II, embora tenha terminado como vice-campeão da Segundona, perdendo para o Pouso Alegre.
Isso aumentou a determinação do clube em sua busca pela elite mineira. No entanto, nos últimos anos, o Betim Futebol não conseguiu atender às expectativas.
Desde sua participação no Módulo II, os Gladiadores frequentemente ficaram perto da promoção para a primeira divisão, mas não conseguiram alcançá-la. Entre 2020 e 2023, a equipe ficou em terceiro lugar nas fases subsequentes por três vezes, ficando de fora dos dois primeiros lugares necessários para a promoção. Além disso, em 2021, o clube não conseguiu se classificar entre os quatro primeiros e foi eliminado na primeira fase, terminando em quinto lugar.
Um aspecto marcante da trajetória do Betim Futebol, sob a direção do diretor de futebol Fred Pacheco, foi a presença nos tribunais esportivos. Durante a campanha de 2021, o clube recorreu ao TJD-MG na tentativa de reverter sua situação e se qualificar para o quadrangular final. A alegação era de uma suposta escalação irregular do Serranense em um jogo contra a equipe do Betim, além de atrasos nas taxas de arbitragem. As reclamações não foram bem-sucedidas.
Depois, entre o final de 2022 e o início de 2023, o clube contestou supostas irregularidades no Ipatinga (que havia conquistado o acesso), por duas vezes. O principal motivo foi a alegação de falsificações nas assinaturas de carteiras na documentação do Tigre. Essa disputa chegou a paralisar o início do Campeonato Mineiro de 2023, mas, no final, o Betim Futebol perdeu todas as apelações nos tribunais.
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