Para ler diretamente o post original, não atualizado com os resultados de Londres-2012, clique aqui.
Abaixo, segue conteúdo publicado em 13 de agosto de 2012, logo após o encerramento dos Jogos.
APÊNDICE (13/08/12): atualizações do post original
Encerrados os Jogos de Londres, a chama olímpica foi apagada pela segunda vez e tem início um novo ciclo. Serão quatro anos de trabalho e sonhos até o Rio de Janeiro-2016, primeira vez em que uma Olimpíada será realizada no continente sul-americano e apenas a terceira passagem pelo Hemisfério Sul (as duas outras foram Sydney-2000 e Melbourne-1956, ambas na Austrália).
As potências esportivas seguem as mesmas, mas as competições cada vez reservam mais espaço para novos conquistadores. Duas semanas após ser publicada, a lista dos 21 países que obtiveram apenas uma medalha olímpica na história felizmente já carece de atualizações.
Em Londres, sete nações estrearam no pódio e se juntaram ao clube. Outras duas deixaram o grupo depois de ganharem a segunda medalha. O post original não será alterado, mas segue um resumo das novas histórias escritas depois dos XXX Jogos Olímpicos da Era Moderna.
Bahrein (bronze no atletismo) – O pequeno reino do Oriente Médio já havia comemorado sua primeira medalha da história em Pequim-2008, quando Rashid Ramzi conquistou o ouro na prova de 1.500 m do atletismo. O sonho, porém, virou pesadelo um ano depois quando o atleta foi desclassificado por doping e teve que entregar seu prêmio ao queniano Asbel Kiprop.
O trauma nacional apenas foi superado neste ano, quando Maryam Jamal subiu ao pódio com um bronze na versão feminina da mesma prova. Curiosamente, tanto Ramzi quanto Jamal não nasceram no país. Eles são imigrantes oriundos, respectivamente, do Marrocos e da Etiópia.
Botsuana (prata no atletismo) – Mesmo com apenas 4 atletas, menor delegação em suas 9 participações olímpicas, Botsuana conseguiu subir ao pódio pela primeira vez em Londres. O jovem Nijel Amos, de 18 anos, foi prata na disputa dos 800m do atletismo, prova dominada por quenianos. Nijel tem potencial para conquistar muitas outras façanhas pelo país, por isso vale a pena aprender a pronunciar seu nome com o sotaque do inglês botsuano.
Chipre (prata na vela) – Com apenas 22 anos de idade, Pavlos Kontides conquistou a prata na classe laser do iatismo e levou a bandeira cipriota ao pódio olímpico pela primeira vez. Quatro anos antes, em Pequim, o país viu seus dois representantes na categoria skeet do tiro ficarem em 4º e 5º na classificação geral, perdendo medalhas por detalhes.
Gabão (prata no taekwondo) – Após nove participações em Olimpíadas, o país africano subiu ao pódio pela primeira vez com Anthony Obame, derrotado apenas na final da disputa acima de 80 kg do taekwondo, diante do italiano Carlo Molfetta. No mesmo evento, faltou pouco para que outra nação do continente também conquistasse sua primeira medalha na história: Daba Modibo Keita, de Mali, ficou muito próximo do bronze, mas caiu em luta contra o mesmo italiano.
Granada (ouro no atletismo) – Ainda antes de conquistar o primeiro ouro da história do seu país, James Kirani tornou sua participação em Londres marcante ao “tietar” o sul-africano Oscar Pistorius, primeiro atleta a disputar os Jogos Olímpicos e Paralímpicos de forma simultânea. Na semifinal dos 400m, o granadino, com o melhor tempo, fez questão de levar uma lembrança de Pistorius, último colocado da bateria. Na prova, Kirani confirmou o favoritismo e levou ao delírio seus conterrâneos nas ruas de Granada, nação caribenha de apenas 110 mil habitantes e 344 km2 de área, menor em território e pouco mais populoso que Tonga, até então o menor país em todos os critérios a conquistar uma medalha olímpica.
Guatemala (prata na marcha atlética) – Na disputa de 20 km da marcha atlética, em um dos esportes mais sacrificantes dos Jogos, Erick Barrondo conseguiu a primeira medalha olímpica da história da Guatemala . Após o feito, Barrondo aproveitou a exposição para enviar uma mensagem de esperança ao país, um dos mais violentos do mundo: “sabe-se que na Guatemala há problemas com armas e facas. Espero que minha medalha inspire a juventude a terminar com esse flagelo e calçar um par de tênis, para praticar esporte.”
Montenegro (prata no handebol) – Na segunda participação nos Jogos como país independente, a ex-república iugoslava mostrou força nos esportes coletivos. Por pouco não foram duas medalhas.
No pólo aquático masculino, os montenegrinos perderam por apenas um gol a disputa do terceiro lugar para os vizinhos sérvios, com quem dividiam o mesmo país até 2006.
Coube ao time feminino de handebol a honra de levar a nova nação ao pódio pela primeira vez – e, de quebra, proporcionar um dos momentos mais bonitos das Olimpíadas. Pouco cotadas no início da competição, as montenegrinas se classificaram com um quarto lugar na 1ª fase, após derrotas para Brasil e Croácia, e um suado empate com a Rússia. No mata-mata, porém, a seleção desbancou as favoritas França e Espanha para fazer a final olímpica contra a poderosa Noruega. Depois de um jogo muito disputado, já nos últimos segundos, quando não tinham mais chances de vitória, as montenegrinas aplaudiram as adversárias dentro de quadra. Por direitos autorais, o vídeo ainda não pode ser encontrado no Youtube, mas fica relatado aqui.
Se o grupo dos países com apenas uma medalha olímpica ganhou os seis novos membros apresentados acima, Afeganistão e Kuwait deixaram a lista após conquistarem novos pódios nos Jogos.
Curiosamente, os países triunfaram em Londres justamente com os mesmos atletas que haviam conseguido suas primeiras medalhas. O afegão Rohullah Nikpai voltou a ser bronze no taekwondo, a exemplo do que fez em Pequim-2008. O dejà vu também aconteceu para os kuwaitianos, que viram Fehaid Al Deehani repetir a façanha alcançada em Sydney-2000 e conseguir mais um bronze no tiro esportivo.
Feitas as observações, segue abaixo o post original, publicado em 27 de julho de 2012, às vésperas dos Jogos de Londres:
POST ORIGINAL: O que esses caras estão fazendo neste blog?
Não é novidade a distribuição desigual de espaço no jornalismo esportivo brasileiro. A popularidade incomparável do futebol não costuma abrir terreno para outros esportes e pouco se cobra de um jornalista conhecimento sobre o que se passa fora dos gramados. Os momentos de exceção são feitos extraordinários – como o de Guga, maior “craque” do Brasil em janeiro de 2001, capaz de forçar a tradicional revista Placar a se perguntar, em uma das versões da capa: “o que esse cara está fazendo aqui?”
Ídolos esporádicos à parte, modalidades diferentes apenas ganham espaço nos noticiários em ciclos olímpicos, como o que estamos prestes a vivenciar novamente. É com esse espírito que o Última Divisão sai em busca de personagens a descobrir no universo poliesportivo.
Neste especial são lembrados os feitos dos atletas que ganharam as únicas medalhas olímpicas da história dos países que representaram. Em um blog que sempre procurou mostrar a grandeza dos nanicos, lembramos que Olimpíadas não consagram apenas nomes como Michael Phelps e Usain Bolt, mas também Eric Moussambani e um palauano emocionado por seguir os passos do Príncipe Lee Boo.
A seguir, contaremos mais sobre essas conquistas solitárias. Ao todo, 21 países têm apenas uma medalha no quadro de medalhas olímpico. Apenas dois deles chegaram ao ouro e, curiosamente, todos os feitos foram alcançados em provas maculinas.
São 4 nações asiáticas, 6 americanas, 9 africanas, 1 europeia e 1 da Oceania. Por mais inexpressivas que pareçam, elas ainda estão melhores do que outros 80 países que já competiram e jamais subiram ao pódio (deles, o que mais participou sem nunca ganhar nada é Mônaco e o mais populoso é Bangladesh).
O post foge ao padrão não apenas pela abrangência esportiva, mas também pelo tamanho. Para facilitar a leitura, aqui estão organizadas todas essas histórias em um índice remissivo de links.
Afeganistão (bronze no taekwondo)
Antilhas Holandesas (prata na vela)
Barbados (bronze no atletismo)
Bermudas (bronze no boxe)
Burundi (ouro no atletismo)
Costa do Marfim (prata no atletismo)
Djibuti (bronze na maratona)
Emirados Árabes Unidos (ouro no tiro)
Eritreia (bronze no atletismo)
Guiana (bronze no boxe)
Ilhas Virgens Americanas (prata na vela)
Iraque (bronze no halterofilismo)
Kuwait (bronze no tiro)
Macedônia (bronze na luta livre)
Maurício (bronze no boxe)
Níger (bronze no boxe)
Paraguai (prata no futebol)
Senegal (prata no atletismo)
Sudão (prata no atletismo)
Togo (bronze na canoagem)
Tonga (prata no boxe)
Rohullah Nikpai
Afeganistão
Bronze no taekwondo
O Afeganistão nem sempre foi sinônimo de talibãs e Al-Qaeda, como nos acostumamos a conhecê-lo. Berço da civilização bactriana, uma das mais antigas do mundo, e parte do Império Persa, o país sempre foi marcado por tensões internas, mas vivia uma realidade completamente diferente da atual antes de entrar em guerra civil por volta de 1979. Naquele ano, teve início a intervenção soviética que tentou proteger o regime marxista local de revoluções como a que ocorria paralelamente no Irã. A Cabul de então era descrita como uma cidade atrasada tecnologicamente, porém privilegiada por programas de desenvolvimento e habitada por diversos estrangeiros.
De 1979 em diante, no entanto, os afegãos viram as seus já existentes confrontos internos se agravarem com o apoio bélico de americanos e soviéticos. As décadas de atraso e guerras sucessivas culminaram no cenário atual, embora um ataque recente a um movimentado resort do país tenha mostrado ao mundo que existe sim turismo nesse que, apesar das muitas mazelas, pode ser considerado um dos mais interessantes lugares do mundo.
Em seu passado mais ameno, o Afeganistão foi uma das primeiras nações asiáticas a competir nos Jogos Olímpicos, com estreia em Berlim-1936. Algumas das grandes potências do continente, como China, Coreia do Sul (à época apenas Coreia) eram mais fechadas ao mundo que os afegãos da época e debutaram olimpicamente muitas edições depois.
A tradição de participar da maioria dos Jogos desde então, porém, não foi refletida em bons resultados. Foram 11 Olimpíadas disputadas, mas poderiam ser mais não fosse a participação no boicote das nações que apoiavam o bloco soviético aos Jogos de Los Angeles-1984. O próprio país, aliás, motivou o maior boicote da história olímpica, de mais de 50 nações que protestaram contra a intervenção soviética no território afegão durante os Jogos de Moscou-1980.
Foram 72 anos de espera até que fosse comemorada a primeira medalha olímpica. Em Pequim-2008, a minúscula delegação local, com apenas 4 atletas, subiu ao pódio na disputa do taekwondo masculino, entre lutadores com menos de 58 kg. Com uma vitória por 4 a 1 contra o espanhol Juan Antonio Ramos, Rohullah Nikpai, antigo morador de um campo de refugiados, conquistou muito mais do que uma medalha de bronze e se tornou um importante símbolo esperança para os seus conterrâneos.
Jan Boersma
Antilhas Holandesas
Prata na vela
Churandy Martina, corredor que venceu a prova dos 100m rasos nos Jogos Pan-Americanos do Rio de Janeiro, em 2007, vai além daquilo que a maioria dos atletas faz para representar a terra natal no exterior.
Na página do Twitter do velocista são comuns postagens que promovem o turismo e a cultura de Curaçao, que se equiparou à vizinha ilha de Aruba e se tornou uma dependência autônoma dos Países Baixos (na prática, um município holandês). O mesmo ocorreu com as também paradisíacas St. Marteen e Bonaire, entre as mais famosas ilhotas que compunham as Antilhas Holandesas, território dissolvido em outubro de 2010, após 56 anos de união.
No âmbito esportivo, eles ficarão marcados por proezas expressivas para um país com menos de 200 mil habitantes: em Jogos Pan-Americanos, foram 31 medalhas (5 de ouro), resultados melhores do que nações bem mais populosas como Costa Rica, Panamá, Nicarágua, Paraguai e Bolívia.
Não tão distantes da Jamaica, as Antilhas foram outro país caribenho a realizar o insano sonho de enviar representantes para Jogos Olímpicos de Inverno, com representantes de Bobsleigh nas edições de 1998 e 2012.
E, finalmente, nos Jogos Olímpicos de Verão, os orgulhosos antilhanos construíram uma tradição notável, com 13 participações, uma medalha de prata e uma polêmica.
A segunda dessas medalhas poderia ser do próprio Churandy Martina. Em Pequim-2008, o corredor terminou os 200m rasos apenas atrás do recordista Usain Bolt. Diriam os mais animados que ele “ficou em primeiro entre os humanos, já que Bolt é um extraterrestre”. Mas a alegria durou pouco: imagens mostraram Martina invadindo a raia do americano Wallace Spearmon e o caribenho foi desclassificado minutos depois.
Com a punição, a única medalha do extinto país seguiu sendo a prata do iatista Jan Boersma, na classe 2 de windsurfe em Seul-1988. Regular, Boersma chegou a liderar a prova na primeira das 7 regatas disputadas e sempre se manteve entre os primeiros colocados, mas foi superado por poucos pontos pelo neozelandês Bruce Kendall no cômputo final. Ao todo, 45 atletas de 45 países participaram da disputa, inclusive o brasileiro George Rebello, 16º colocado.
Apesar da dissolução do território, o Comitê Olímpico das Antilhas Holandesas não será extinto em um primeiro momento. O problema é que as Olimpíadas não aceitam a participação de uma nação que não existe mais, o que reserva apenas duas opções para os locais competirem em Londres: eles atuarão como atletas independentes sob a bandeira olímpica ou defenderão a Holanda, como Churandy Martina tem feito enquanto Curaçao não possui representatividade esportiva legal.
Obadele Thompson
Barbados
Bronze no atletismo
Depois de falar de guarda-chuva, sadomasoquismo e imaginar um mundo só de mulheres, a cantora Rihanna se tornou a filha mais ilustre de Barbados. Ela ganhou os primeiros prêmios Grammy do país, mas os barbadianos que preferem os esportes à música pop se orgulham mesmo é de outro herói nacional.
Obadele Thompson conquistou a medalha de bronze na prova de atletismo dos 100m rasos em Sydney-2000, na única vez que um atleta do país subiu ao pódio representando a bandeira nacional (em Roma-1960, James Wedderburn fazia parte da equipe medalha de bronze no revezamento 4x400m, ao lado de 3 jamaicanos, mas os corredores competiam pela Federação das Índias Ocidentais, um país de vida curta que agrupou diversas ilhas caribenhas antes da independência no fim dos anos 50).
Não se sabe o que aconteceu na Vila Olímpica em Sydney, mas talvez lá Obadele já tenha começado a despertar sua paixão pela americana Marion Jones, com quem é casado desde 2007. Marion teve um desempenho espetacular naquelas Olimpíadas, com a conquista de três medalhas de ouro no atletismo, porém perdeu todas também em 2007, quando confessou ter participado das competições sob efeito de esteroides anabolizantes.
Clarence Hill
Bermudas
Bronze no boxe
Desde a primeira participação de Bermudas em Jogos Olímpicos, em Berlim-1936, os jornalistas esportivos só não puderam fazer a piada do “atleta de Bermudas” em 1980, quando os bermudenses aderiam ao boicote de mais de 60 países, liderados pelos Estados Unidos, aos Jogos de Moscou. Na grande maioria das oportunidades, porém, os momentos de glória do arquipélago não foram além da cerimônia da abertura, quando a simpática delegação sempre desfila trajando os shorts grandes, abaixo dos joelhos, que emprestam o nome do país justamente por terem sido inventados lá.
Foi em Montreal-1976, mesma época em que o território ultramarino britânico assustava o mundo com o surgimento da teoria do Triângulo das Bermudas, que Clarence Hill, boxeador peso pesado, mostrou que não são apenas aviões que o arquipélago poderia derrubar. O lendário cubano Teófilo Stevenson, falecido recentemente, ficou com ouro da modalidade naquele ano, enquanto Clarence foi bronze.
Vénuste Niyongabo
Burundi
Ouro no atletismo
País-irmão da tragicamente famosa Ruanda, Burundi também tem a população dividida pelos tribos tutsi e hutu e foi palco de diversos conflitos sangrentos durante toda a história. O único medalhista olímpico do país, no entanto, criou fama justamente por um gesto de amizade: corredor de ponta e favorito para a prova dos 1500m do atletismo em Atlanta-1996, Vénuste Niyongabo cedeu sua vaga na corrida ao compatriota Dieudonné Kwizera, seu treinador na época e veterano atleta burundinês, impedido de competir nas Olimpíadas de Seul-1988 e Barcelona-1992 quando sua nação ainda não era filiada ao Comitê Olímpico Internacional.
Niyongabo abriu mão de correr na distância em que era favorito mais destacado e aceitou se aventurar nos 5.000 m, sem grande experiência. Mesmo fora da prova original, ele demonstrou ser um dos melhores atletas da época e conquistou a medalha de ouro em um pódio todo africano, também formado por um queniano e um marroquino.
Como se sabe essas disputas são longas e costumam reservar a emoção para os minutos finais. A quem quiser assistir, o grande momento burundinês pode ser visto aqui.
Gabriel Tiacoh
Costa do Marfim
Prata no atletismo
Se hoje a seleção marfinense de futebol é considerada uma das mais fortes do futebol africano, com jogadores famosos como Drogba, Kalou, Gervinho e Touré, a tradição esportiva do país não reserva outros grandes momentos de destaque. Desde a estreia nos Jogos Olímpicos, em Tóquio-1964, os atletas da Costa do Marfim sempre foram figurantes das competições que disputaram. A exceção foi um corredor de carreira breve e brilhante.
Gabriel Tiacoh morreu de meningite, com apenas 29 anos de idade, e comoveu o país natal, onde era considerado, além de ídolo esportivo, um exemplo de personalidade e obstinação.
Em Los Angeles-1984, ele dividiu o pódio com dois americanos e conquistou a medalha de prata na prova dos 400m.
Hussein Ahmed Salah
Djibuti
Bronze na maratona
O minúsculo país africano, onde se masca muito khat e o calor obriga a população a fazer siestas diárias de até 3 horas e meia, obteve independência da França apenas em 1977 e participa dos Jogos Olímpicos desde 1984.
Vizinhos da tradicional Etiópia, país que detém o maior número de pódios olímpicos nas provas de maratona, os djibutianos comprovaram a força da região do Chifre da África na modalidade e também consagraram um herói olímpico, mesmo com apenas 500 mil habitantes.
Hussein Ahmed Salah protagonizou a glória solitária do país em Seul-1988, quando foi o terceiro colocado da maratona, atrás de um queniano e um italiano. O feito rende homenagens até hoje, e, em Pequim-2008, Salah, com 51 anos, foi o porta-bandeira da delegação do país.
Ahmed Al Maktoum
Emirados Árabes Unidos
Ouro no tiro
Todos já ouviram falar de Dubai e possivelmente também de Abu Dhabi, mas quantas vezes você teve notícias sobre Sharjah, Ajman, Umm al-Quwain, Ras al-Khaimah e Fujairah?
Os últimos cinco também são emirados que compõem esse país habituado a bater recordes, como o de restaurante mais alto do mundo ou maior desfile de ônibus da marca Hyundai. Quando o assunto são recordes olímpicos, porém, os árabes (sim, a nacionalidade de quem nasce lá é apenas “árabe”) desconversam.
Em sete participações, apenas uma medalha. Ao menos foi de ouro!
Em Atenas-2004, Ahmed Al Maktoum foi o melhor atleta na categoria fossa olímpica do dublê do tiro. O mais incrível é que Ahmed foi jogador de squash até os 34 anos, quando começou a praticar tiro por curiosidade.
Sete anos depois ele levava seu país, do emirado mais anônimo ao mais excêntrico, ao topo do pódio olímpico. Das muitas homenagens que recebeu, no entanto, ele não gostou de uma específica, em um filme de Bollywwood.
Zersenay Tadese
Eritreia
Bronze no atletismo
Se Djibuti, que é vizinho, teve a sorte de pegar a tradição etíope “emprestada” para conseguir uma medalha olímpica no atletismo, nada mais natural que a Eritreia, que fazia parte da Etiópia até 1993, também se sobressaísse na modalidade.
Terra natal da escritora ítalo-brasileira Marina Colasanti, a região passou por diversas mãos durante a sua história até conquistar a soberania. Apesar das guerras que o território presenciou, Asmara, a capital do país, é considerada uma das cidades arquitetonicamente mais charmosas da África e vem se consolidando como destino turístico.
A única medalha olímpica do esporte eritreu veio em Atenas-2004, na segunda participação do país nos Jogos, quando Zersenay Tadese conquistou o bronze nos 10.000m. Quatro anos depois, ele venceu o Campeonato Mundial de Meia Maratona de Estrada, disputado no Rio de Janeiro.
Aqui você pode assistir a recepção de Tadese no país natal após algum grande feito, não especificado no vídeo.
Michael Anthony
Guiana
Bronze no boxe
Por ter duas medalhas conquistadas na história dos Jogos, ambas nos 100m borboleta, pelo nadador Anthony Nesty (ouro em Seul-1988 e bronze em Barcelona-1992), o Suriname tem mais glórias do que o limite para integrar a lista, mas merece menção honrosa. O país faz parte de uma região normalmente pouco lembrada do continente sul-americano, onde não se fala nem espanhol e nem português.
Apesar de nunca ter tido um atleta de renome como Nesty, a Guiana que fala inglês também já provou o sabor de uma medalha olímpica.
Em Moscou-1980, o boxeador Michael Anthony, xará do baixista do Van Hallen, ficou com bronze na categoria abaixo dos 54kg após superar adversários de Nigéria, Síria e México e cair para o cubano Juan Hernandez na semifinal. Após o feito, ele se profissionalizou e obteve bons resultados nos começo da nova fase , chegando a permanecer 3 anos invicto.
Peter Holmberg
Ilhas Virgens Americanas
Prata na vela
As Ilhas Virgens Americanas ganharam fama no Caribe como um paraíso de praias tropicais, boa comida e compras sem imposto. Apesar de também oferecer sigilos e baixos tributos (ou seja, são um paraíso fiscal), não confundamos o lugar com as Ilhas Virgens Britânicas, onde estaria guardada parte do dinheiro sujo denunciada no livro Privataria Tucana.
No basquete, as Ilhas Virgens merecem algum respeito. São a terra natal de Tim Duncan e dois outros jogadores que passaram pela NBA. Mas foi em outro esporte que o pequeno território, politicamente uma dependência americana no Caribe, conseguiu sua maior proeza esportiva: em Seul-1998, o bigodududo Peter Holmberg ficou com a medalha de prata na Classe Finn da vela, atrás apenas do espanhol José Luís Doreste.
Abdul Wahid Aziz
Iraque
Bronze no halterofilismo
Como praticamente tudo no Iraque, o esporte sofreu consequências devastadoras nos 24 anos de governo de Saddam Hussein. O filho mais velho do ditador, presidente do Comitê Olímpico Local por muitos anos, instalou instrumentos de tortura para punir atletas com maus rendimentos ou diferenças religiosas. Segundo pesquisadores, as práticas eram conhecidas pelo presidente do Comitê Olímpico Internacional à época, o espanhol Juan Antonio Samarach, que não agiu a respeito.
Já no fim da Era Hussein, a sede da principal entidade esportiva iraquiana foi destruída por ataques às vésperas dos Jogos de Atenas-2004, mas não impediu que o país enviasse uma delegação de 25 pessoas e realizasse uma campanha impressionante no futebol masculino, com vitórias contra Portugal de Cristiano Ronaldo (4 a 2) e Costa Rica (2 a 0). Mesmo sendo derrotado pelo Marrocos (2 a 1), o time se classificou como líder do grupo e bateu a Austrália (1 a 0) nas quartas de final. Derrotas para Paraguai (3 a 1), na semifinal, e Itália (1 a 0), na disputa de 3º lugar, impediram os árabes de subirem ao pódio, mas a participação entrou para a história. Em Bagdá, as os triunfos daquela equipe foram celebradas com tiros de felicidade.
Menos famosa, a única medalha já conquistada pelos iraquianos foi um bronze do halterofilista Abdul Wahid Aziz, na categoria peso leve, em Roma-1960. O país participou pela primeira vez dos Jogos em Londres-1948, mas, desde então, já se ausentou de quatro edições por razões políticas (entre elas boicotes a Munique-1972 e Montreal-1976, em protesto contra o Apartheid na África do Sul).
Fehaid Al Deehani
Kuwait
Bronze no tiro
Antes da aparição do atacante Emerson, o grande momento já protagonizado por sheiks no futebol havia sido na Copa do Mundo de 1982, quando o sheik do Kuwait, Fahid Al-Saba, invadiu o campo para protestar contra um gol duvidoso sofrido diante da França.
Trinta anos depois, o filho de Saba é presidente do Comitê Olímpico Asiático, que, aliás, é sediado na Cidade do Kuwait, capital do país.
Apesar da importância na política esportiva, a tradição olímpica kuwaitiana é mínima. Em 10 participações interruptas desde Cidade do México-1968, foi conquistada apenas uma medalha: um bronze, na disputa do tiro esportivo, em Sydney-2000.
Representando o Kuwait, Fehaid Al Deehani conquistou 186 pontos na prova, um a menos que o australiano Russell Mark e o britânico Richard Faulds – medalhistas, respectivamente, de prata e ouro.
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Magomed Ibragimov
Macedônia
Bronze na luta livre
Apesar de ter contribuído com atletas medalhistas da antiga Iugoslávia, a pequena República da Macedônia (nome constitucional do país, que disputa com a Grécia o uso da alcunha “Macedônia”, referente a um dos maiores impérios da história da humanidade), não obteve grandes êxitos olímpicos desde a independência, reconhecida em 1993.
Em quatro participações, os macedônios puderam comemorar apenas uma medalha de bronze, conquistada por Magomed Ibragimov, em Sydney-2000, na categoria 76-85 kg da luta livre.
Para sair vitorioso, Ibragimov teve que se superar no final da luta, quase toda dominada pelo adversário americano, com um bem executado golpe aos 4min33seg de vídeo.
Bruno Jolie
Maurício
Bronze no boxe
Dono de uma das bandeiras mais coloridas do mundo, Maurício é chamado de Maurícia no português europeu, para desgosto de Maurício de Nassau, o mesmo navegador holandês que administrou a Nova Holanda, no Nordeste brasileiro, durante o século XVII e foi homenageado no nome do país africano.
Independentes do Reino Unido desde 1968, os mauricianos só participaram da sua primeira Olimpíada em Los Angeles-1984. Foram necessárias sete edições até que fosse alcançada a primeira medalha, em Pequim-2008: vice-campeão do boxe peso galo nos Jogos da Commonwealth, em 2006, Bruno Jolie chegou à Olimpíada em sua melhor forma e ficou com a medalha de bronze, eliminado pelo cubano Yankiel León nas semifinais.
Issaka Dabore
Níger
Bronze no boxe
Um dos países mais pobres do mundo, o Níger precisou instituir um imposto nacional sobre a telefonia para bancar os custos da viagem da seleção de futebol que se classificou de forma inédita para a Copa Africana de Nações, realizada no último mês de janeiro.
Não é fácil ser esportista no país, mas isso não impediu que um atleta nigerino subisse ao pódio olímpico – ao menos uma vez.
Os Jogos de Munique-1972 representaram o auge do boxe africano. Embora sem nenhum ouro, Uganda, Nigéria, Gana e Quênia conseguiram medalhas nas diferentes categorias, comprovando a boa fase dos lutadores no continente. Níger também obteve êxito: na disputa do peso meio-médio-ligeiro, Issaka Dabore conseguiu o bronze, atrás apenas do americano Ray Seales (ouro) e do búlgaro Angel Angelov (prata).
Equipe de futebol masculino
Paraguai
Prata no futebol
Comandada por Ricardo Gomes, a Seleção Olímpica do Brasil contava com uma das gerações mais talentosas da sua história em 2004: do Santos campeão brasileiro dois anos antes, estavam presentes Elano, Alex, Paulo Almeida, Diego e Robinho. Também cultuados, Edu Dracena, Maicon, Maxwell, Dudu Cearense, Daniel Carvalho, Fábio Rochemback, Dagoberto e Nilmar eram outras estrelas juvenis. Nas Olimpíadas, o time poderia contar ainda com Kaká, Júlio Baptista e Adriano, que não foram liberados por seus clubes europeus para disputar o Pré-Olímpico no Chile.
O que parecia mera formalidade, no entanto, se transformou em um imenso vexame. Já na primeira fase, os brasileiros deram suas tropeçadas, com empates diante de Chile e Uruguai. Na estreia pelo quadrangular final, derrota por 1 a 0 para a Argentina, mas bastaria então vencer os dois jogos seguintes para assegurar ao menos uma das duas vagas para Atenas.
Depois de superar com tranquilidade um novo encontro com os chilenos, pelo placar de 3 a 1, o time verde-e-amarelo foi beneficiado por uma vitória argentina contra o Paraguai e teve a missão facilitada: bastaria um empate no último jogo, contra os paraguaios, para fazer a festa (que já estava presente no espírito dos jogadores desde o começo do torneio, como ficou evidente no clássico episódio em que Robinho abaixou o calção de Diego em sessão de fotos).
Na primeira fase, o Brasil venceu o Paraguai por 3 a 0, com amplo domínio e direito a gol maradoniano de Maicon. Mas foi o jogo pela rodada final da competição que ficou para sempre.
Estranhamente não encontrei o vídeo na internet, talvez seja a memória seletiva do Youtube. Aos 32 minutos do primeiro tempo, De Vaca balançou as redes de Gomes, aproveitando cruzamento de Edgar Barreto, e abriu o placar para o Paraguai. O Brasil teve o resto do jogo para reagir, mas falhou. Resultado final: a Seleção Brasileira não se classificou para as Olimpíadas e Diego e Robinho foram questionados pela primeira vez.
Um zagueiro (Gamarra), um volante (Enciso) e um atacante (Cardozo) foram os escolhidos com mais de 23 anos para se juntar ao grupo treinado por Carlos Jara Saguier em Atenas. Outro atacante, Roque Santa Cruz, com exatos 23 anos, ganhava espaço no Bayern de Munique e também chegava com grande responsabilidade.
Logo de cara, o ataque mostrou serviço, em um emocionante 4 a 3 contra o Japão na estreia. O time ainda seria derrotado, diante de Gana, por 2 a 1, mas uma vitória por 1 a 0 sobre a Itália, com gol de Barreiro, classificou os sul-americanos como líderes do grupo.
Nas quartas, o Paraguai chegou a abrir 3 a 0 contra a Coreia do Sul, porém sofreu 2 gols em 5 minutos e passou aperto até o apito final. Pela semi, de novo a equipe abriu 3 a 0, contra o Iraque, e, desta vez, mesmo um gol sofrido no fim não foi suficiente para ameaçar a vaga na decisão. A primeira medalha olímpica da história paraguaia já estava garantida, só faltava definir a cor.
A final era contra o outro representante sul-americano no torneio, a Argentina de Carlitos Tévez, que já era o artilheiro do campeonato àquela altura, com 7 gols. Entre outros nomes ainda famosos, o time tinha Javier Saviola, D’Alessandro, Mascherano e Lucho González. No banco, “El Loco” Bielsa.
O dia era 28 de agosto, histórica data em que a Argentina venceu a Itália e conquistou o ouro olímpico no basquete masculino, entrando para um seleto grupo que até então tinha apenas os americanos (com 12 títulos), soviéticos (2) e iugoslavos (1). Os paraguaios eram fortes, mas os argentinos estavam em estado de graça.
De uniforme amarelo, o Paraguai caiu diante dos vizinhos. Tévez, logo aos 18 minutos de jogo, aproveitou bobeira da zaga para fazer o único gol do jogo. A seleção guarani lutou até o fim pelo empate e encerrou a campanha de cabeça erguida. No final, o mundo reconheceu a garra do pequeno país e não foram só Diego e Robinho que dançaram galopeira.
Amadou Dia Ba
Senegal
Prata no atletismo
“Un peuple, un but, une foi” (“um povo, uma meta, uma fé”) é o lema da nação senegalesa, terra do cantor pop Akon e de El Hadji Ousseynou Diouf, um dos grandes destaques da Copa de 2002. O que mais há de comum entre os dois? Ambos são grandes dançarinos.
A dança mais famosa da história senegalesa, porém, é a “ciranda” dos jogadores em volta de uma camisa após o improvável gol de Bouba Diop contra os franceses no primeiro jogo daquela Copa do Mundo de 2002. Lá se vão dez anos da grande façanha esportiva do país em sua história.
Nos Jogos Olímpicos não houve dança, mas Senegal já subiu ao pódio uma vez, se “intrometendo” em uma disputa americana. Nos 400m com barreiras do atletismo em Seul-1988, o bicampeão olímpico Edwin Moses foi derrotado pelo compatriota Andre Phillips pela única vez na carreira.
Para o mundo, a disputa se resumia aos dois atletas dos Estados Unidos, mas o senegalês Amadou Dia Ba, com uma arrancada no final, impediu a dobradinha do Tio Sam e ficou com a prata na prova.
Ismail Ahmed Ismail
Sudão
Prata no atletismo
Hoje o Sudão é dividido em dois países, fato que até já originou post neste blog. Em Pequim-2008, porém, Ismail Ahmed Ismail representava uma única nação, emocionada com a sua medalha de prata nos 800m, como pode ser notado nos gritos histéricos a partir de 1min59seg deste vídeo (interrompidos aos 2min46seg, quando as torcedoras percebem que o queniano Wilfred Bungei ficou com o ouro, por uma distância mínima. Desapontadas, elas chegam a recriminar que Ismail ajude Bungei a se levantar do chão aos 3min3seg).
Se a representatividade olímpica do país é pequena, sudaneses naturalizados dão alegrias para grandes potências. É o caso do Reino Unido, que, sem tradição no basquete, terá como grande esperança em Londres-2012 o ala Luol Deng, do Chicago Bulls. Já Lopez Lomong, com pouco mais de um ano de cidadania americana, foi porta-bandeira da delegação dos Estados Unidos em Pequim-2008 e hoje estrela um comercial patriótico pré-Jogos de Londres. A marca é a Tide (e o logo familiar não é à toa, trata-se do sabão em pó Ace brasileiro).
Benjamin Boukpeti
Togo
Bronze na canoagem
Parte da antiga região conhecida como Costa dos Escravos, de onde saiu grande parte da mão-de-obra africana escravizada no Brasil durante o período colonial, o Togo jamais teve grande tradição esportiva. Somente com o surgimento da geração do grandalhão Emmanuel Adebayor, a até então inexpressiva seleção de futebol local conseguiu se tornar participante frequente das Copas Africanas e jogar a Copa do Mundo de 2006. O sucesso foi tanto que a seleção nacional foi até falsificada.
Após a ascensão, o futebol togolês, porém, conheceu terríveis desastres, como o acidente de helicóptero que matou o ministro do Esporte e torcedores, em 2007, e o ataque ao ônibus da seleção, durante a preparação para a copa continental de 2010. O abatimento pelos incidentes coincidiu com o fim dos melhores resultados da equipe.
Apesar da monocultura futebolística, foi outro esporte que deu ao país a sua única medalha olímpica. De forma surpreendente, Benjamin Boukpeti, francês de nascimento e de criação, mas com raízes togolesas, conseguiu o bronze na categoria K1 da canoagem em Pequim-2008. Apesar da distância, Boukpeti se tornou um incontestável herói nacional.
Paea Wolfgramm
Tonga
Prata no boxe
Um dos países mais gordos do mundo, Tonga tem pouco mais de 100 mil habitantes, mas nunca permitiu que seu tamanho impedisse grandes ambições: trata-se da única nação do Oceano Pacífico que, mesmo na condição de protetorado britânico, manteve um rei de origem indígena e evitou a colonização formal, o que ajudou a cultivar o tongolês como língua viva e ainda hoje existente no território, a exemplo da família real.
É do povo tongolês a honra de ser o menor país (em território e população) a já ter conquistado uma medalha olímpica. Paea Wolfgramm, apelidado de “the Tongan Warrior” (o guerreiro tongolês), superou atletas de Belarus, Cuba e Nigéria antes de chegar à final dos pesos-pesados em Atlanta-1996, quando perdeu por 7 a 3 para o lendário ucraniano Wladimir Klitschko e ficou com a prata. No retorno ao país, foi decretado feriado em Tonga para recebê-lo com festa.
A medalha de ouro, que escapou das mãos tongolesas naquele dia, teve um destino grandioso, que poucas medalhas olímpicas já tiveram: após ser arrematada por 1 milhão de dólares em um leilão organizado por Klitschko para levantar fundos a instituições carentes, no último mês de março, ela foi devolvida ao campeão olímpico pelo comprador, que preferiu fazer sua boa ação sem se identificar.
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