Quando lançamos o Guia Improvável da Copa do Brasil no primeiro semestre, não imaginávamos que tanta gente se empolgaria em ler um guia cuja intenção era – como dito na ocasião – “fugir do óbvio e encontrar o que há de diferente” em um torneio amplamente divulgado na mídia tradicional. Diante do sucesso, resolvemos voltar nosso olhar improvável para outra competição que tem histórias alternativas, mas em âmbito internacional e, talvez, um pouco menos difundida por aqui: a Copa Sul-Americana.
Segundo torneio mais importante da América do Sul, a Sul-A (lê-se “sula”, como Sula Miranda, por exemplo) reúne 47 times divididos em inúmeras fases, algumas locais e outras regionais, mas todas proporcionando encontros inimagináveis. Fora fatos inusitados, como, por exemplo, o estádio onde o Itaguí Ditaires (hoje, Aguilas Doradas) recebeu o Coritiba em 2013. Vê-se na foto ao lado, que, ao fundo e aos lados, há uma série de quadras de futebol society. Com a derrota por 2-1, foi inevitável ouvir que talvez os melhores jogadores dali estivessem nas quadras e não no campo.
Por essas e outras que o Última Divisão escolheu repetir a fórmula do Guia Improvável™ com a Copa Sul-Americana. Portanto, aproveite a navegação improvável para descobrir histórias e saber um pouco mais de cada um dos times que disputam a edição deste ano. E se gostar, não deixe de compartilhar com os amigos nas redes sociais, ok? Boa leitura e divirta-se!
ÍNDICE
- TODOS PELA SURUGA [abertura]
- COMO ESTES TIMES CHEGARAM AQUI? [critérios de classificação pouco ortodoxos dos países que disputam o torneio]
- A PRIMEIRA VEZ (CONTINENTAL) A GENTE NUNCA ESQUECE [quem são os oito times que jogam o torneio pela primeira vez?]
- O LADO B DA AMÉRICA – OS ANTECESSORES DA COPA SUL-AMERICANA [um pouco da história dos torneios continentais pré-Sul-A]
- 9 ZEBRAS QUE JÁ DEIXARAM A SUL-AMERICANA MAIS DIVERTIDA [times que foram além das expectativas e fizeram nossa alegria]
- CIENCIANO: DO OSTRACISMO À GLÓRIA (E DE VOLTA AO OSTRACISMO) [lembra deles?]
- RELEMBRE ILUSTRES JOGADORES “AQUELE” QUE ESTARÃO NA SUL-AMERICANA [tem Loco Abreu, Dani Guiza e muito mais]
- VOCÊ É CAPAZ DE ADIVINHAR DE QUEM SÃO ESTES APELIDOS CURIOSOS? [nosso já tradicional jogo de esconde com os apelidos dos times]
- DE DENTRO PARA FORA: OS EX-JOGADORES QUE AGORA ESTÃO NO COMANDO [lembramos os técnicos que sabem chutar uma bola]
- BRASILEIROS REFORÇADOS CONTRA O BAIXO ASTRAL [um pouco sobre os representantes nacionais]
PEQUENAS FICHAS DOS CLUBES
AGUILAS DORADAS
SEDE: Pereira, Colômbia
APELIDO: Las Águilas Doradas
TÍTULO: Segunda Divisão (1)
MELHOR SUL-A: 4as (2013)
Club ALIANZA LIMA
SEDE: Lima, Peru
APELIDOS: Blanquiazules, Grones, Íntimos, El Equipo del Pueblo, Grones, El Rodillo Negro, Victorianos
TÍTULOS: Primeira Divisão (22)
MELHOR SUL-A: 4as (2002)
Club ATLÉTICO NACIONAL S.A.
SEDE: Medellín, Colômbia
APELIDO: Los Verdolagas
TÍTULOS: Copa Libertadores (1), Copa Merconorte (2), Primeira Divisão (13)
MELHOR SUL-A: Vice (2002)
Esporte Clube BAHIA
SEDE: Salvador, Brasil
APELIDOS: Esquadrão de Aço, Baêa
TÍTULOS: Primeira Divisão (2)
MELHOR SUL-A: Segunda fase (2012)
BARCELONA Sporting Club
SEDE: Guayaquil, Equador
APELIDO: Ídolo, Canários, Toreros
TÍTULOS: Primeira Divisão (14)
MELHOR SUL-A: 8as (2012)
Club Atletico BOCA JUNIORS
SEDE: Buenos Aires, Argentina
APELIDO: Xeneizes
TÍTULOS: Mundial (3), Copa Libertadores (6), Copa Sul-Americana (2), Primeira Divisão (24)
MELHOR SUL-A: Campeão (2004 e 2005)
CARACAS Fútbol Club
SEDE: Caracas, Venezuela
APELIDO: Los Demonios Rojos, El Rojo
TÍTULOS: Primeira Divisão (11)
MELHOR SUL-A: Segunda fase (2010)
Club CERRO PORTEÑO
SEDE: Assunção, Paraguai
APELIDO: El Club del Pueblo, La Mitad Más Uno, Ciclón de Barrio Obrero
TÍTULOS: Primeira Divisão (30)
MELHOR SUL-A: Terceiro (2009)
Universidad CESAR VALLEJO Club de Fútbol
SEDE: Trujillo, Peru
APELIDO: UCV
TÍTULOS: Segunda Divisão (2007)
MELHOR SUL-A: Primeira fase (2010 e 2011)
Club de Deportes COBRESAL
SEDE: El Salvador, Chile
APELIDO: Mineros
TÍTULOS: Copa Chile (1987)
MELHOR SUL-A: Nunca jogou
CRICIÚMA Esporte Clube
SEDE: Criciúma, Brasil
APELIDO: Tigre
TÍTULOS: Copa do Brasil (1991)
MELHOR SUL-A: Segunda fase (2013)
DANUBIO Fútbol Club
SEDE: Montevidéu, Uruguai
APELIDO: La Franja, El Danu, Los de la Curva
TÍTULOS: Primeira Divisão (4)
MELHOR SUL-A: 8as (2002)
Club DEPORTES IQUIQUE
SEDE: Iquique, Chile
APELIDO: Dragones Celestes
TÍTULOS: Copa Chile (3)
MELHOR SUL-A: Segunda fase (2011)
DEPORTIVO ANZOATÉGUI Sport Club
SEDE: Puerto La Cruz, Venezuela
APELIDO: Dépor
TÍTULOS: Primeira Divisão (1)
MELHOR SUL-A: Segunda fase (2011)
Associación DEPORTIVO CALI
SEDE: Cali, Colômbia
APELIDO: La Amenaza Verde, Los Azucareros, Los Verdiblancos
TÍTULOS: Primeira Divisão (8)
MELHOR SUL-A: Primeira fase (2005, 2008, 2009, 2011)
Club DEPORTIVO CAPIATÁ
SEDE: Capiatá, Paraguai
APELIDO: Los Escoberos, Capiateños, Auriazules
TÍTULOS: Nenhum
MELHOR SUL-A: Nunca jogou
DEPORTIVO LA GUAÍRA
SEDE: La Guaíra, Venezuela
APELIDO: Equipo de La Costa
TÍTULOS: Nenhum
MELHOR SUL-A: Nunca jogou
Club Sport EMELEC
SEDE: Guayaquil, Equador
APELIDO: Bombillo e os Elétricos
TÍTULOS: Primeira Divisão (11)
MELHOR SUL-A: 8as (2012)
Club ESTUDIANTES LA PLATA
SEDE: Ciudad de La Plata, Argentina
APELIDO: Pinchas
TÍTULOS: Mundial (1) Copa Libertadores (4), Primeira Divisão (5)
MELHOR SUL-A: Vice (2008)
FLUMINENSE Football Club
SEDE: Rio de Janeiro, Brasil
APELIDO: Tricolor
TÍTULOS: Primeira Divisão (4), Copa Rio (1)
MELHOR SUL-A: Vice (2009)
Club GENERAL DIAZ
SEDE: Luque, Paraguai
APELIDO: Águilas de Luque, Pajaros Blancos
TÍTULOS: Segunda Divisão (1)
MELHOR SUL-A: Nunca jogou
Club de GIMNASIA Y ESGRIMA
SEDE: La Plata, Argentina
APELIDO: El Lobo, Mens Sana, Los Triperos, Basurero
TÍTULOS: Argentino – Era Amadora (1 – 1929)
MELHOR SUL-A: 4as (2002 e 2006)
Club Deportivo GODOY CRUZ Antonio Tomba
SEDE: Godoy Cruz, Argentina
APELIDO: Tromba, Los Tromberos, El Bodeguero, El Expresso
TÍTULOS: Segunda Divisão (2005)
MELHOR SUL-A: 8as (2011)
GOIÁS Esporte Clube
SEDE: Goiânia, Brasil
APELIDO: Esmeraldino
TÍTULOS: Segunda Divisão (2)
MELHOR SUL-A: Vice (2010)
Club Deportivo HUACHIPATO
SEDE: Talcahuano, Chile
APELIDO: Los Acereros, Siderúrgicos, Los de la Usina
TÍTULOS: Primeira Divisão (2)
MELHOR SUL-A: Primeira fase (2006)
Club de Alto Rendimiento Especializado INDEPENDIENTE DEL VALLE
SEDE: Sangolquí, Equador
APELIDO: Negriazules, Rayados
TÍTULOS: Segunda Divisão (1)
MELHOR SUL-A: Segunda fase (2013)
Sport Club INTERNACIONAL
SEDE: Porto Alegre, Brasil
APELIDO: Colorado, Saci
TÍTULOS: Mundial (1), Copa Libertadores (2), Copa Sul-Americana (1), Primeira Divisão (3), Copa do Brasil (1)
MELHOR SUL-A: Campeão (2008)
Club INTI GAS Deportes
SEDE: Huamaga, Peru
APELIDO: Los Ñes, El Inti, Los Gasiferos, Los Gaseros, La Força de los Andes, El Equipo Libertador
TÍTULOS: Não tem
MELHOR SUL-A: Primeira fase (2012 e 2013)
Club JORGE WILSTERMANN
SEDE: Cochabamba, Bolívia
APELIDO: El Equipo Aviador
TÍTULOS: Primeira Divisão (11)
MELHOR SUL-A: Primeira fase (2007)
Club Atletico LANÚS
SEDE: Buenos Aires, Argentina
APELIDO: Granate
TÍTULOS: Copa Sul-Americana (1), Copa Conmebol (1), Primeira Divisão (1)
MELHOR SUL-A: Campeão (2013)
Club LIBERTAD
SEDE: Assunción, Paraguai
APELIDO: Albinegro, Gumarelo
TÍTULOS: Primeira Divisão (17)
MELHOR SUL-A: Terceiro lugar (2013)
MILLONARIOS Fútbol Club
SEDE: Bogotá, Colômbia
APELIDO: Millos, Los Embajadores, El Ballet Azul, El Más Veces Campeón, Los Azules
TÍTULOS: Primeira Divisão (14), Copa Merconorte (1)
MELHOR SUL-A: Semifinal (2007 e 2013)
Club Atletico NACIONAL POTOSÍ
SEDE: San Juan de Potosí, Bolívia
APELIDO: Equipo del Pueblo
TÍTULOS: Segunda Divisão (1)
MELHOR SUL-A: Nunca jogou
Club Atletico PEÑAROL
SEDE: Montevidéu, Uruguai
APELIDO: Manya, Aurinegros, Carboneros, Mirasoles
TÍTULOS: Mundial (3), Copa Libertadores (5), Primeira Divisão (49)
MELHOR SUL-A: 8as (2004 e 2010)
Club Atletico RENTISTAS
SEDE: Montevidéu, Uruguai
APELIDO: Bichos colorados, Bicheros, El Bicho, El Renta, El Rojo
TÍTULOS: Segunda Divisão (4)
MELHOR SUL-A: Nunca jogou
Club Atletico RIVER PLATE
SEDE: Buenos Aires, Argentina
APELIDO: Millonarios
TÍTULOS: Mundial (1), Copa Libertadores (2), Primeira Divisão (35)
MELHOR SUL-A: Vice (2003)
Club Atletico RIVER PLATE
SEDE: Montevidéu, Uruguai
APELIDO: Darseneros, La Dársena
TÍTULOS: Segunda Divisão (6)
MELHOR SUL-A: Semifinal (2009)
Club Atletico ROSÁRIO CENTRAL
SEDE: Rosario, Argentina
APELIDO: Los Canallas
TÍTULOS: Copa Conmebol (1), Primeira Divisão (4)
MELHOR SUL-A: 8as (2005)
Club Deportivo SAN JOSÉ de Oruro
SEDE: Oruro, Bolívia
APELIDO: Los Santos
TÍTULOS: Primeira Divisão (2)
MELHOR SUL-A: 8as (2010)
SÃO PAULO Futebol Clube
SEDE: São Paulo, Brasil
APELIDO: Tricolor
TÍTULOS: Mundial (3), Copa Libertadores (3), Copa Sul-Americana (1), Copa Conmebol (1), Primeira Divisão (6)
MELHOR SUL-A: Campeão (2012)
SPORT Club do Recife
SEDE: Recife, Brasil
APELIDO: Leão da Ilha do Retiro, Leão do Norte, Rubro-Negro
TÍTULOS: Primeira Divisão (1), Copa do Brasil (1)
MELHOR SUL-A: Segunda fase (2013)
TRUJILLANOS Fútbol Club
SEDE: Valera, Venezuela
APELIDO: Los Guerreros de la Montaña
TÍTULOS: Não tem
MELHOR SUL-A: Segunda fase (2005)
Club Deportivo UNIVERSIDAD CATÓLICA
SEDE: Santiago, Chile
APELIDO: UC, Católica
TÍTULOS: Primeira Divisão (10)
MELHOR SUL-A: Semifinal (2005 e 2012)
Club Deportivo de la UNIVERSIDAD CATÓLICA
SEDE: Quito, Equador
APELIDO: Camarattas, Celestes
TÍTULOS: Segunda Divisão (3)
MELHOR SUL-A: Nunca jogou
Club Cultural y Deportivo UNIVERSIDAD TÉCNICA DE CAJAMARCA
SEDE: Cajamarca, Peru
APELIDO: UTC, El Gavillán del Norte
TÍTULOS: Não tem
MELHOR SUL-A: Nunca jogou
Club Deportivo UNIVERSITÁRIO San Francisco Xavier
SEDE: Sucre, Bolívia
APELIDO: Los Doctos
TÍTULOS: Primeira Divisão (2)
MELHOR SUL-A: 8as (2010)
Esporte Clube VITÓRIA
SEDE: Salvador, Brasil
APELIDO: Leão da Barra, Rubro-Negro
TÍTULOS: Não tem
MELHOR SUL-A: 8as (2009)
Todos pela Suruga
Julio Simões
Sejamos sinceros: times que disputam a Copa Sul-Americana sem sonhar com a Copa Suruga estão completamente equivocados. Afinal, a maioria dos times classificados para o torneio tem pouquíssimas chances de vencer uma Copa Libertadores e por isso dificilmente conseguiriam disputar um Mundial de Clubes no Japão (ou Marrocos, como tem sido mais recentemente). Com a Suruga, tem a chance de viver a emoção de disputar um título do outro lado do mundo. Ok, não é a mesma coisa, mas quem se importa? Título é título e todo mundo gosta!
Mas há um outro motivo além dos já ditos: a Suruga está há anos dominada pelos japoneses – e por isso vale relembrar a história de sua criação. Tudo começou em dezembro de 2007, quando a Japan Football Association e a Conmebol anunciaram a criação de um novo torneio que colocaria frente a frente os campeões da Copa da Liga Japonesa (J-League) e da Copa Sul-Americana, uma espécie de Copa Intercontinental (a avó do Mundial de Clubes da Fifa) alternativa.
Desde então, todo ano o vencedor do segundo torneio continental da América atravessa o mundo para disputar este título improvável e, ultimamente, só tem assistido visto a comemoração japonesa. Em cinco das oito edições disputadas (mais especificamente as últimas cinco), o time do Japão saiu campeão. Em 2010, o FC Tokyo bateu a LDU Quito. Em 2011, o Júbilo Iwata venceu o Independiente-ARG nos pênaltis, mesma situação da vitória do Kashima Antlers sobre o Universidad do Chile-CHI em 2012. O mesmo Kashima Antlers tornou-se o primeiro bicampeão do torneio em 2013, ao vencer o São Paulo. Já neste ano, foi a vez do Kashiwa Reysol faturar o caneco, após derrotar o Lanús.
Por isso, fica a dúvida: e no ano que vem? Será que os sul-americanos quebrarão a sequência? Será que a força do futebol latino irá superar o jogo organizado dos orientais? Isso só o tempo dirá. O que temos certeza agora é que esta é mais uma motivação para jogar a Sul-Americana. E sejamos sinceros: o time que não joga a Sul-Americana de olho na Suruga está completamente equivocado.
Como estes times chegaram aqui?
Julio Simões
Por incrível que pareça, não é só no Brasil que a classificação para a Copa Sul-Americana é confusa, envolvendo times de posições medianas ou torneios de existência duvidosa. Em muitos países, o quinto colocado de uma copa fajuta, criada apenas para dar uma vaga no torneio continental, pode, enfim, realizar o sonho de jogar além de suas fronteiras. Lá, como cá, o sistema de classificação não é necessariamente justo.
No Uruguai, por exemplo, se classificaram o terceiro, o quinto e o sexto lugares, além do campeão nacional (que, nesta temporada, terminou em quarto lugar geral – ?!?). Não há uma forma fácil de explicar, mas digamos que River Plate, Peñarol e Rentistas conquistaram a vaga porque foram os melhores colocados gerais à exceção do primeiro e do segundo lugares na tabela geral, que, como o campeão, jogaram a Copa Libertadores. Será que não poderia ser mais simples?
Outro caso estranho é o do Equador. Lá, tudo parecia ser simples: o primeiro e segundo colocados garantem uma vaga tanto na Copa Libertadores quanto na Sul-Americana, enquanto o restante fica com o consolo de jogar apenas a Sul-Americana. Porém, inexplicavelmente, o terceiro colocado ganha uma vaga na fase eliminatória da Libertadores, mas não na Sul-Americana, cujas vagas acabam ficando para o quinto e sexto colocados. Vai entender…
Já alguns países lançam mão das famigeradas copas nacionais para compor sua cota no torneio sul-americano. No caso venezuelano, classificam-se o campeão da Copa, além do quinto colocado na tabela final do torneio nacional e os dois melhores de um torneio pré-Sul-Americana, com times que terminarem nas posições intermediárias do campeonato nacional.
No Chile, o vencedor e o vice da Copa Chile se classificam, além do melhor colocado na tabela acumulada 2013/14 (algo muito comum em países latinos, e que não significa, necessariamente, a classificação final de um torneio). O curioso neste caso é a quarta vaga, que ficou com o vencedor da Liguilla, um torneio rápido de quatro equipes medianas, em que o primeiro lugar – neste ano, o Cobresal – precisou de apenas quatro jogos para ter o direito de sonhar com uma conquista continental. Melhor para nós, que gostamos dos alternativos, né?
Na Colômbia, além dos campeões da copa nacional e da superliga do país (vencedor da partida entre o campeão do Apertura e do Finalización), também se classificam o quarto e quinto melhores colocados da Reclassificación, tabela que contabiliza todos os jogos das equipes no ano e serve para dividir as vagas entre os times do país. Um pouco mais justo, não?
Aliás, falando nisso, dois países tem fórmulas de classificação simples e justas. No Paraguai, classificam-se para a Copa Sul-Americana o quarto, quinto e sexto melhores colocados do torneio nacional. No Peru, vão o quarto, quinto, sexto e sétimo mais bem posicionados na tabela acumulada. A Argentina e a Bolívia também mandam os melhores classificados na tabela final, a exceção dos times que se classificam para a Copa Libertadores.
Porém, de todos os 10 países participantes, apenas um condicionou a classificação de seus times a uma eliminação em torneio nacional: o Brasil.
A primeira vez (continental) a gente nunca esquece
Carol Canossa
Se no caso dos grandes clubes do continente a Sul-Americana 2014 não passa de um torneio continental “de consolação” e/ou um atalho para a Libertadores, para cinco times ela é um grande passo na história. Afinal, o torneio marcará a primeira grande competição internacional de Deportivo Capiatá, General Díaz (ambos do Paraguai), Deportivo La Guaira (Venezuela), Nacional Potosí (Bolívia) e Rentistas (Uruguai).
Em um ano em que a final da cobiçada Libertadores teve o alternativo confronto entre San Lorenzo e Nacional-PAR como final, por que eles não podem sonhar em ir longe na Sul-Americana? A chegada destas equipes às últimas fases é, de fato, improvável, mas o potencial de surpresa do futebol jamais deve ser subestimado, ainda que estes times jamais tenham conquistado sequer um título de primeira divisão em seus respectivos países.
Será que General Díaz e Deportivo Capiatá repetirão a saga de seus compatriotas do Nacional? Promovidos à elite do futebol paraguaio em 2012, os times guardam histórias bem diferentes: enquanto o primeiro possui origens militares e existe desde 1917, o segundo surgiu após a união de clubes regionais e completará em setembro seu sexto ano de vida. Os sonhos, porém, são iguais e começam respectivamente contra o humilde Cobresal (Chile) e o Danubio, atual campeão uruguaio.
Falando em Uruguai, os bicampeões do mundo também contam com seu time alternativo. Trata-se dos Rentistas, clube que há alguns anos ganhou as manchetes esportivas por ter servido de ponte para negociações de atletas empresariados por Juan Figger, caso de Hulk e Walter – o detalhe é que nenhum dos dois jamais jogou lá. A meta agora é se destacar em campo, mas para isso a pequena equipe conhecida como “bichos colorados” precisará suar muito: de cara, eles terão pela frente o Cerro Porteño, campeão paraguaio. Caso avancem e cheguem às oitavas, outra pedreira virá pela frente: o Lanús, atual defensor do título da Sul-Americana.
Se não bastassem por si só as dificuldades contra rivais maiores, os próprios estreantes podem duelar entre si. Em caso de vitória do General Díaz, o clube paraguaio fará um mata-mata contra o melhor do embate entre Atlético Nacional (Colômbia) e Deportivo La Guaira. Fundado em 2008, o clube venezuelano é, na verdade, um grande celeiro de craques, pois foca seu trabalho nas categorias de base. Os resultados estão vindo pouco a pouco, como os dois títulos nacionais sub-20 e a classificação para a disputa continental. Paraguaios ou venezuelanos? Infelizmente, só um dos dois chegará entre os 32 melhores (se chegar, é claro).
Por fim, saiba que você não estará louco caso veja o River Plate enfrentando a si próprio nesta Sul-americana: isso porque o Nacional Potosí, da Bolívia, se inspira tanto no tradicional time argentino que copiou logo, cores e design dos uniformes. Curiosamente, o confronto tem boas chances de acontecer já nas oitavas de final, bastando às duas equipes vencerem seus confrontos iniciais. Por enquanto, a única certeza é que não vão faltar boas histórias dos estreantes da Sul-americana. Resta saber o quão longas elas serão.
“Virgens”, pero no mucho – Além dos cinco times já lembrados, a Copa Sul-Americana 2014 tem mais três equipes que disputarão o torneio pela primeira vez: Cobresal (Chile), Universidad Técnica de Cajamarca (Peru) e Universidad Católica (Equador). Porém, diferentemente dos outros, os três já estrearam em competições continentais – ainda que pouca gente se recorde disso.
Em 1986, Cobresal e Cajamarca disputaram a Copa Libertadores, mas não passaram sequer da primeira fase. O primeiro ficou em penúltimo do grupo, mas deixou o torneio invicto – ok, foram cinco empates e apenas uma vitória, mas isso já foi suficiente para colocá-los como os únicos invictos da história do torneio (!!!). Já o segundo terminou em último da chave, com uma vitória, um empate e quatro derrotas. Já o Universidad Católica de Quito acumula duas experiências na Libertadores, em 1974 e 1980, onde também fracassou na primeira fase.
O lado B da América – Os antecessores da Copa Sul-Americana
Diego Freire
Chegando à sua 13ª edição, a Copa Sul-Americana está longe de ter no seu continente o mesmo prestígio que a Liga Europa possui na Europa. Porém, nem por isso o torneio deve deixar de comemorar um feito importante: mesmo com o descaso que muitas vezes recebe, essa já é a “competição secundária” mais duradoura da América do Sul.
A Libertadores e a Liga dos Campeões da Europa surgiram quase ao mesmo tempo, no fim da década de 50, mas os europeus desenvolveram torneios continentais de segundo escalão muito antes. Sem organização da UEFA, naquela época já se jogava a Taça das Cidades com Feiras, entre clubes de cidades que (dããã!) sediavam feiras de comércio. Paralelamente, nos anos 60 surgiu a Copa Intertoto, que não tinha um único campeão por edição, mas ocupava o calendário ocioso de vários clubes e alimentavam apostas de loterias. Data do mesmo período, ainda, a Recopa Europeia, que reunia campeões das copas nacionais, e, uma década depois, surgiu a Supercopa da UEFA, que abre todas as temporadas de futebol desde 1971.
Apenas em 1988 a Conmebol passou a organizar com constância torneios secundários de clubes. Desde então, muitas fórmulas e nomes foram experimentados. Conheça um pouco das antecessoras da Copa Sul-Americana.
RECOPA SUL-AMERICANA DE CLUBES
QUANDO: 1970 e 1971 (duas edições)
MAIORES CAMPEÕES: América de Quito-EQU e Mariscal-BOL – 1 título cada
PAÍSES COM MAIS TÍTULOS: Equador e Bolívia – 1 cada
Criada para ser disputada pelos terceiros colocados de cada país, o torneio desde o início foi boicotado por diferentes confederações, inclusive pela brasileira, que nunca enviou representantes. Consagrou a única equipe boliviana campeã continental, feito do Mariscal pouco comentado nos dias de hoje.
SUPERCOPA SUL-AMERICANA
QUANDO: de 1988 a 1997 (10 edições)
MAIORES CAMPEÕES: Cruzeiro e Independiente – 2 títulos cada
PAÍS COM MAIS TÍTULOS: Argentina (6)
O critério para classificação era simples: participavam da Supercopa todos os clubes que já haviam sido campeões da Libertadores (e, a partir de 1996, também o Vasco, com o reconhecimento do título do Campeonato Sul-Americano de Campeões realizado em 1948). O grande problema era organizar um regulamento, já que a competição era suscetível a alterações no número de participantes a cada ano.
Começou com 13 times e formato de mata-mata em 1988, mas, na última edição, já contava com 17 clubes e precisou da criação de uma primeira fase dividida em grupos. Foi o primeiro torneio continental a contar com finais entre clubes do mesmo país (e o único a ter decisões do tipo sem a participação de brasileiros): por duas vezes, Independiente e Boca se enfrentaram em “finais argentinas”, com um título para cada lado. Foi encerrada para dar lugar à Copa Mercosul.
COPA OURO NICOLÁS LEOZ
QUANDO: 1993, 1995 e 1996 três edições
MAIORES CAMPEÕES: Boca Juniors, Cruzeiro e Flamengo – 1 título cada
PAÍS COM MAIS TÍTULOS: Brasil (2)
A competição surgiu com a ideia de decidir quem era o melhor entre os campeões da Copa Conmebol, Copa Master da Supercopa, Supercopa Sul-Americana e Libertadores. No entanto, apenas na primeira edição obteve êxito em reunir todos os participantes desejados, quando as semifinais tiveram o Boca eliminando o São Paulo e o Atlético-MG derrotando o Cruzeiro em clássico regional. Na final, o time de La Bombonera superou o Galo.
Já em 1994, quando deveria ser disputada sua segunda edição, a competição não foi realizada para não conflitar com a Copa do Mundo. Em 1995, Independiente e Vélez boicotaram a disputa, que se reduziu a dois jogos entre São Paulo e Cruzeiro, com resultado melhor para os mineiros. Por falta de datas, os confrontos entre o Tricolor e a Raposa também contaram para a Supercopa do mesmo ano, em uma dessas bizarrices que só a Conmebol é capaz de proporcionar.
Para facilitar a organização do torneio de 1996, todas as partidas passaram a ser disputadas em uma só cidade-sede, que, no caso, foi Manaus. A capital amazonense se mobilizou para receber grandes equipes do continente, mas o campeonato já estava fadado ao fim, com clara desmoralização, simbolizada por um novo boicote do Independiente. Na última decisão, o Flamengo fez 3 a 1 no São Paulo, que se despediu como bi-vice.
COPA MASTER DA SUPERCOPA
QUANDO: 1992 e 1995 (duas edições)
MAIORES CAMPEÕES: Boca e Cruzeiro – 1 título cada
PAÍSES COM MAIS TÍTULOS: Brasil e Argentina – 1 título cada
A Supercopa já era um torneio disputado apenas entre campeões da Libertadores. Em dois anos com brechas (ou não) do calendário, a Conmebol resolveu realizar disputas entre os campeões da Supercopa. Nascia a Copa Master da Conmebol, que teve duas edições.
Na primeira, realizada em três dias no estádio do Velez Sarsfield (mas sem a participação do próprio), o Boca superou Olimpia, Cruzeiro e Racing. Em 1995, Racing, Boca e São Paulo desistiram do campeonato, que teve jogos de ida e volta entre Cruzeiro e Olimpia. Os mineiros se sagraram campeões no Mineirão com um time misto, que contava com o goleiro camaronês William Andem, reserva da seleção africana na Copa de 1998.
COPA MASTER DA CONMEBOL
QUANDO: 1996 (uma edição)
MAIOR CAMPEÃO: São Paulo (1)
PAÍS COM MAIS TÍTULOS: Brasil (1)
A Copa Master da Supercopa já estava extinta, mas ainda houve quem gostasse da ideia e, em 1996, foi criada uma nova “Copa Master”, dessa vez reunindo todos os campeões da história da Copa Conmebol até então. Pelo menos não faltou emoção no torneio, todo jogado em Cuiabá: na semifinais, um inacreditável São Paulo 7×3 Botafogo e uma disputa de pênaltis vencida por 10 a 9 pelo Atlético-MG após empate por zero a zero com o Rosario Central, em revanche da final da Conmebol de 1995. Na decisão, o São Paulo não deu chances para os mineiros, com vitória por 3 a 0.
COPA CONMEBOL
QUANDO: de 1992 a 1999 (oito edições)
MAIOR CAMPEÃO: Atlético-MG (2)
PAÍS COM MAIS TÍTULOS: Brasil (5)
Dentre todos os torneios precursores, a Copa Conmebol foi a que mais se assemelhou com a atual Sul-Americana. Inspirada na Copa da UEFA, teve o intuito inicial de reunir os clubes mais bem colocados não qualificados para a Libertadores em cada país. Na primeira edição, em 1992, o critério foi cumprido à risca, com exceção do desistente Boca. Pelo Brasil, jogaram Bragantino (vice do Brasileiro-91), Atlético-MG (3º no Brasileiro-91), Fluminense (4º no Brasileiro-91) e Grêmio (vice da Copa do Brasil-91). Melhor para o Galo, que superou o paraguaio Olimpia na decisão e levantou sua primeira taça internacional em um Mineirão lotado.
A edição seguinte, vencida pelo Botafogo, não teve desistências e parecia consolidar a importância do torneio, apesar de alguns times escalarem times reservas nas fases iniciais. Em 1994, o primeiro sinal de decadência: o São Paulo foi campeão com o time que ficou conhecido como “Expressinho”, formado majoritariamente por juniores (embora de futuro promissor, como Rogério Ceni, Juninho Paulista, Caio e Denilson) e até com um “técnico reserva”, o jovem Muricy Ramalho.
Em 1995, o Brasil seguiu indicando seus melhores times ausentes da Libertadores, mas a Argentina foi um dos países a selecionarem clubes piores colocados, como o caso do Rosario Central, então 6º do Nacional, que viria a se sagrar campeão nos pênaltis após devolver derrota por 4 a 0 sofrida contra o Atlético-MG na partida de ida, a maior virada até hoje na história das finais sul-americanas.
No ano de 1996, pela primeira vez o Brasil contou com desistências e não teve equipes na final, que terminou com vitória do Lanús contra o Independiente Santa Fé. O Atlético-MG foi bi no ano seguinte, em um torneio já bastante enfraquecido. Com a recusa dos principais clubes, a CBF pela primeira vez levou ao torneio alguns campeões de Copas Regionais, no caso Rio Branco (Copa Norte) e Vitória (Copa do Nordeste). Cada país encarava a competição de uma forma: enquanto o campeão colombiano jogava, Chile, Equador e Paraguai não obedeciam a qualquer critério técnico e simplesmente convidavam times interessados.
A edição de 1998 foi a primeira sem nenhum campeão nacional. Pelo Brasil, jogaram América-RN, Atlético-MG, Sampaio Corrêa e Santos. Os dois últimos disputaram uma histórica semifinal, que registrou o maior público da história do Estádio Castelão, em São Luís. Na final, o Peixe fez emocionantes jogos com o Rosario Central, e a torcida alvinegra comemorou um título em tempos de vacas magras. Porém, apesar de ainda fazer torcidas felizes, a Conmebol caminhava para o fim.
Em sua despedida, o campeonato foi disputado praticamente apenas por clubes médios ou pequenos. Dentre São Raimundo-AM, Paraná e Vila Nova, o CSA foi o representante brasileiro que foi mais longe, perdendo a final para o Talleres da Argentina, apesar da empolgação por ter vencido a ida por 4 a 2. Já não havia mais forças para disputar popularidade com as Copas Mercosul e Merconorte.
MERCOSUL E MERCONORTE
QUANDO: 1998 a 2001
MAIORES CAMPEÕES: Merconorte (Atlético Nacional -2); Mercosul (Palmeiras, Flamengo, Vasco e San Lorenzo – 1)
PAÍSES COM MAIS TÍTULOS: Merconorte (Colômbia – 4); Mercosul (Brasil – 3)
Com o enfraquecimento da Copa Conmebol, passou a se estudar a criação de um torneio que reunisse apenas os clubes mais fortes do continente, nos moldes da antiga Supercopa. A empresa de marketing esportivo Traffic, com o apoio das confederações, criou em 1998 a Copa Mercosul, com times convidados de Brasil, Argentina, Paraguai, Uruguai e Chile. No mesmo ano, clubes dos demais países organizaram a Merconorte. No Cone Sul, as três primeiras decisões foram 100% brasileiras, consagrando Palmeiras, Flamengo e Vasco – o último com uma inesquecível virada na final. No Norte, os colombianos dominaram completamente todas as edições, sem que nenhum outro país chegasse à final.
Ambas se encerraram em 2001, já com dificuldades de patrocínio. No Brasil, a Mercosul, transmitida pelo SBT no primeiro ano e depois pela Bandeirantes, era ignorada nos noticiários da TV Globo, fator que certamente a enfraqueceu. Na Merconorte, foram realizadas algumas das primeiras experiências em incluir equipes da CONCACAF em torneios sul-americanos, com participações de equipes de México, Estados Unidos e Costa Rica nas últimas edições. Em 2002 surgiu a Sul-Americana, unificando as duas Copas e voltando a adotar critérios técnicos para definir participantes, mas sem a participação dos brasileiros no primeiro ano.
RECOPA SUL-AMERICANA
QUANDO: desde 1989 (sem disputa entre 1999 e 2002) até hoje
MAIOR CAMPEÃO: Boca (4 títulos)
PAÍS COM MAIS TÍTULOS: Brasil (9)
Sempre disputada entre duas equipes, mas com variedade de sedes (que incluíram diferentes cidades dos EUA e Japão), a Recopa confrontou campeões da Libertadores com vários dos diferentes torneios secundários do continente listados aqui. Em 1991, quando o Olimpia venceu a Libertadores e a Supercopa no mesmo ano, foi sagrado campeão da Recopa automaticamente. Porém, em 1992, quando alcançou o mesmo feito, o São Paulo teve que enfrentar o Botafogo, então campeão da Conmebol, para levantar o torneio. Em 22 edições, por oito vezes o campeão da Libertadores foi derrotado.
9 zebras que já deixaram a Sul-Americana mais divertida
Allan Brito
Se você gosta de ver zebras no futebol, assim como nós, deve ter um prato cheio de diversão na Copa Sul-Americana. Como alguns times grandes colocam a competição em segundo plano, os pequenos sonham com o primeiro título internacional e conseguem ir longe. Poucos chegaram ao título, mas já virou rotineiro encontrar zebras nas semifinais e finais. Listamos nove, e o décimo posto ficará para a zebra de 2014. Relembre as principais surpresas até agora:
9º – Argentinos Juniors (2008)
É um time importante na Argentina, mas há décadas não é competitivo internacionalmente. Mesmo assim conseguiu surpreender, principalmente por eliminar o Palmeiras nas quartas de final, vencendo os dois jogos. Mas foi eliminado na semifinal pelo Estudiantes
8º – River Plate-URU (2009)
A eliminação mostra como foi surpreendente ver o time uruguaio ir longe: diante da LDU, em plena semifinal, o River foi goleado por 7 a 0! Antes tinha batido Blooming-BOL, Vitória e suado muito para vencer o San Lorenzo nos pênaltis. Até bateu a LDU no primeiro jogo, em casa, mas depois veio o vexame em Quito.
7º – Goiás (2010)
O regulamento e os cruzamentos ajudaram o Goiás naquele ano, mas isso não tira o mérito do time esmeraldino. Mesmo depois de superar a fase nacional, em que eliminou o Grêmio, o Goiás ainda enfrentou mais dois times brasileiros, Avaí e Palmeiras. Avançou e na final enfim pegou uma equipe argentina, mas perdeu para o Independiente nos pênaltis.
6º – Bolívar (2004)
O principal time boliviano já tinha sido semifinalista na primeira Sul-Americana da história, em 2002, mas se superou dois anos depois. Após eliminar a LDU na semifinal, chegou a vencer o primeiro jogo contra o Boca Juniors na altitude, mas perdeu o título depois.
5º – Tigre (2012)
Surpreendeu por ir até a final, mas não enfrentou nenhum “bicho-papão” no caminho. Bateu Argentinos Juniors, Deportivo Quito, Cerro Porteño e Millionarios, equipes tradicionais, mas que não têm feito grandes campanhas internacionais recentemente. Na final enfrentou o São Paulo, fez um papelão e nem disputou o segundo tempo da decisão no Morumbi.
4º – Pumas (2005)
Faz parte das bizarrices folclóricas da competição. Afinal, um time mexicano jamais deveria disputar uma competição sul-americana. Mas o Pumas entrou como convidado em 2005 e, mesmo sendo pouco conhecido internacionalmente – o último título continental dele foi em 1989 -, surpreendeu. Os mexicanos eliminaram Corinthians e Vélez Sarsfield no caminho, mas perderam para o Boca Juniors na final.
3º – Ponte Preta (2013)
Depois de abandonar a Copa do Brasil para disputar sua primeira competição internacional, a Ponte quase conquistou seu primeiro título relevante em grande estilo. Eliminou grandes times como Vélez Sarsfield e São Paulo, foi para final, mas perdeu para o Lanús – que também foi um time surpreendente, pois bateu Universidad do Chile, River Plate e Libertad para ser campeão.
2º – Arsenal (2007)
Depois de sair da segunda divisão em 2002, o time de Sarandí conseguiu ir mais longe do que todos esperavam. Eliminou o San Lorenzo na fase nacional, depois bateu o Goiás e começou a disputar uma espécia de campeonato mexicano: bateu Chivas nas quartas, eliminou o compatriota River na semifinal e voltou a enfrentar um mexicano, o América, na decisão. Venceu no sufoco, pelos gols marcados fora de casa, mas impressionou pela raça.
1º – Cienciano (2003)
Era apenas a segunda edição da Sul-Americana, a primeira com times brasileiros participando, e um time peruano espantou o continente. Foi um título absolutamente inquestionável, pois o Cienciano bateu times do Peru (Alianza Lima), Chile (Universidad Católica), Brasil (Santos), Colômbia (Atlético Nacional) e Argentina (River Plate). No caso do time brasileiro era aquela equipe com Diego, Robinho, Elano, Alex e tudo mais. A altitude ajudou, mas não serve como desculpa para quem perdeu.
— Cienciano: Do ostracismo a glória (e de volta ao ostracismo)
Diego Freire
O que é Cienciano? ( ) Um prato típico? ( ) Uma roupa folclórica? ( ) Uma equipe de futebol? Se ainda hoje o nome do centenário clube peruano causa estranheza entre torcedores brasileiros, a situação estava longe de ser diferente em 2003, quando o time de Cusco era um completo desconhecido prestes a jogar na Vila Belmiro contra o Santos de Diego e Robinho.
Naquele dia, um programa esportivo da televisão brasileira buscava nas ruas quem soubesse algo sobre o adversário do Peixe, mas os entrevistados respondiam em tom de deboche. “Nós vimos aquilo em uma TV no hotel. Os brasileiros achavam que Cienciano era uma comida ou um traje, tudo menos uma equipe de futebol. No dia seguinte eles já nos conheciam”, contou, dez anos depois e com um sorriso indisfarçável no rosto, o ex-lateral Alessandro Morán ao site Depor.pe.
O episódio certamente não foi único. Durante toda a campanha que o levou ao título da Copa Sul-Americana de 2003, o Cienciano sempre foi visto como azarão. Ficaram pelo caminho do “Papá” equipes muito mais tradicionais, começando pelo Alianza Lima, na fase nacional do torneio, passando por Universidad Católica, Santos e Nacional de Medellín, até as finais contra o River Plate, comandado pelo hoje treinador do Manchester City, Manuel Pellegrini, e com a mesma base campeã do Clausura argentino meses antes, formada por nomes de peso, como Ameli, Mascherano, Lucho González, Marcelo Gallardo, Maxi López e Marcelo Salas. Nas semifinais, os argentinos haviam passado pelo São Paulo nos pênaltis, em duelo marcado por uma confusão generalizada em campo e a célebre frase de Luís Fabiano: “entre brigar e bater pênalti eu prefiro ajudar na briga”.
Naquela altura muitos creditavam o sucesso dos peruanos aos quase 3.400 metros de altitude de Cusco, uma das razões pelas quais a diretoria do River não poupou esforços até transferir o jogo de volta da final para Arequipa, com o argumento da pequena capacidade do Estádio Inca Garcilaso de La Vega, na época capaz de abrigar cerca de 25 mil pessoas (número que dobrou um ano depois, após reformas para receber a Copa América de 2004). Aquele Cienciano, porém, era também muito forte longe de casa: já havia ganhado fora do Alianza Lima e do Atlético Nacional, além de empatar com o Santos. E se impôs mais uma vez na grande decisão.
Em pleno Monumental de Nuñez, os visitantes ganhavam até cinco minutos para o fim, quando Marcelo Salas fez o seu e fechou o placar da ida em 3 a 3. Na volta, no entanto, o River dominou o primeiro tempo, disputado nos “apenas” 2.300 metros de altitude de Arequipa, a 400 km de Cusco. As coisas pioraram para o Cienciano quando La Rosa e García foram expulsos no início da etapa final. Parecia que a zebra já havia ido longe demais e a taça seria do River, que tinha dois jogadores a mais em campo, além da tradicional camisa dona de 31 títulos nacionais, duas Libertadores e um Mundial, enquanto o adversário nunca havia sido sequer campeão peruano. Parecia…
Mas depois de superar tanta inferioridade, a desvantagem numérica não foi problema. Em cobrança de falta de muito longe, aos 35 minutos do segundo tempo, o zagueiro paraguaio Carlos Lugo aproveitou a barreira mal colocada e acertou o canto do goleiro Costanzo, que aceitou. A segunda edição da Copa Sul-Americana (e primeira disputada com equipes brasileiras) teria o Cienciano como campeão. Pela primeira vez um clube peruano conquistava um título internacional. A torcida do Boca não perdoou o “fracasso” do River até cair diante do mesmo Cienciano na final da Recopa de 2004, disputada na Flórida e decidida nos pênaltis.
As duas taças seguem sendo as únicas internacionais de primeira linha do futebol peruano, e o Cienciano até hoje também não conquistou nenhum torneio nacional. Do elenco campeão, apenas um jogador triunfou em sua carreira no exterior: o zagueiro Santiago Acasiete, que defendeu por quase dez anos o espanhol Almería e em 2012 retornou ao clube de Cusco, onde chegou a jogar com seu irmão Jonathan Acasiete. No mais, o restante do time titular teve curtas passagens por países como México e Chipre ou se transferiu para outros clubes do Peru, como aconteceu com o atacante Germán Carty, artilheiro daquela Sul-Americana.
Logo após a conquista, o nome mais prestigiado foi o do treinador, Freddy Ternero, que chegou a assumir a seleção peruana por um ano em 2005 e hoje, mais envolvido com política do que com futebol, aproveita sua popularidade para concorrer a cargos públicos no distrito de San Martín de Porres. Se pouca coisa mudou no patamar dos atletas, do clube ou do futebol peruano nos anos seguintes, ao menos como um brilho isolado aquele título segue orgulhando a todo o país. Em 2013, os atletas se reuniram para celebrar os dez anos da façanha. Ninguém se emocionou mais que o meia Julio Garcia, que teve a carreira interrompida por um acidente automobilístico e luta para voltar a andar – mais um desafio na vida de quem já conseguiu fazer o impossível em campo.
Relembre ilustres jogadores “AQUELE” que estarão na Sul-Americana
Allan Brito
Seja para o bem ou para o mal, os times brasileiros realmente têm contratado mais estrangeiros sul-americanos recentemente. E a Copa Sul-Americana é uma prova disso, pois mesmo no segundo escalão do continente é fácil encontrar jogadores bastante conhecidos dos brasileiros.
A importação de estrangeiros nem sempre dá certo. Santiago “El Tanque” Silva, AQUELE ex-Corinthians, foi um fracasso. Michael Jackson Quiñonez, AQUELE ex-Santos, também virou piada. Mas agora eles são importantes em seus times e vão disputar a Copa Sul-Americana de 2014.
Entre os bem sucedidos no Brasil, o único grande destaque é Loco Abreu, AQUELE que virou ídolo do Botafogo recentemente. E existem alguns que se tornaram ilustres por atuações na Europa, mas estão de volta aos seus países de origem e vão valorizar a Sul-Americana. É o caso de Fernando Gago, AQUELE ex-Real Madrid.
Veja onde estão AQUELES gringos ilustres da Sul-Americana:
ÁGUILAS DOURADAS-COL
Samuel Vanegas (Z, ex-Atlético-PR)
ATLÉTICO NACIONAL-COL
Diego Arias (V, ex-Cruzeiro)
Juan Pablo Ángel (A, ex-Aston Villa-ING)
BARCELONA-EQU
Michael Jackson Quiñonez (M, ex-Santos)
Federico Nieto (A, ex-Atlético-PR)
BOCA JUNIORS-ARG
Guillermo Burdisso (Z, ex-Arsenal-ING, Roma-ITA)
Fernando Gago (V, ex-Real Madrid)
CERRO PORTEÑO-PAR
Dani Güiza (A, ex-Fenerbahçe-TUR, Getafe-ESP e Mallorca-ESP)
Julio dos Santos (M, ex-Atlético-PR, Grêmio e Bayern de Munique-ALE)
José Ortigoza (A, ex-Palmeiras)
DANUBIO-URU
Jadson Viera (Z, Ex-Vasco)
ESTUDIANTES-ARG
Desabato (Z, ex-Quilmes-ARG)
LANÚS-ARG
Santiago “El Tanque” Silva (A, ex-Corinthians)
LIBERTAD-PAR
Adalberto Román (Z, ex-Palmeiras)
PEÑAROL-URU
Diogo (LE, ex-São Paulo)
RIVER PLATE-ARG
Fernando Cavenaghi (A, ex-Inter e Bordeaux-FRA)
ROSÁRIO CENTRAL-ARG
Loco Abreu (A, ex-Botafogo-RJ)
Você é capaz de adivinhar de quem são estes apelidos curiosos?
Igor Nishikiori
Bosteros
O nome na verdade era ‘boteros’, por causa dos botes que eram usados para navegar pelo riacho de Boca, mas os rivais fizeram um trocadilho com ‘bosteros’ porque as casas do bairro eram feitas de tijolos de esterco de cavalo.
Pinchas
O nome é uma abreviação de pincharratas, ou espeta-ratos, pelo fato de haver muitos simpatizantes alunos de veterinária, que costumam aplicar injeções ou fazer dissecações nesses roedores.
Triperos
Na década de 20, havia alguns jogadores que fora jogar futebol também trabalhavam em matadouros, tirando as vísceras de animais.
El Ballet Azul
O apelido foi ganho na era de ouro do time, entre 1949 e 1964, por causa dos craques e pela qualidade do futebol apresentado, semelhante a uma dança.
Bombillo
Por ter nascido dentro de uma empresa de energia elétrica, naturalmente o apelido acabou sendo o de Lâmpada.
Íntimos
Os membros fundadores do clube eram grandes amigos que jogavam bola em um estábulo chamdo Alianza. Esse clima de grande companheirismo fez com que eles fossem conhecidos como Íntimos.
El Equipo Aviador
O clube foi criado por trabalhadores da empresa Lloyd Aéreo Boliviano. O nome Jorge Wilstermann vêm do primeiro piloto comercial boliviano.
Monjas
A ligação do time com a Igreja Católica fez com que os adversários dessem o apelido pejorativamente. Em contrapartida, o rival Colo-Colo é chamado de Zorras (jargão para Prostitutas).
Manyas
Um jogador uruguaio de origem italiana se recusou a defender as cores do time por uma questão financeira. A família fanática pelo Peñarol interpelou, e ele respondeu: não quero “comer merda”, ou “mangiare merda” em italiano. A história correu e mangiare foi castelhanizado para Manya pelos hinchas como sinônimo de amor à camisa.
El equipo de la cota 905
A imprensa venezuelana chama assim o time do Caracas por um motivo simples: Cota 905 é o apelido da avenida Guzmán Blanco, onde fica a sede do clube.
Gumarelos
A origem é incerta, mas a versão mais difundida é de que é uma homenagem ao personagem Pascuale Gummarello, criado pelo jornalista argentino radicado no Paraguai Antonio Franiecevich, conhecido por ser torcedor fanático do Libertad.
De dentro para fora: os ex-jogadores que agora estão no comando
João Almeida
Existe uma máxima futebolística que apenas jogadores de defesa podem tornar-se técnicos futuramente. O Cruzeiro atual, todo badalado, é orquestrado por um ex-atacante, por exemplo. Na Copa Sul-Americana essa discussão ganha novos ares. Existem quatro nomes do gênero de maior relevância: Francisco Arce, Guillermo Schelotto, Marcelo Gallardo e Mario Salas.
Os dois primeiros, lateral-direito e zagueiro, engrossam o discurso tradicional. Os dois últimos, porém, não. Eram meio-campistas. Mas o que cada um fez de especial? Quem comandam?
Arce, o velho conhecido de palmeirenses e gremistas, rege o Cerro Porteño calando os críticos. Após levar o modesto Rubio Ñu da terceira divisão para primeira (onde permanece até os dias atuais), assumiu a seleção do Paraguai para salvar, literalmente, a pátria. Não conseguiu, foi demitido, e voltou ao Rubio, mas logo recebeu o convite do Cerro, em 2013. Com uma equipe menos estrelada e recheada de formados no clube, levou o clube à conquista do Clausura no mesmo ano – atingiu números de 27 partidas invictas na ocasião.
Já o inesquecível (e antigo) cabeludo do Boca, Schelloto, não dispõe de um currículo tão recheado quanto Arce, mas, mesmo assim, nem menos importante: comanda o argentino Lanús – seu primeiro clube como técnico, aliás –, e consagrou-se na Copa Sul-Americana ao levantar o caneco em 2013. É o único com o mérito de ganhar como jogador (pelo Boca) e técnico o torneio.
A contradição inicia-se em Marcelo Gallardo, o eterno meia do River Plate. Gallardo, no entanto, carrega uma mística vencedora: foi campeão em todos os clubes que atuou – cinco, no total. Despediu-se das quatro linhas no Nacional do Uruguai, assumiu o comando do mesmo clube e… Campeão novamente! Ganhou o Uruguaio de 2012, e, dois anos depois, voltou para seu velho lar, o River, agora com o boné de treinador. Será uma questão de tempo para um novo triunfo?
Por fim, Mario Salas mereceria um capítulo à parte. Jogou rugby, depois futebol no Colo Colo e em outros times chilenos até virar técnico. Começou a trilhar o seu caminho no desconhecido Barnechea, e, assim como Arce, o levou da terceira para primeira divisão. Chamou a atenção da Federação, e pegou o bastão da Seleção sub-20. Como resultado maior, levou os meninos até às quartas de final do Mundial da categoria. Ganhou uma chance no Huachipato neste ano e causa boas impressões.
Brasileiros reforçados contra o baixo astral
Allan Brito
A Copa Sul-Americana de 2014 ficou mais valorizada por causa da presença de fortes times brasileiros. São Paulo e Inter inclusive já foram campeões da competição. Além disso, estão disputando o título do Brasileirão 2014, assim como o Fluminense, que também está na Sul-Americana. Além disso, o Sport, campeão nordestino e com as apostas nos medalhões Diego Souza e Ibson, chega forte.
Mas o guia do Última Divisão é improvável. Então não queremos apenas elogiar os brasileiros, até porque cada um deles teve motivos para se envergonhar recentemente. São Paulo, Inter e Fluminense passaram por vexames na Copa do Brasil deste ano. Foram eliminados por Bragantino, Ceará e América-RN, todos times da Série B. É verdade que levarão jogadores como Kaká, Ganso, Alan Kardec, D’Alessandro, Aránguiz, Darío Conca, Rafael Sóbis e Fred para enriquecer a Sul-Americana. Mas mesmo assim não estão livres de novos vexames.
Já Vitória, Sport, Criciúma e Bahia nunca passaram sequer das oitavas de final da Sul-Americana. O primeiro inclusive foi eliminado pelo inexpressivo River Plate-URU em 2009. Os outros três só jogaram uma vez na competição. Pior: Criciúma e principalmente o Bahia correm risco de rebaixamento no Brasileirão e não devem focar na Sul-Americana.
Já o Goiás tem uma história mais rica. Já disputou a Sul-Americana cinco vezes e foi vice-campeão em 2010. O fato de ter vencido o primeiro jogo contra o Independiente por 2 a 0 gerou uma decepção muito grande para os esmeraldinos, já que os argentinos venceram depois por 3 a 1 e levaram a taça nos pênaltis.
Vale lembrar que, se um time brasileiro for campeão da Sul-Americana, ele tira a vaga na Libertadores de quem ficar em quarto lugar no Brasileirão. Ou seja, mesmo quem não está disputando a Sul-Americana pode ter emoções por causa dela. Em 2013, por exemplo, o Botafogo teve que torcer muito para a Ponte Preta perder na final, o que acabou acontecendo.
Veja os duelos da fase nacional da Sul-Americana:
- Vitória x Sport
- Goiás x Fluminense
- São Paulo x Criciúma
- Bahia x Inter
EXPEDIENTE DESTE GUIA
- Edição: Allan Brito, Diego Freire, Julio Simões
- Textos: Allan Brito, Carol Canossa, Diego Freire, Igor Nishikiori, João Almeida, Julio Simões
- Pesquisa: Allan Brito, Carol Canossa, Diego Freire, Igor Nishikiori, João Almeida, Julio Simões, Lucas Mello