Quando se pensa em Barbados vem à cabeça a cantora, atriz, compositora e empresária Rihanna, que é nascida na ilha, além de suas belas praias. Barbados possui cerca de 290 mil habitantes (dados de 2020) e faz parte futebolisticamente da CONCACAF (Confederations of North, Central American and Caribbean Football Associations) e da sub-confederação CFU (Caribbean Football Union). O país não tem nenhuma participação em competição internacional de relevância. Na temporada 2018/2019, cinco futebolistas levaram o brilho do futebol brasileiro para a Primeira Divisão Barbadiana.
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Jefferson Caik Inácio Silva tem 29 anos e joga como meio campo. Nascido em Brasília (DF), ele defendeu as cores do St. Andrew Lions, onde também jogaram o meia Marcos Carvalho e o atacante Bruno Silva na temporada 2018/19. Os outros dois brazucas na liga nesta mesma temporada foram Daniel Calvi e Luan Martins, que atuaram pelo Empire Club.
A oportunidade de jogar pelo clube saiu dos próprios esforços de Jefferson, que enviou seu material ao presidente do St. Andrew Lions. Após avaliação, ele manifestou interesse, concluindo então o acordo para representar o time. “Estava pesquisando sobre o futebol no Caribe, encontrei o time e me simpatizei”, explica.
O brasiliense revela que seu time contava com pouquíssima estrutura por ser a primeira vez que disputava a Primeira Divisão do país. “O CT não era bom, mas eu até entendia pois não era um clube de tradição”, explica. Os treinos eram diários na parte da noite porque uma parte do elenco não recebia dinheiro e trabalhavam em empregos normais durante o dia.
Ele elogia o treinador do conjunto, Christopher King, que também comandava a seleção de Barbados de Futebol de areia, dizendo ser um bom técnico e inteligente, mas que não tinha sob sua tutela um elenco completo.
O brasileiro comenta que teve dificuldades em jogar no país caribenho porque é da cultura do futebol do local fazer ligação direta da defesa para o ataque — o que torna pouco necessária a função de meio-campista.
“Estava acostumado com o futebol brasileiro, no qual temos mais liberdade para se movimentar. Em Barbados, o futebol é muito duro, de contato físico, força física. Os jogadores são muito rápidos e até difíceis de acompanhar, mas tem jogador sem técnica nenhuma.”
“Os goleiros não são bons. Vi poucos jogadores com técnica diferente, poucas vezes consegui fazer uma tabela. Para um brasileiro se adaptar tem que ter, no mínimo, cinco jogadores técnicos no elenco. Se um time tiver cinco jogadores bons do Brasil são campeões facilmente da Liga “, completa.
Para ele, mesmo com atletas na equipe nacional detentores de mais habilidade, eles ainda não eram bons o suficiente.
Ele diz que a organização do torneio é boa, mas sente que, muitas vezes, os times grandes como Weymouth Wales, Empire Club e o BDFSP (clube que tem a maioria dos jogadores da seleção) são favorecidos. “Mas fora isso a liga é boa de se jogar”, coloca.
No currículo de Jefferson Silva estão passagens por CFZ, Planaltina, Cruzeiro e Gama, todos do DF. Ainda no centro-oeste, defendeu as cores do Vila Nova e Monte Cristo, em Goiás. Em São Paulo, fez parte do Sport CT Brasil, um clube de empresários. Antes de chegar a Barbados, teve uma passagem pelo Atlántico FC, da República Dominicana. Atualmente está no St. Andrew Lions.
Silva lembra que o futebol na República Dominicana é melhor estruturado, conta com jogadores mais habilidosos e muitos sul-americanos na liga. “No meu time (O Atlántico FC), o treinador era argentino e havia jogadores do Chile, Peru e Venezuela, além de vários jogadores haitianos”, relembra. Nessas condições, o brasiliense diz que é mais fácil de desenvolver o futebol.
É importante salientar que a liga em Barbados é amadora, enquanto na República Dominicana é profissional desde 2015 com a criação da Liga Dominicana de Fútbol (LDF). “Lá rola mais dinheiro e a liga movimenta bem mais capital, torcida em maior número, os estádios são maiores e cada clube tem o seu. Enquanto Barbados possui apenas um estádio em todo país que recebe todos os jogos (o Wildey Turf Stadium)”, compara.
St. Andrew Lions
O clube foi fundado em 2012 e sua sede está na cidade que o nomeia, St. Andrew, que fica a 18 quilômetros da capital, Bridgetown. Chegou à primeira divisão do país na temporada 2018/2019, a qual permaneceu para 2020. Os principais jogadores do time são o atacante Shamar Edwards (autor de 15 gols na temporada passada), o meia Darico King e o jovem “winger” Jomal Williams.
O time conseguiu o acesso ao nível mais alto do futebol barbadiano ao se sagrar campeão da Division One, a Segunda Divisão, em 2018.
Comunicação difícil
Nem a alimentação e a cultura local foram dificuldades. Mais uma vez ele, o idioma, foi o maior entrave na adaptação dos brasileiros. “O que mais me deixava irritado mesmo era na comunicação com outros jogadores. Isso me atrapalhava muito, porque eu queria falar os erros do time no vestiário mas não conseguia por não falar inglês. Com o tempo eu fui aprendendo e ficou mais fácil, mas no começo isso foi uma dificuldade imensa”, relembra.
Em seu tempo livre, o atleta revela que sempre ia às belas praias de Barbados. “Já tinha visto o mar do Caribe na República Dominicana, mas fiquei encantado com o mar de Barbados”, conta. Também disse que costumava visitar a capital, Bridgetown, pois achava a cidade linda e com vários monumentos históricos que remetem à história da nação caribenha.
Brasileiros em alta
O brasiliense diz que a experiência foi boa, mas lamenta ter sofrido lesão no meio do campeonato e não conseguir finalizar a temporada. Foram seis jogos e dois gols marcados. Um deles foi na derrota da equipe por 3 a 2 frente ao Barbados Defence Force Sport Programm (BDFSP), um dos maiores clubes do país, enquanto o outro foi na derrota por 3 a 1 para o Paradise FC, outro time tradicional. O atacante Bruno Silva foi o artilheiro entre os brasileiros com sete gols em 17 partidas. O meia Marcos Carvalho fez cinco jogos pelo time de St. Andrew.
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O meio campo Daniel Calvi, que já jogou pelo Five Island FC de Antígua e Barbuda na temporada 2017/2018, mudou nessa mesma época para o Empire Club, fazendo um bom campeonato com 14 jogos e 7 gols. Na temporada 2018/19 disputou 16 jogos e balançou as redes em cinco ocasiões. Luan Martins disputou 18 jogos e fez um gol pelo Empire Club na Primeira Divisão de Barbados 2018/2019.
A Barbados Premier League
A BFA anunciou no dia 16 de junho que todas as atividades futebolísticas do país seriam canceladas mesmo com a autorização do Governo para retomar as atividades esportivas. Em matéria publicada no site oficial, o presidente da BFA, Randy Harris, também no cargo de vice-presidente da Concacaf, destacou que se reuniu com o conselho e com os clubes e chegaram a conclusão de que não conseguiriam atender aos protocolos exigidos pelo Governo.
“Não podemos apoiar o futebol no momento porque não podemos garantir a segurança dos jogadores e é isso que é importante”, destacou na época. O presidente também disse que não conseguiriam garantir a segurança dos espectadores. Assim, não haveria outra medida se não o cancelamento da temporada.
A primeira divisão de Barbados conta com 12 equipes e na temporada 2020 foi composta por: Weymouth Wales (16 pts), BDFSP (12 pts), Paradise FC (11 pts), Notre Dame SC (11 pts), Empire Club (10 pts), Deacons FC (10 pts), Wotton FC (9 pts), UWI Balckbirds (7 pts), Ellerton FC (7 pts), St. Andrew Lions (7 pts), Silver Sands FC (6 pts) e Brittons Hill United (5 pts). A edição atual estava sendo disputada em pontos corridos, diferentemente da anterior, em que as equipes foram dividas em duas zonas.
De 2005 até agora, o BDFSP lidera o número de títulos com 5 troféus (2007, 2013, 2014, 2015 e 2018/19). Weymouth Wales (2012, 2017 e 2018) e Notre Damme (2005, 2008 2010) ambos com 3 canecos. Youth Milan FC venceu a liga em 2006 e 2011. Brittons Hill United FC (2009) e UWI Blackbirds (2016) completam a lista de campeões da liga nos últimos 15 torneios disputados.
Seleção de Barbados
A seleção de Barbados pode alcançar o maior feito de sua história. Com o primeiro lugar de seu grupo da Liga C da Concacaf Nations League, o país ganhou uma lugar nas eliminatórias para preencher as últimas quatro vagas da Gold Cup 2021. O primeiro adversário será a seleção da Guiana, que foi segundo lugar no grupo da Jamaica na Liga B, e conta com vários jogadores ingleses no elenco que a ajudaram a alcançar a Copa Ouro de 2019.
Se superarem o primeiro desafio terão pela frente Trinidad & Tobago que, apesar de estar em péssima fase com crise na seleção e no futebol local, ainda conta com jogadores de renome como Joevin Jones, Kevin Molino e Khaleem Hyland.
Os Bajan Tridents, como são apelidados, ocupam a 162° posição no Ranking FIFA (até 11 de junho de 2020), surpreendentemente, aparecendo à frente de Cuba, Guiana e Bermuda, que estiveram na última Copa Ouro.
O melhor resultado do país foi o quarto lugar na Copa do Caribe em 2005. A seleção garantiu o acesso à Liga B da CONCACAF Nations League no saldo de gols já que estava empatado com as Ilhas Cayman com 12 pontos. A campanha teve quatro vitórias e duas derrotas fora de casa.
Principais jogadores
Dentre os destaques da seleção nacional estão o goleiro de 21 anos Kishmar Primus (BDFSP), o lateral Akeem Hill (BDFSP), os volantes Mario Williams e Jomo Harris (ambos do Paradise FC), Omani Leacock (irá se juntar a Lakeland College, dos Estados Unidos), o meia atacante Hadan Holligan (Weymouth Wales), o “winger” de 18 anos Thierry Gale (Budapest Honvéd sub-19 da Hungria), o meia T-Shane Lorde (BDFSP) e Armando Lashley (Paradise FC). Além do atacante e capitão Rashad Jules, do BDFSP, que foi selecionado no Time do Campeonato da Liga C da Nations League.
Também atuam pela seleção barbadiana Hallam Hope, jogador do Swidon Town, da League Two (quarta divisão) da Inglaterra, e Nick Blackman, do israelita Maccabi Tel Aviv, que nasceram na Inglaterra mas possuem ascendência no país caribenho.
Hope nasceu em Manchester e nas categorias de base fez parte das academias de Manchester City e Everton. Em nível sênior passou por clubes das divisões inferiores da Inglaterra. Ele já representou a Terra da Rainha nas categorias de base nos níveis sub-16 a sub-19.
Já Blackman é nascido em Salford. O jogador de 30 anos teve passagens por clubes ingleses das divisões inferiores e também esteve por empréstimo do Derby County (Inglaterra) ao Sporting Gijón (Espanha) na temporada 2018-2019. Ambos estrearam pela seleção em 2019.
Próxima geração
Barbados procura desenvolver uma próxima geração de jogadores que seria capaz de levar a pequena ilha à Copa do Mundo de 2026. Com o slogan “Road to 2026”, a BFA tem feito alguns investimentos no desenvolvimento dos jovens jogadores. Em dezembro de 2018, fizeram uma viagem e puderam treinar no campo do Boca Juniors.
A viagem foi resultado de uma parceria entre os dois países por meio da embaixada da Argentina em Barbados intermediada pelo embaixador Gustavo Martinez Pandiani. Pelo acordo, o treinador de críquete Roland Butcher, de Barbados, foi até a América do Sul para ensinar o esporte aos cidadãos argentinos, enquanto os caribenhos tiveram a oportunidade de treinar por três dias com o assistente técnico do Boca Juniors sub-20, Mário Pobernsik, e disputar um amistoso com a Seleção Argentina sub-17. O jogo terminou 2 a 0 para os donos da casa, mas a avaliação da associação foi positiva.
De acordo com fala publicada pela BFA, o embaixador disse ainda que os 18 jogadores que viajaram até o país sul-americano também teriam aulas de espanhol, passariam por exames médicos e controles de alta qualidade em medicina esportiva. Além disso, fizeram uma visita ao estádio do Boca Juniors, e conheceram o vestiário e o Museu do Boca, em que aprenderam um pouco sobre a história do clube. Ainda jogaram xadrez como uma forma de mostrar aos jovens como aperfeiçoar estratégias em campo. Certamente uma semana inesquecível e inspiradora para os jovens atletas.
Além disso, antes das atividades serem interrompidas por conta da Covid-19, disputaram a fase preliminar da Concacaf sub-20. Com uma campanha impecável, inclusive duas goleadas, classificaram-se com folga para o torneio principal. Foram 10 gols marcados e apenas dois sofridos no grupo D composto por Bermuda, Porto Rico e Ilhas Cayman.
O destaque desta fase ficou para o promissor Thierry Gale, autor de três gols. Outros dois interessantes jovens talentos são Niall Reid-Stephen e Tyrique Belle, ambos do UWI Blackbirds. O torneio final estava previsto para ser sediado em Honduras nos meses de junho e julho, mas foram adiado sem previsão de nova data.
Quando houver uma decisão, os 20 melhores times da região disputarão quatro vagas na Copa do Mundo sub-20 de 2021, na Indonésia. Nesta fase entram países com investimentos maiores no futebol e na categoria de base, o que promete ser um grande desafio para os jovens Bajan Tridents.
Barbados não foi bem no torneio sub 17 de 2019. Ficaram em último lugar com um ponto em um grupo com Estados Unidos, Canadá e Guatemala. O único ponto do país foi no empate a um contra a Guatemala, gol de Gale nos acréscimos.
Silva diz que os jovens jogadores são bons e que estão vindo com muito mais qualidade técnica além da física. Um dos atletas que viajou para a Argentina foi Jamol Williams, que jogou junto com o brasileiro no St. Andrew Lions. O brasiliense disse que o jovem é um bom jogador. No início de 2020, Williams teve a oportunidade de treinar por dois meses com o Leyton Orient FC, da Inglaterra. Não sabemos informar se o período de treinamentos chegou a ser completado diante da pandemia.
Silva estava em conversações com o St. Andrew Lions para regressar para a temporada 2020 no meio do campeonato, mas com a pandemia o futuro está incerto.
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