Se o esporte nacional do Brasil é o futebol, na República Dominicana ele aparece atrás atrás do beisebol e do basquete. Em lugares como a capital, Santo Domingo, chega a perder o terceiro lugar para o vôlei. Nos últimos anos, porém, o futebol no país do Caribe passa por uma grande mudança que pode resultar em maior destaque para os caribenhos na região da Concacaf.
Em 2014 foi criada a Liga Dominicana de Fútbol (LDF), a primeira profissional no país, com o objetivo de melhorar o futebol local e obter melhor desempenho com a seleção nacional. No ano de 2017, o segundo volante mato-grossense Jefferson Arroz disputou a LDF pelo Moca FC, tradicional clube dominicano. Atualmente, faz parte do elenco do Sinop FC, do Mato Grosso.
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Arroz nasceu na capital Cuiabá e começou a carreira em 2007 quando aos 17 anos se juntou à equipe sub-20 do Chievo Verona, da Itália. Foi emprestado pelos italianos ao Ipatinga em 2008/09 e em 2010/11 para o Mixto. Na temporada seguinte, seu destino foi a Espanha. Jogou a Segunda Divisão B do Campeonato Espanhol (equivalente à terceira divisão) pelo Sant’Andreu.
No ano seguinte defendeu a Portuguesa (SP). Em 2013/14 retornou ao clube espanhol e também jogou pelo Novoperário FC emprestado. Retornou para a Espanha em 2014/15 e depois foi contratado em definitivo pelo Boavista (RJ). Então voltou mais uma vez à Espanha, mas agora para defender o Sabadell, da mesma liga do Sant’Andreu.
Chegou ao Moca FC em 2017. Após a passagem pela República Dominicana, retornou ao Brasil para jogar pelo Operário (MS). No final de 2018 chegou ao Sinop FC, no qual permanece até hoje.
Em sua carreira conquistou três títulos: Campeão Mineiro Módulo II pelo Ipatinga (2009), Campeão Paulista Série A-2 pela Portuguesa (2013) e Campeão do Torneig d’Histórics pelo Sant’Andreu (2014).
A oportunidade de jogar pelo Moca FC surgiu por meio de seu agente na época e do treinador espanhol David Martínez, que o pediu com reforço. De acordo com o site Doce RD, Jefferson disputou 17 das 18 partidas da LDF em 2017 somando 1530 minutos de jogo. Foram 3 assistências e 88 recuperações de bola com uma média de 5.17 por jogo.
O jogador revela que esteve perto de seguir no país e assinar com o Club Atlético Pantoja, um dos principais clubes dominicanos. “Eu fui muito bem nos dois jogos contra eles e dei assistência para o gol da vitória em um dos encontros. Meu companheiro Jonathan Faña, que assinou com o Pantoja, comentou comigo que o treinador Lenin Batista pediu minhas informações para ele. Apesar de ter recebido a recomendação, optaram por fechar com um compatriota do diretor do clube, que é uruguaio, da mesma posição.”, conta.
Dificuldades técnicas
O brasileiro morava em um bom apartamento com TV a cabo e internet. O clube dava um dinheiro à parte do salário semanalmente para comerem em casa ou em restaurante. O jogador já falava o espanhol, idioma que aprendeu quando jogou na Espanha. Todavia, comenta que alguns termos são diferentes, mas que não chegava a atrapalhar a comunicação com jogadores e comissão técnica. Diz que não teve muitos problemas de adaptação extracampo.
“Uma de minhas dificuldades foi ao profissionalismo. Pelo fato do campeonato ser muito novo profissionalmente, ainda estava em desenvolvimento e é natural que estejam atrás de lugares por onde já passei em termos de organização, estrutura, etc”, pontua.
Jefferson Arroz comentou que sua comida favorita na República Dominicana foi, curiosamente, um arroz que eles fazem com plástico na panela para secar. “Fica muito bom, mas quando vi fazendo pensei: ‘Essa sacola vai derreter pois colocam o plástico com com a panela ainda no fogo.’ Porém dá certo e fica muito bom”, diverte-se relembrando. Além dessa receita, diz que a banana frita que eles fazem também é deliciosa.
Longo caminho a percorrer
Para ele, o nível da liga não é alto e que precisam de melhorias em termos de organização. Ainda menciona que Club Atlético Pantoja e Cibao FC possuem nível superior de organização, planejamento e a estrutura é ótima.
“Isso faz a diferença no final do campeonato, o que justifica o domínio desses dois clubes tanto como campeões e para as vagas no CFU Club Championship e Liga dos Campeões da CONCACAF”, completa.
Segundo o jogador, o Moca FC apresenta as condições mínimas necessárias para jogar profissionalmente. “Treinávamos no próprio estádio, que na época ainda estava em construção. O treinamento físico era realizado em uma academia local parceira. O clube mesmo não possuía academia própria e um centro de treinamento”, explica.
Para ele, os jogadores não possuem nível técnico tão alto “alguns dominicanos são bons porém os estrangeiros fazem a diferença”. Arroz diz que os jogadores são bons a nível local, mas ficam muito atrás de jogadores de outros países em que jogou.
O brasileiro entende que o fato de ter número de habitantes menor e também a LDF ser uma liga jovem, influência na formação e desenvolvimento dos jogadores. Para ele o desnível começa na base “os clubes ainda não têm uma categoria de base forte, desenvolvida e competitiva como nos grandes centros”, explica.
Chutão e correria
De modo generalizado, o mato-grossense diz que os jogadores dominicanos possuem como principal característica a velocidade. Para o brasileiro, o primeiro passo para mudar o quadro e promover melhorias seria mudar a mentalidade “ser profissional, deixar de ser jogador e se tornar atleta. Se alimentar e dormir bem e treinar em alto nível. Aqueles com pensamento mais profissional se sobressaíam”, menciona.
No jogo tático disse que as mudanças deveriam de ser grandes e que um treinador de alto nível poderia ajudar.
“Saber jogar sem a bola, saber a hora de atacar e defender, entender os movimentos do jogo e não correr em vão. É importante entender o motivo de fazer aquele movimento seja para atacar o espaço deixado pelo companheiro ou para abrir espaço para outro. Conceitos básicos e fundamentais na Europa”, comenta.
Quando chegou, o Moca FC era comandado pelo espanhol David Martínez. Arroz diz que foi mais fácil a se adaptar com o estilo de jogo já que estava acostumado com a forma de jogar na Espanha com bastante posse de bola, técnico e ofensivo.
Quando o antigo assistente técnico Ronald Batista tornou-se o principal, o time passou a jogar de forma oposta, mais voltada à defesa para não levar gols e ataque mais direto, verticalizado e dando importância mais a força. No geral, comenta que o estilo de jogo dos clubes são de bastante força e futebol direto.
Seleção Dominicana
A República Dominicana nunca participou da Copa Ouro e sua melhor colocação nas duas Copas do Caribe que disputou foi o 5° lugar em 2012. Ocupa a 158° posição no ranking FIFA de julho de 2020 e está em 17° da Concacaf.
O melhor jogador de todos os tempos é o atacante Jonathan Faña, ainda em atividade. Aos 33 anos, ele conta com 23 gols em 42 jogos oficiais por seu país. Faña se destacou pelo W Connection FC, em Trinidad & Tobago; pelo Puerto Rico Islanders, que jogava na liga dos Estados Unidos; e pelo Alianza FC, de El Salvador. Faña é também um dos maiores artilheiros da LDF e o maior artilheiro de todos os tempos de seu país.
O experiente goleiro Miguel Lloyd foi multicampeão com Faña no W Connection FC e teve seus melhores anos no CD Árabe Unido, do Panamá. O capitão tem 44 jogos por sua pátria tornando-se o jogador com mais jogos pela seleção. Atualmente defende o Cibao FC.
O desempenho na Concacaf Nations League foi longe do que os torcedores esperavam. Ficaram em terceiro lugar no Grupo B ainda com El Salvador (que ficou em primeiro lugar sendo promovido para a Liga A e com vaga direta para a Copa Ouro 2020), Montserrat (que foi para o primeiro round da fase qualificatória para as últimas quatro vagas da Copa Ouro) e Santa Lúcia na lanterna e que foi rebaixada para a Liga C. Foram duas vitórias, uma derrota e três empates.
Promessas de Real Madrid e Barça
Alguns jogadores deixaram muito jovens a República Dominicana e fizeram toda a carreira na Espanha. A seleção poderia contar com jogadores dos gigantes Real Madrid e Barcelona.
O atacante merengue Mariano Díaz é um deles. Nasceu na Espanha, mas é filho de mãe dominicana. Em 24 de março de 2013, jogou um amistoso com a seleção dominicana contra o Haiti. Com um gol e uma assistência, ele ajudou na vitória sobre os rivais por 3 a 1. Porém, o jogador disse que não jogaria mais pelo país de sua mãe.
O hispano-dominicano Junior Firpo, lateral esquerdo de 23 anos do Barcelona, é nascido em Santo Domingo e se mudou para a Espanha aos seis anos. Em 9 de outubro de 2015, jogou o segundo tempo de um amistoso contra a seleção brasileira olímpica. O jogo terminou 6 a 0 para o Brasil. Em 2018, foi chamado para a seleção espanhola sub-21 e disputou o torneio europeu Sub-21, do qual sagrou-se campeão.
Na seleção atual os destaques são o zagueiro César García (34 jogos e dois gols), de 27 anos, que foi eleito o melhor jogador da LDF 2019 pelo Cibao FC. O meia Jean Carlos Lopez (27 jogos e um gol), também do Cibao FC, é outro jogador importante. O atacante hispano-domicano Edipo Rodríguez (25 jogos e dois gols) é nascido em Barahona, mas mudou-se para Soria, na Espanha, aos seis anos. Passou por vários clubes espanhóis das divisões inferiores. O versátil Enmy Peña (9 jogos e dois gols), de 27 anos, é nascido em Azua, na República Dominicana, mas iniciou sua carreira na Espanha. O jogador firmou-se no futebol de Malta e joga pelo Valetta FC. Estreou pela seleção em 2016.
Futuro
Alguns jovens talentos despontam no país. O principal deles é o habilidoso Ronaldo Vásquez, que foi emprestado por um curto período ao Hapoel Tel-Aviv, de Israel, mas já voltou ao Club Atlético Pantoja. O companheiro de clube Gerard Lavergne, que joga como meio-campista, possui boa visão de jogo e chute de longa distância. O atacante Dorny Romero, do Cibao FC, foi a sensação da LDF 2019 com 10 gols marcados.
Confira no vídeo abaixo, em espanhol, um vídeo sobre os 5 jovens jogadores mais promissores da República Dominicana.
LDF
A primeira temporada da LDF foi realizada em 2015 com 10 equipes: Cibao FC, Bauger FC, Moca FC, Barcelona Atlético, Atlántico FC, Club Atlético Pantoja, Atlético San Cristóbal, Universidad O&M, Delfines del Este e Atlético Vega Real. Em 2018, foram 12 times a acrescentar nesta lista Atlético San Francisco, Inter RD e Jarabacoa, mas o Bauger FC abandonou o torneio.
A temporada 2020 nem começou na República Dominicana por conta da Covid-19. Em carta aberta de 13 de julho de 2020, a Comissão Covid-19 MIDEREC – COD, decidiu que, em consequência do quadro epidemiológico do país e dos novos casos da doença reportados pelo Ministério da Saúde, o Comité Olímpico Dominicano interrompeu a reintegração das atividades esportivas em grupos e treinamentos de alto rendimento em todo o país assim como ligas e clubes até que as condições de saúde permitam.
Assim, não há previsão de que a temporada 2020 se inicie e, até mesmo, que seja realizada.
Campeões
Desde a criação, ou Cibao FC ou Club Atlético Pantoja estiveram entre campeão e vice da LDF.
- 2015: Club Atlético Pantoja / vice: Atlántico FC
- 2016: Barcelona Atlético / vice: Cibao FC
- 2017: Atlántico FC / vice: Club Atlético Pantoja
- 2018: Cibao FC / vice: Atlético San Francisco
- 2019: Club Atlético Pantoja / vice: Cibao FC
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