Antes de Sorín, D’Alessandro e Tévez, um outro argentino superou a rivalidade entre brasileiros e hermanos, e virou um grande ídolo em terras tupiniquins. Estamos falando de Armando Federico Renganeschi, o Renga, que fez uma carreira de relativo sucesso tanto como jogador quanto como treinador, passando pelos maiores times do país até clubes do interior, e deixando um grande legado pelo caminho.
Nascido em Capitán Sarmiento, na Argentina, mudou-se cedo para o Paraguai, retornando posteriormente para o seu pais natal aos 11 anos de idade. Iniciou então a carreira futebolística pelo Central Norte, clube da cidade de San Miguel de Tucumán, onde permaneceu 5 anos até rumar ao tradicional Independiente de Avellaneda.
Após passagens rápidas por Estudiantes, Almagro e Talleres de Córdoba, sempre por empréstimo, o zagueiro acabou emprestado ao Bonsucesso F.C, clube do Rio de Janeiro que abriu as portas para Renga.
Depois de um ano no clube da Zona da Leopoldina, ele teve seu contrato estendido por mais um ano. Porém, no meio do caminho o Fluminense comprou o jogador junto ao Independiente e então o mesmo passou a atuar pelo clube das Laranjeiras.
Nos anos em que ficou jogando pelo Tricolor, o destaque fica para o título do Carioca de 1941, em uma final disputada contra o rival Flamengo que ficou conhecida como o “Fla-Flu da Lagoa”. Isso porque o letreiro do estádio da Gávea marcava 2 a 2, e como o empate daria o título ao tricolor, os atletas, inclusive Renganeschi, sempre que tinham a bola chutavam-na para dentro da Lagoa Rodrigo de Freitas, localizada ao lado do estádio.
Ainda nesse mesmo ano Armando havia sido condenado a 6 meses de prisão e posterior expulsão do país, por ter ingressado como turista e permanecido definitivamente no Brasil. E isso fez com que alguns clubes cariocas reclamassem os pontos de partidas disputadas contra o Fluminense. Porém, o julgamento ainda não havia sido dado como julgado, e a situação do jogador perante a Federação Carioca era regular. Assim, mantiveram-se os resultados das partidas e o título do Fluminense e, após isso, a situação do jogador foi regularizada no país.
No final de maio de 1944 o contrato de Renganeschi com o Flu não foi renovado e o atleta deixou as Laranjeiras para atuar no São Paulo, onde viria a ser ídolo da torcida tricolor paulista. Fez parte do time nas campanhas que resultaram nos títulos paulistas de 1945, 1946 e 1948. Com certeza a mais marcante foi a de 1946, quando entrou definitivamente para a história: mesmo machucado marcou o gol do título contra o Palmeiras. Segundo o Almanaque do São Paulo, de Alexandre da Costa, aquele foi o único gol de Renga pelo tricolor paulista em seus 103 jogos pelo clube.
Depois de encerrar seu vínculo com o São Paulo em 1948, Armando Renganeschi, já com 36 anos, rumou para o litoral paulista. Por lá, vestiu a camisa do tradicional Jabaquara de Santos. Entretanto devido a uma série de contusões, ele optou por encerrar ali a brilhante carreira de jogador profissional e iniciar a de técnico, justamente pelo próprio Jabuca.
Colecionador de títulos
Renganeschi passou então por vários clubes como treinador, principalmente no interior paulista. Foi no interior paulista inclusive que conquistou o seu primeiro título como técnico, a segunda divisão do Campeonato Paulista de 1951, pelo XV de Jaú. No ano seguinte, venceria o mesmo torneio, mas agora como o Linense.
Após passar por mais alguns clubes do interior paulista como Ferroviária de Araraquara, Comercial de Ribeirão, Noroeste de Bauru, novamente o Jabaquara e novamente o XV de Jaú, foi anunciado em 1958 como técnico do São Paulo dez anos após a passagem como jogador. Por lá não conseguiu repetir o mesmo sucesso e retornou a Bauru para comandar o Norusca.
Depois de passar novamente pelo XV de Jaú, teve sua primeira passagem pelo Guarani no ano de 1960. Um ano depois, Renga voltou para a capital paulista aonde chegou perto de conquistar o que seria o seu maior título como treinador, a Taça Libertadores da América de 1961 pelo Palmeiras. Contudo, na final a equipe tinha a ingrata missão de enfrentar o então campeão Peñarol. Melhor para os uruguaios, que chegaram ao bicampeonato continental após vitória em Montevidéu e empate em São Paulo.
Com 57 partidas à frente do time alviverde, deixou o clube e retornou a Santos, porém, dessa vez para comandar a Portuguesa Santista. Após uma temporada à frente da Briosa, passou pela Prudentina antes de retornar ao futebol argentino, pela primeira vez como treinador. A passagem pelo Independiente também foi breve e Armando retornou mais uma vez ao Brasil, e mais uma vez para o Guarani.
Voltaria então a ser campeão em 1965 comandando o Flamengo e viria a ser vice-campeão no seguinte. Acumulou um total de 125 partidas pelo rubro-negro da Gávea, rumando novamente para o interior paulista, mais uma vez para Ribeirão Preto, mas agora para comandar o Botafogo.
Assim que saiu do Pantera, ele assumiu pela terceira vez a equipe do XV de Piracicaba, aonde voltou a vencer a segunda divisão do Campeonato Paulista, em 1967. Na sequência, dirigiu inúmeros clubes até que em 1974 desembarcou no Paraná para comandar o Coritiba. Resultado: campeão paranaense nesse mesmo ano. Esse seria o último título do curriculum de Renga.
Passou por diversos clubes na sequência, inclusive o Corinthians por 21 jogos no ano de 1978. Notabilizou-se por formar alguns jogadores e os levar das equipes do interior para os grandes da capital, um desses nomes foi Jair Gonçalves na época que atuava pelo Comercial e que, intermediado por Armando, foi para o Palmeiras em 1974.
Seu último clube foi o Matsubara do Paraná, time que dirigiu em 1981 e 1983 ( em 1982 se afastou do clube por motivos de saúde). Naquele ano, Armando Renganeschi nos deixou aos 70 anos na cidade de Campinas, onde foi sepultado.
Na cidade comandou por três vezes o Guarani e uma vez a Ponte Preta e foi lá que ganhou talvez o seu maior título: uma rua em sua homenagem chamada “Rua Armando Federico Renganeschi”, um pequeno gesto de uma cidade, de um estado, de um país, que mesmo não sendo o seu de nascimento teve o prazer de contemplar uma das grandes figuras que nosso futebol já viu.
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