Por Rodrigo Rossi
Certamente você já conhece ou ouviu falar de alguma seleção que geograficamente faz parte de um continente, mas em termos de futebol é filiada à confederação de outro. Exemplos como Guiana, Suriname, Cazaquistão e Israel. Os motivos para essas situações são diversos, e variam de conflitos geopolíticos a proximidades culturais.
A Austrália faz parte deste grupo de países, integrando o continente da Oceania, mas filiada à Confederação Asiática de Futebol (AFC). A entrada do país na AFC aconteceu em 2005 e o motivo foi promover o desenvolvimento do futebol profissional, uma vez que o país era dominante na Oceania, onde a maioria das seleções são semiprofissionais ou amadoras.
Após a troca de filiação, a Liga Nacional de Futebol (NSL) deixou de existir, dando lugar à A-League como principal divisão de futebol profissional do país. O campeonato possui o sistema de franquias (assim como a MLS, por exemplo) e não possui promoção e rebaixamento.
Leia também:
- Maior clássico, menor público: o que vivi em um Auckland x Waitakere, na Nova Zelândia
- Que tal virar especialista em futebol australiano (que não é o “soccer”)?
- ’82 and All That’: filme sobre a 1ª Copa da Nova Zelândia ficou pronto, mas não pôde ser lançado
Desde o início da concepção do campeonato, foi reservada uma vaga de franquia para a Nova Zelândia, como forma de promover o desenvolvimento profissional dos países vizinhos e aumentar a visibilidade da A-League na região. Dessa forma, tornou-se um campeonato nacional com um time de outro país – e de outra federação, uma vez que a Nova Zelândia continua integrante da Oceania.
Inicialmente a A-League foi criada com oito equipes, sendo o New Zealand Knights o representante neozelandês no campeonato australiano. No entanto, a equipe participou de apenas duas temporadas e foi extinta. A partir da temporada 2007/08, a vaga de franquia foi repassada para outra equipe da Nova Zelândia, o Wellington Phoenix, sediado na capital do país.
Assim como o New Zealand Knights, que foi o último colocado nas duas temporadas que participou da A-League, os dois primeiros anos do Wellington Phoenix foram turbulentos, ficando respectivamente na oitava (2008) e na sexta (2009) colocações.
Só que, a partir da temporada 2009/10, a competição contaria com 10 franquias – e o time neozelandês conquistou o quarto lugar na temporada regular, sendo o primeiro grande resultado do time, uma vez que se classificou para os play-offs e só foi eliminado pelo Sydney FC na semifinal.
E mais:
- Frente a frente com Diego Galvão, o brasileiro que joga em Vanuatu
- Não bastou ser campeão em seu próprio país. Então o DPMM FC foi ser campeão nos vizinhos
- A história dos times de Minas Gerais e Goiás no Campeonato Brasiliense
As temporadas seguintes seguiram irregulares para a equipe. Houve edições de péssimas campanhas, como em 2012/13, 2013/14, 2015/16, 2016/17, 2017/18 e 2020/21, temporadas em que a equipe ficou fora dos playoffs no campeonato regular. Mas houve bons momentos, como as temporadas 2010/11, 2011/12, 2014/15, 2018/19, 2021/22 e 2022/23, nas quais a equipe conseguiu avançar para os playoffs, mas não passou das quartas de final em nenhuma ocasião. Em 2019/20, o time de Wellington foi o terceiro, seu melhor desempenho até então na temporada regular, mas novamente foi eliminado nas quartas de final pelo Perth Glory.
2023/24: chegou a hora do Wellington Phoenix?
O Wellington Phoenix vem surpreendendo na temporada 2023/24 da A-League. Faltando seis partidas para encerrar a fase regular, a equipe já soma 40 pontos (com 11 vitórias), faltando seis pontos para igualar sua melhor temporada na fase regular (2014/15) da competição.
A equipe lidera o campeonato australiano com três pontos de vantagem sobre o segundo colocado, o Central Coast Mariners, que possui um jogo a menos. O time neozelandês tem a segunda melhor defesa (22 gols sofridos em 21 jogos), é o melhor visitante do campeonato e o segundo melhor mandante. O jogador neozelandês Kostas Barbarouses é o principal marcador da equipe, com 10 gols anotados.
A diminuição da vantagem na liderança se deve à primeira derrota no ano, sofrida diante do Melbourne City em 9 de março: jogando fora de casa, a equipe neozelandesa perdeu para a australiana pelo placar mínimo. Antes dessa derrota, a equipe não perdia desde 4 de janeiro, estando há 10 jogos sem derrotas pelo campeonato, contabilizando cinco vitórias e cinco empates no período.
O que esperar agora?
A equipe tem pela frente quatro jogos em casa e dois jogos fora, estando praticamente garantida para os playoffs da competição, mesmo que não termine na liderança.
O sucesso da equipe é um importante motor para o desenvolvimento do futebol profissional na Nova Zelândia, considerando que o país não tem nenhuma liga profissional do esporte e o principal time do país (Auckland City), mesmo disputando Mundiais de Clubes como representante da OFC, é semiprofissional.
Uma novidade importante é que duas novas franquias serão incorporadas na A-League a partir da temporada 2025/26, aumentando para 14 equipes o número de integrantes, sendo uma da cidade de Camberra (Austrália) e outra de Auckland (Nova Zelândia). O ingresso de uma segunda equipe neozelandesa no campeonato australiano visa ainda mais a expansão da marca na região, uma vez que Auckland é a maior cidade do país, e auxilia na formação e desenvolvimento de novos atletas.
Além disso, ajuda na profissionalização da seleção nacional, uma vez que que, a partir da Copa do Mundo de 2026, a Oceania terá uma vaga direta, sendo a Nova Zelândia ampla favorita no continente.
Duas coisas são certas. A primeira: o novo time neozelandês a ingressar na A-League não será o Auckland City, pois ele não poderia mais representar a OFC em competições internacionais se disputasse a liga australiana. Uma nova equipe será criada e o anúncio do nome acontece em março de 2024.
A segunda: mesmo vencendo a temporada regular do campeonato australiano (ou a fase de playoffs), o Wellington Phoenix não se qualifica para a Liga dos Campeões da Ásia, pois a AFC não aceita um membro de outra confederação jogando suas competições. Assim, a vaga seria repassada ao melhor time australiano não classificado.
Seria esse segundo fato um desmotivador para a equipe seguir fazendo boas exibições e garantindo resultados na A-League? O desempenho em 2024 mostra que não.
Comentários