A cidade de Blumenau tem dois clubes profissionais de futebol, mas nenhum estádio. Mas a falta de praças esportivas não era um problema tão grande nos tempos áureos do futebol blumenauense.
No século passado, os campeonatos citadinos eram muito comuns e disputados por grandes clubes. A cidade de Blumenau contou com um forte torneio municipal, que era recheado de rivalidades entre clubes com força para disputar um estadual.
Progresso (hoje Canto do Rio) x Amazonas e Palmeiras x Olímpico são dois exemplos dos clássicos da cidade. Todos clubes com estádios próprios, que recebiam partidas oficiais.
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“O clima era bom toda cidade, uma época de pura nostalgia. E cada um fazia a sua parte”, contou o historiador Adalberto Day, referência da área em Blumenau.
Era comum Palmeiras e Olímpico disputarem o campeonato estadual ao mesmo tempo. Porém, ter mais clubes da cidade, não. “Nunca os cinco principais times de Blumenau jogaram o estadual juntos. Apenas em duas oportunidades, na década de 1960, três clubes disputaram ao mesmo tempo, sendo Palmeiras, Olímpico e Guarani em 1964, e Palmeiras, Olímpico e Vasto Verde em outro ano”, explicou Adalberto Day.
Os estádios dos principais clubes da cidade tinham estrutura com arquibancada, como o Guarani com seu estádio no bairro Itoupava Norte. O Vasto Verde, com o Estádio Curt Hering, no bairro da Velha. O Olímpico, com a Baixada, na Alameda. O Palmeiras, com o Deba, na Rua das Palmeiras. O Canto do Rio, com o estádio no bairro Progresso, o qual ainda existe e recebe partidas do campeonato amador. E o Amazonas com o gigante estádio da Empresa Industrial Garcia.
Além dos estádios próprios dos clubes, existe em Blumenau o Complexo Esportivo do Sesi, utilizado até o ano passado, onde aconteceu um dos jogos mais marcantes da cidade.
O Flamengo veio visitar o Blumenau em jogo da volta das oitavas de final da Copa do Brasil. No Maracanã o placar foi de 2 a 0 para o lado rubro-negro. No Sesi, Zico, Alcindo e Nando Pinho marcaram a vitória por 3 a 1. O gol do Blumenau foi de Walbert.
Assim como o Canto do Rio, o Sesi ainda existe, mas não há planos de aluguel para o futebol profissional.
O estádio mais emblemático de Blumenau
O estádio Aderbal Ramos da Silva, carinhosamente chamado de Deba, foi inaugurado em 1927 e reformado em 1948, em “uma das histórias que mais demonstra o amor pelo clube”, como disse Adalberto Klüser em texto disponibilizado por Adalberto Day no seu material sobre o BEC.
O campo do então Palmeiras não tinha as dimensões oficiais, e a cerca em volta do gramado era precária. Com isso, os jogos oficiais do time eram disputados no estádio da Baixada, do rival Olímpico.
Terminado o turno de um dos campeonatos da Liga Blumenauense de Futebol, o mandante para o clássico contra o Olímpico era o Palmeiras, e a diretoria do rival não quis mais ceder o campo.
Então, a mando do presidente do Palmeiras, Germano Beduschi, o campo do time foi totalmente reformado, com obras começando na quinta-feira, feitas por torcedores e funcionários da empresa de Beduschi. O estádio ficou pronto para o jogo no domingo, e o Palmeiras venceu o clássico por 4 a 0.
“O que diriam estes operários e torcedores ao passar hoje pela Alameda?”, pergunta Klüser ao final do texto. E realmente, o que pensariam vendo toda aquela história linda virando dois terrenos baldios cortados por uma rua.
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Demolido em 2007, o Deba faz parte da história da cidade
Praticamente abandonado por causa da falência do Blumenau Esporte Clube, o estádio foi leiloado e, na sequência, demolido pelo dono após começar o processo para tornar a estrutura patrimônio histórico.
O jornalista Vilmar Minozzo, hoje repórter da rádio CBN Vale do Itajaí e TV Legislativa, cobriu o BEC nas décadas de 1980 e 90. “Acho que meu tempo de cobertura do Blumenau foi realmente a época de ouro do clube”, comentou.
“Houve momentos de vários jogos importantes, grandes, e aquela coisa de chegava e não chegada. Vice-campeão estadual, segunda divisão nacional. Eu tive a oportunidade de cobrir jogos nesse momento de ouro de Blumenau, com jogadores e técnicos importantes que passaram por aqui, como Geninho, Levir Culpi e Zé Carlos. Ume pena que teve esse fim do clube e do estádio”, explicou Vilmar Minozzo.
O jornalista falou também sobre a força do time, que no Aderbal Ramos da Silva disputou jogos históricos. “Eu fiz (a cobertura de) grandes amistosos, como BEC x Botafogo. O Bebeto esteve aqui jogando pelo Vasco, em jogo vencido pelo Blumenau. Diziam que a capacidade era de 4 mil pessoas, mas tinha muito mais gente lá”.
O Aderbal Ramos da Silva está na memória do torcedor, por sua característica única e pelo clima que a torcida tricolor causava. “Torcer no Deba era diferente. Um estádio no centro da cidade, a torcida ficava perto dos jogadores e fazer pressão era fácil. Tinha uma energia positiva, muita emoção”, relatou o torcedor Laerte Schmitz, que guarda um documento com todos os resultados da história do Blumenau Esporte Clube, desde a fusão do Olímpico e do Palmeiras em 1980.
Para Laerte, um jogo em novembro de 1981 é um momento que recorda com bastante carinho. “BEC, 2 a 1 no Figueirense, de virada. Mudei de lugar umas dez vezes, inflamei todos (da torcida) para virar o placar. Da arquibancada descoberta até a outra ponta da geral. Deu certo. No segundo tempo Cláudio e Chicão marcaram, o BEC virou e quase que o alambrado foi derrubado. Foi memorável pra mim.”
Sobre a demolição do estádio, Laerte conta que a falência do BEC não foi o motivo. “A falência resulta em tristeza, fim de tudo. Se foi verdade os motivos, ninguém sabe até hoje. Mas a demolição do estádio em 23 de setembro de 2007 foi apenas por política, não foram as dívidas”.
O maior estádio que Blumenau já teve
O estádio da Empresa Industrial Garcia abrigava o tradicional Amazonas Esporte Clube. Embora campeão de diversos torneios, como o campeonato citadino, o Alviceleste do Bairro Garcia nunca disputou uma competição estadual, visto que a empresa que o administrava não permitia.
Mesmo assim, o estádio era o maior da cidade. “Ironicamente, o único time que não disputou o estadual tinha o maior e mais belo estádio da região. Para as disputas do campeonato catarinense atual, todos os estádios teriam que sofrer alterações e ampliações, e o que mais tinha espaço era o do Amazonas. Teria um local que seguramente daria para colocar sentadas 30 ou 40 mil pessoas”, disse Adalberto Day, que além de historiador é torcedor declarado do Amazonas Esporte Clube.
O Amazonas foi o primeiro campeão oficial de Blumenau, vencendo o Torneio Início em abril de 1941. A empresa Artex aterrou o estádio em 1974, após anexar a Empresa Industrial Garcia. No mesmo ano, veio o último título do clube: a Taça Governador Colombo Machado Sales, que contou com a participação de Marcílio Dias, União de Timbó, Carlos Renaux, Tupi e Humaitá.
“Sou torcedor desde garoto do Amazonas. Conheci vários jogadores que atuaram no time desde o início”, conta Adalberto Day. “Um dos acontecimentos que mais me emocionou foi a comemoração de oitenta anos de fundação do Amazonas, no dia 25 de Setembro de 1999 na Associação Artex. Foi um encontro de todas as gerações do clube, e não faltaram lágrimas, principalmente quando pronunciei uma crônica sobre as atividades do clube e o porquê do encerramento da agremiação”, relembra o historiador.
“Presenciei muitas partidas memoráveis no estádio da Empresa Industrial Garcia, desde o início dos anos 1960 até o último jogo em 26 de maio de 1974, quando joguei na preliminar”, termina Adalberto Day.
(Texto produzido para a disciplina de Plataformas Multimídia do curso de jornalismo da Universidade Regional de Blumenau e adaptado para o Última Divisão)
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