Suécia em 1958, Dinamarca em 1992, Noruega em 1998, Islândia em 2016. Se pegarmos alguns dos grandes momentos do futebol, pode crer que fatalmente esbarraremos em uma seleção nórdica. Quer dizer, isso se tirarmos a Finlândia da conta.
Por que das seleções nórdicas, que praticamente compartilham da mesma cultura, história e geografia, a Finlândia é a única que nunca chegou lá? Para entender melhor, conversei com Rich Nelson, um inglês fanático por futebol finlandês e dono do site Escape to Suomi, e ele deu a letra: embora haja infraestruturas similares ao da Islândia e da Noruega no país, ainda faltam um espírito competitivo na seleção, um espírito de vitória entre os praticantes e uma cultura futebolística na população. E a elogiada educação de qualidade acaba sendo um “problema” para mudar esse quadro.
Confira a entrevista:
Última Divisão: Antes de mais nada, de onde vem esse seu interesse pelo futebol finlandês? Você torce para alguma time local?
Rich Nelson: Sou casado com uma finlandesa. Visitei o país pela primeira vez em 2008 e voltamos para lá pelo menos uma vez por ano. Apesar de que agora tivemos nosso primeiro bebê, então provavelmente não iremos neste ano. Minha mulher é de Kuopio, na parte central da Finlândia, então meu time favorito é o KuPS – chegamos a ver uma partida deles contra um time galês pela Europa League em 2012. Mas na Inglaterra eu torço para o Arsenal, já que é o time mais próximo da região onde nasci, no norte de Londres.
UD: Você acha que um dia a Finlândia poderá ser uma surpresa igual à Islândia na Euro 2016, ou mesmo se classificar para um grande torneio?
RN: Finlândia teve sua melhor chance nas qualificatórias da Euro 2016. Eles realmente poderiam ter se saído melhor no grupo (Finlândia terminou em 4° e perdeu a vaga da repescagem para a Hungria). Alguns dos jogadores são melhores individualmente do que talvez seus colegas nórdicos, como Tim Sparv (Midtjylland–DIN), Lukas Hradecky (Eintracht Frankfurt–ALE) e Roman Eremenko (CSKA Moscou-RUS), mas infelizmente eles não jogam com a mesma liberdade na seleção, cuja mentalidade é mais a de se defender e usar a força do que jogar aberto e com estilo. Além disso, (o ex-técnico) Mixu Paatelainen foi demitido tarde demais para fazer alguma diferença, e o novo treinador Hans Backe não conseguiu mudar as coisas.
UD: Como os finlandeses lidam com o futebol?
RN: Culturalmente, o futebol é visto mais como uma atividade de crianças de classe média. Não se vê crianças jogando bola na rua, e, para a maioria, seguir o caminho dos estudos é mais atraente do que virar esportista profissional. Há diversos campos e infraestrutura, tão presentes quanto na Islândia e Noruega, mas a atitude geral é mais de recreação do que desejo de vencer.
UD: Li uma vez que hóquei no gelo ainda é o esporte preferido dos finlandeses. Continua assim ou os jovens estão mais ligados em futebol?
RN: Hóquei é de longe o esporte com mais público no país. A seleção nacional sempre disputa título nos mundiais e nas Olimpíadas de Inverno. Mas, por outro lado, o futebol inglês tem ganhado cada vez mais fãs, até mais do que o próprio campeonato finlandês. Os jogos da Premier League sempre passam na TV e um estudo recente da UEFA mostrou que o Barcelona é o time de maior torcida no país. Mas em jogos na Finlândia, a torcida até se esforça para criar uma atmosfera inspirada nos ultras do leste europeu – mas ainda há um longo caminho a percorrer e logo as autoridades vão dar um jeito de controlar isso.
UD: E quanto ao futebol feminino? Como ele se enquadra na cultura do país?
RN: A seleção feminina já foi mais longe do que a masculina. Elas jogaram as últimas Euros e tem excelentes jogadoras. Porém, ainda estamos muito atrás de outros países onde o esporte é mais estabelecido e é difícil o time passar da fase de grupos dos torneios. A diferença entre a seleção finlandesa com a dos EUA, Alemanha e Japão é enorme, e isso tem muito a ver com dinheiro e infraestrutura. E a maioria das atletas não jogam na Finlândia, mesmo com muitos clubes de futebol masculino possuindo uma contraparte feminina, como Helsingin Jalkapalloklubi, Turun Palloseura e PK-35 Vantaa. Mas, novamente, o problema é semelhante ao dos homens, em que o futebol é visto mais como recreação do que uma opção de carreira.
UD: Você acha que a Finlândia tem alguma chance de ir para a Copa da Rússia em 2018?
UN: Acho que o grupo da Finlândia é difícil – no sorteio eles estavam no penúltimo pote devido à péssima campanha de Mixu Paatelainen – e a performance média dos outros times é alta. Apesar do grupo das Eliminatórias não ter nenhuma grande seleção, Croácia, Islândia, Turquia e Ucrânia estiveram na Euro 2016 e ninguém sabe ainda o que Kosovo pode aprontar. Mesmo estar entre os dois melhores é uma tarefa complicada. A Finlândia fez um gol até agora em 2016, então é difícil ver alguma melhora.
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