Em reedição da final do ano passado, o Auckland City voltou a derrotar o rival Team Wellington, conquistando o oitavo título da Liga dos Campeões da Oceania – a sexta taça consecutiva, um recorde -, no início da madrugada do sábado (pelo horário de Brasília).
Após as últimas partidas entre os dois times, esperava-se equilíbrio em campo, mas o que se viu foi um massacre: com domínio absoluto, os Navy Blues fizeram 3 a 0 e carimbaram mais uma passagem para o Mundial de Clubes, sonhando repetir a histórica campanha de 2014.
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Com correspondente na Nova Zelândia, o Última Divisão acompanhou tudo de perto e produziu material exclusivo sobre o mais alternativo dos torneio interclubes. Agora, com os jogos encerrados, fizemos um balanço geral com alguns destaques da competição.
Confira a seguir:
NÚMEROS GERAIS
Gols: 97 (média de 35,9 por partida)
Artilheiros: João Moreira (Auckland City) e Jared Colligan (Tupapa Maraerenga, das Ilhas Cook, que caiu na fase preliminar) – 5 gols cada
Melhor ataque: Tefana (Taiti) – 17 gols
Melhor defesa: Auckland City (Nova Zelândia) – 4 gols sofridos
Maior goleada: Tupapa Maraerenga (Ilhas Cook) 9 x 1 Utulei Youth (Samoa Americana), na fase preliminar (vídeo acima)
Maior goleada na fase final: Tefana (Taiti) 7 x 0 Kiwi FC (Samoa)
POLÊMICAS
Disputada entre dois times praticamente já eliminados, a partida Nadi (Fiji) 4 x 3 Kiwi FC (Samoa) foi a mais movimentada do torneio, para não dizer controversa. Foram seis expulsões, três de cada lado, todas após o placar marcar 3 a 1 para os samoanos. Com os “nervos à flor da pele”, os fijianos viraram na segunda etapa.
Alguns gols chamaram a atenção por falhas bisonhas, mas isso não é raro na Oceania. O que levantou mais suspeita form os lances que ocasionaram os cartões vermelhos.
No vídeo acima é possível conferir:
1min27seg – briga de telequete causa duas expulsões, uma em cada time
2min09seg – goleiro do Kiwi FC intervém estranhamente em briga e é expulso; atleta do Nadi vai para o chuveiro pelo mesmo incidente
2min43seg – jogador do Kiwi FC dá uma cabeçada no pé do rival e é expulso com segundo amarelo
3min01seg – expulsão do Nadi: jogador chuta a bola após árbitro marcar impedimento, já com 8 minutos de acréscimo. Logo após esse lance, saiu o gol da vitória fijiana
No Youtube, diversos internautas comentaram sobre a quantidade de apostas relacionadas ao jogo. Um homem se identificando como inspetor da Fifa disse que a partida está sob investigação.
O caso foi primeiramente comunicado à equipe do Última Divisão pelo leitor Marco Caperino, que colaborou com informações utilizadas neste texto.
O torneio também teve um caso de “tapetão”. Equipe com maior investimento entre os times de fora Nova Zelândia, o Amicale de Vanuatu contou com uma ajuda externa para chegar na última rodada da fase de grupos com melhores chances de classificação.
Em campo, o time vanuatense precisou marcar nos acréscimos do segundo tempo para empatar com o Solomon Warriors, por 1 a 1, e se manter vivo no torneio. Dias depois, porém, o placar foi alterado após comprovação da escalação irregular de um atleta do time das Ilhas Salomão.
Com os “pontos extras”, o Amicale quase chegou à semifinal, mas uma derrota para o Auckland City, também sacramentada nos minutos finais, encerrou a campanha da equipe do zagueiro brasileiro Diego Galvão.
EM FAMÍLIA
Recentemente Rivaldo teve o privilégio de jogar com o seu filho no Mogi Mirim, mas quantas histórias você conhece de pai e filho atuando como adversários em um campo de futebol? Isso poderia ter acontecido na Liga dos Campeões da Oceania.
Em grupos diferentes, Kiwi FC e Auckland City contavam em seus elencos, respectivamente, com Barry Lewis (pai, de 39 anos) e Clayton Lewis (filho, de 19).
Ambos já defenderam a seleção neozelandesa e possuem grande reputação no meio esportivo do país. Enquanto Clayton ainda é uma promessa, o experiente Barry, próximo de se aposentar, aceitou o convite de jogar pelo Kiwi.
O clube samoano, desde o início apontado como equipe mais fraca da competição, não decepcionou e terminou como a pior a campanha da fase final, impossibilitando o histórico embate familiar.
TEAM WELLINGTON, A NOVA FORÇA
Sempre amador, o Team Wellington originou o Wellington Phoenix, única equipe profissional da Nova Zelândia, que desde 2007 representa o país na A-League (campeonato australiano). Os dois clubes mantiveram uma sólida parceria até 2014, quando o Phoenix decidiu lançar uma franquia própria na ASB Championship, a liga neozelandesa.
Curiosamente, foi após o distanciamento do clube-irmão que o Team Wellington passou a colecionar seus principais resultados. Em março de 2016, após três vice-campeonatos, veio o primeiro título nacional da história, vencendo o Auckland City na prorrogação em uma eletrizante final.
A ambição agora é a taça continental. Em 2015 faltou muito pouco: após empate com os rivais de Auckland no tempo regulamentar, o clube de Wellington perdeu a decisão nos pênaltis.
Era de se esperar que viria uma nova disputa equilibrada em 2016, o que não aconteceu. Pelo passado glorioso e a proximidade das cidades, Auckland City x Waitakere United fazem historicamente o maior clássico neozelandês, como já comentamos aqui. Mas não há dúvida que a segunda grande força do país no momento é o Team Wellington, que, pela crescente dos últimos anos, deve jogar o Mundial de Clubes em breve.
RAMON, O PAPA-TÍTULOS
À frente do Auckland City nos últimos seis títulos da Liga dos Campeões, o catalão Ramon Tribulietx é o treinador com mais conquistas continentais no mundo, já com a duas a mais que o argentino Carlos Bianchi, quatro vezes campeão da Libertadores com o Boca Juniors.
Ramon explicou seu método recentemente para a revista OFC Insider: “clubes neozelandeses sempre jogaram um futebol baseado em ligações diretas, com o qual não me identifico. Quando cheguei, tive trabalho para mudar a mentalidade e transformar o City em uma equipe que valoriza a posse de bola. Seguimos o conceito do Barcelona, todos sabem que sou catalão e os admiro. Mas não podemos nos comparar ao melhor time do mundo, o estilo é adaptado para as nossas condições”.
O MAIORAL
O hexacampeonato do Auckland City é inédito em copas continentais. Nunca um clube foi soberano por tanto tempo.
MAIORES SÉRIES DE TÍTULOS POR CONTINENTE
Liga dos Campeões da Oceania: 6 títulos consecutivos – Auckland City (NZL) 2011/12/13/14/15/16
Liga dos Campeões da Europa: 5 títulos consecutivos – Real Madrid (ESP) 56/57/58/59/60
Libertadores: 4 títulos consecutivos – Indepentiente (ARG) 72/73/74/75
Liga dos Campeões da Concacaf: 3 títulos consecutivos – Cruz Azul (MEX) 69/70/71
Monterrey (MEX) 2011/12/13
Liga dos Campeões da Ásia: 2 títulos consecutivos – Al-Ittihad (ASA) 2004/05
Suwon Bluewings (CDS) 2001/02
Pohang Steelers (CDS) 97/98
Thai Farmers Bank (TAI) 94/95
Liga dos Campeões da África: 2 títulos consecutivos – Al Ahly (EGI) 2005/06 e 2012/13
TP Mazembe (RDC) 67/68 e 2009/10
Enyimba (NIG) – 2003/04
Antes do hexacampeonato, o Auckland City já havia vencido a taça em 2006 e 2009. Com oito títulos no total, o clube está a dois de igualar o Real Madrid, que há dois anos fez furor por conquistar “la décima“.
MAIORES CAMPEÕES CONTINENTAIS
1º Real Madrid (Espanha) – 10 títulos da Liga dos Campeões da Europa
2º Auckland City (Nova Zelândia) – 8 títulos da Liga dos Campeões da Oceania
2º Al Ahly (Egito) – 8 títulos da Liga dos Campeões da África
4º Independiente (Argentina) – 7 títulos da Libertadores
4º Milan (Itália) – 7 títulos da Liga dos Campeões da Europa
6º Boca Juniors (Argentina) – 6 títulos da Libertadores
6º Cruz Azul (México) – 6 títulos da Liga dos Campeões da Concacaf
6º América (México) – 6 títulos da Liga dos Campeões da Concacaf
SÓ DÁ NZ
Foi a terceira final neozelandesa na competição continental:
2013: Auckland City 2 x 1 Waitakere United (foto acima)
2015: Auckland City 1 x 1 Team Wellington (4 x 3 nos pênaltis)
2016: Auckland City 1 x 0 Team Wellington
Equipes da Nova Zelândia venceram 10 das 16 edições da Liga dos Campeões da Oceania (8 vezes com o Auckland City e 2 com o Waitakere United). Os quatro primeiros torneios foram vencidos por clubes da Austrália, que, sem rivais à altura, partiram para a Confederação Asiática em 2006.
Em 2010, o Hekari United, de Papua-Nova Guiné, foi o único clube de fora do “eixo” a levantar o troféu.
CADEIRAS VAZIAS
O público total de Auckland City 3 x 0 Team Wellington não foi divulgado até a edição final desta matéria. É possível que tenha se aproximado dos números de outras partidas decisivas disputadas na Nova Zelândia, com entre 2.000 e 3.000 pessoas, apesar do QBE Stadium – geralmente utilizado para esportes como rúgbi e críquete – comportar 25.000.
Até a decisão, o torneio de 2016 teve média de 200 presentes por rodada dupla. Não houve cobrança de ingressos, mas sim um pedido por doações para vítimas do ciclone que atingiu as Ilhas Fiji em fevereiro.
Vale lembrar que os maiores públicos da história da competição tiveram como sede estádios em ilhas menores do Pacífico.
Em 2008, o jogo de ida da final entre Kossa e Waitakere United levou cerca de 20.000 pessoas ao Lawson Tama Stadium, em Honiara, capital das Ilhas Salomão. Os anfitriões venceram por 3 a 0, mas foram derrotados por 5 a 0 na volta.
Outros públicos acima de 10.000 presentes já foram registrados na Ilhas Salomão, além de partidas em Vanuatu e Papua-Nova Guiné. Os métodos de contagem, no entanto, são sempre questionáveis.
JOGANDO EM CASA
Foi a sexta vez que o Auckland City conquistou a taça da Oceania jogando em sua cidade. Veja onde cada um dos oito títulos foi sacramentado:
Auckland (Nova Zelândia) – 6 vezes
QBE Stadium (capacidade para 25.000 pessoas): títulos de 2006 e 2016
Mount Smart Stadium (capacidade para 30.000 pessoas): título de 2013
Kiwitea Street Stadium (capacidade para 3.200 pessoas): títulos de 2009, 2011 e 2014
Suva (Fiji) – 1 vez
National Stadium (capacidade para 4.000 pessoas) : título de 2015
Faaa (Taiti) – 1 vez
Staide Louis Ganivet (capacidade para 5.000 pessoas): título de 2012
Na foto, o Kiwitea Street, rústico estádio onde o Auckland City joga a maioria das suas partidas como mandante – sim, tem um cachorro amarrado na arquibancada!
https://www.youtube.com/watch?v=LaiL66Mw8uI
Mas não há como fugir, a cena que será sempre lembrada como marco do torneio foi o gol contra do goleiro taitiano Mickäel Roche na primeira rodada. Em entrevista exclusiva ao Última Divisão, ele comentou o lance.
Coisas que só o futebol da Oceania pode proporcionar :P
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