Aos 35 anos, o atacante Rodrigão já poderia ter pendurado as chuteiras. Mas o jogador, que despontou no final da década de 90 jogando pelo Santos, não desanima: em 2014, reforça o São Carlos na Série A3 do Campeonato Paulista, tentando ajudar o time a evitar o rebaixamento para a quarta divisão estadual.
Embora seja a contratação mais midiática do time no ano, Rodrigão já sabe que o fim da linha se aproxima. Ele poderia ter parado, mas não quer. Mais do que jogar, acredita que possa ser uma influência positiva aos jogadores mais jovens. Além de jogar, quer conversar, orientar, aconselhar, oferecer sua experiência ao time que tem seu amigo Nenê Belarmino como auxiliar-técnico. Até porque a função após o adeus não será muito diferente.
“Esses (jogadores) mais jovens procuram, acreditam e confiam no que eu falo, até pela historia da minha carreira. Muitos podem criticar o meu futebol, mas ninguém tem um A para falar da minha carreira”, contou Rodrigão em entrevista ao blog, admitindo estar próximo da hora de trocar os gramados por um cargo nos bastidores. “Não me vejo como empresário. Lógico, vou seguir no ramo do futebol. Não adianta agora eu querer ser gerente de banco. Dediquei 20 anos da minha vida ao futebol, então certamente vou assumir algum cargo dentro de futebol. Treinador? Não sei”, completou.
Rodrigão descarta uma carreira como empresário, já que demonstra não confiar na classe. Lembra problemas que teve com um deles quando trocou o Santos pelo futebol francês em 2001. Por isso, prefere ser um orientador. Hoje, já em transição, faz seu currículo com cursos para trabalhar nos bastidores.
Rodrigão sabe que já não está na mira dos clubes grandes do Brasil. Depois de passar por Aimoré e Portuguesa Santista em 2013, ele leva sua experiência ao São Carlos. Ao blog, apresentou seus planos para a aposentadoria, que deve acontecer até 2017. E não escapou de uma pergunta sobre o namoro com a ex-jogadora de basquete Hortência.
Confira o bate-papo com Rodrigão:
Última Divisão – Você estreou contra o Votuporanguense (12 de março), uma derrota por 4 a 1. Como foi esse retorno?
Rodrigão – Não foi positivo porque saímos derrotados, um placar elástico. Mas cheguei em um momento complicado, delicado do time na competição. Trabalho com uma pessoa com quem eu já conheço, o Nenê Belarmino. O confronto contra o líder (Rio Preto) pode ser um divisor de águas. Uma vitória pode motivar bem o time.
(Nota do blog: a entrevista foi feita antes da vitória em casa do São Carlos por 2 a 0 sobre o Rio Preto. Rodrigão saiu do banco aos 23min do segundo tempo.)
Última Divisão – E para você? Como você sentiu a condição física?
Rodrigão – O aspecto físico, eu não senti. Sempre me preparei. Lógico, precisa agora de um pouco de ritmo de jogo.
Última Divisão – Como você vinha mantendo a forma?
Rodrigão – Na verdade, tem uma pessoa que me treina, que é formado em fisiologia. É o mesmo que começou a ganhar notoriedade agora graças ao Gabigol (atacante do Santos), o Marcelo Duarte. Alguns atletas já treinam com ele. Treino com ele há oito anos quando estou sem equipe, até porque ele tem o acompanhamento de médicos, de nutricionistas.
Última Divisão – Sua última equipe foi a Portuguesa Santista, na disputa da Segunda Divisão do Campeonato Paulista (2013). Como foi essa passagem?
Rodrigão – Foi muito boa. Tenho um vínculo de amizade com o investidor, o Wladimir Mattos. Conheci ele quando assinei contrato com a Portuguesa, e hoje tenho um vínculo bacana com ele. No aspecto pessoal, individual, foi bom – acabei fazendo seis gols em dez jogos. No aspecto coletivo, não conseguimos o acesso. Fizemos um bom trabalho com o Paulinho (Kobayashi, técnico), mas ele só é reconhecido com o acesso. A Portuguesa Santista vinha desacreditada, e em muitos jogos – inclusive no último, com o Atibaia – tivemos um grande número de torcedores, acima do normal. Conseguimos resgatar isso. Muitos têm o Santos com o primeiro time e a Portuguesa ou o Jabaquara como segundo. Mas, infelizmente, futebol é resultado.
Última Divisão – E como aconteceu esse acerto com o São Carlos?
Rodrigão – Foi um convite feito por um treinador feito com um treinador que já trabalhou comigo no Santos. Pediram uma força aqui. Acreditei nas pessoas que estão aqui, que estão ligadas ao São Carlos, com um projeto bacana. O time está em uma situação delicada, mas, para mim, é um novo projeto, um novo desafio. Tento fazer meu melhor dentro de campo e também fora. É uma equipe jovem. Passo essa minha experiência.
Última Divisão – Como tem sido essa convivência com os novos companheiros?
Rodrigão – Eu acho que é pouco tempo ainda. Mas já deu pra conversar com alguns atletas. Essa forma de liderança que eu aprendi a ter. Esses mais jovens procuram, acreditam e confiam no que eu falo, até pela historia da minha carreira. Muitos podem criticar o meu futebol, mas ninguém tem um A para falar da minha carreira. Quem quiser me procurar para me usar mesmo, posso passar essa experiência. Nos últimos cinco anos, eu ajudo o treinador – não a escalar, mas a orientar. Sei como é difícil lidar com 35 jogadores. Sei como é dificil optar por 11.
Última Divisão – Aos 35 anos, você sente que está chegando a hora de parar?
Rodrigão – Não no aspecto físico. Ainda me considero em condições totais. Sempre me cuidei. Penso em atuar mais uns dois ou três anos, mas entendo que não vou para uma equipe forte. O mercado de futebol exige atletas jovens, a menos que já estão nos clubes grandes. Aí, acredito que devo antecipar o encerramento da minha carreira. Estou me preparando, lógico. Fiz um curso no ano passado na Universidade do futebol, já tinha feito um de gestão de pessoas, e fiz um treinamento de coaching. No meio do ano, vou me especializar ainda mais. Estou me preparando, e mantendo contatos.
Última Divisão – Pelo que você falou, não tem como não pensar em uma carreira sua como treinador.
Rodrigão – Já me preguntaram. Muitos atletas mais jovens, por saberem do meu perfil e da minha índole, já me procuraram para empresariá-los. Não me vejo como empresário. Lógico, vou seguir no ramo do futebol. Não adianta agora eu querer ser gerente de banco. Dediquei 20 anos da minha vida ao futebol, então certamente vou assumir algum cargo dentro de futebol. Treinador? Não sei. Hoje não sei te responder se vou ser treinador. Mas não vou ser empresário. O empresário hoje é um negociador de atletas. De repente, uma ideia que eu penso é dando um segmento de orientação ao atleta. Até gerente de um clube. Quero me preparar primeiro. Ano passado, tive o convite para ser gerente no Aimoré (RS), mas não aceitei para jogar um pouco. Esse ano, recebi o convite para ser coordenador técnico do Santo André e também agradeci. Prefiro esperar um pouco. A vontade de jogar existe. Esse período que fiquei inativo me serviu para pensar.
Última Divisão – Pelo tom da conversa, você parece ter alguma mágoa com empresários…
Rodrigão – No início da minha carreira, tive um empresário que acabou… Ninguém assume a culpa de nada. Mas quando fui vendido para a França (Saint-Etienne, em 2011), apareceram 500 mil euros que acabaram sumindo. Isso mexeu muito com a minha cabeça. Não quero citar nomes, mas eu poderia… Eu classifico empresário como negociador e orientador. Negociador são 80%, 90% dos empresários, e o orientador como 10%. O que eu classifico como orientador: o que o atleta não tem, de orientação, aquele que não aparece só na negociação. Orientar o caminho ao ser seguido. Quando a gente é jovem, comente erros. Eu falo pela minha classe: se tivéssemos essa orientação, eu não adquiria essa orientação aos 26 anos, quando passei a enxergar o futebol de outra maneira. Mas tive outro empresário, o Carlito Arini, e só tenho coisa boa para falar.
Última Divisão – Não tem como não perguntar: em um elenco com jogadores mais jovens, você é muito perguntado sobre a relação com a Hortência?
Rodrigão – Olha, nós já estamos separados há três ou quatro anos. Foi uma pessoa que me ensinou muito, uma pessoa ligada aos esportes. Na sua modalidade, ela foi a melhor. Quando eu falo que eu cresci profissionalmente, que eu tive uma maturidade, foi a partir dela. Foi quando a conheci. Tudo que eu falasse, eu estava errado. Eu não poderia discutir, mesmo se tratando de esportes diferentes. Fui humilde o suficiente para escutar e acatar o que ela estava me passando. Foi uma pessoa que teve uma importância muito grande na minha vida. Hoje, para mim, é uma irmã.
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