A participação do Taiti na Copa das Confederações foi o melhor acontecimento do mês, do ano ou até da década para quem gosta de futebol alternativo. Carisma, paixão, simpatia, garra, força de vontade, dedicação, esperança… tudo isso foi visto nos três jogos que o time da Polinésia Francesa disputou no Brasil. Porém, por pouco isto não foi diferente: a seleção da Nova Caledônia esteve perto de ocupar o lugar do Taiti. Teria sido pior? Ou melhor? Não faltarão informações para que você chegue a uma conclusão nas próximas linhas…
Os níveis de futebol do Taiti e da Nova Caledônia são bem parecidos na prática. Os caledônios têm mais jogadores profissionais, mas a maioria também sobrevive de outras profissões. E há inclusive um nome para o clássico entre estas duas equipes: Derby Francófono. Evidentemente, trata-se de uma referência à França, que colonizou os dois países, que ainda buscam a independência total – os caledônios votarão em referendo em 2014 para decidirem se preferem se separar ou seguir como parte da República Francesa
Mas o que importa é o futebol e a seleção dos “Cagous” – ave típica da região, que tem cerca de 50cm, não consegue voar e atualmente está sob perigo de ext… perdão, voltemos a falar de futebol, agora sim: a Nova Caledônia está em 97º lugar no ranking da Fifa, sendo que em 2006 chegou a estar na 188ª posição. Eram anos difíceis, já que a seleção tinha conseguido a filiação há pouco tempo. Mas o time evoluiu e, em 2012, chegou a ter o melhor ataque do mundo, com 34 gols em nove partidas contra seus vizinhos – sim, existem seleções muito piores que Taiti e Nova Caledônia.
Tanto que a maior goleada da história dos caledônios foi um placar de 18 a 0 conquistado duas vezes – contra Guam, em 1991. e contra a Micronésia, em 2003. Mas em partidas reguladas pela Fifa, a principal delas foi contra a Samoa, por 9 a 0, em 2012, pela Copa das Nações da Oceania.
Outra informação que talvez você não saiba, mas deveria saber, é que Christian Karembeu nasceu na Nova Caledônio. Não é nenhum Karembeu genérico – é aquele que foi campeão do mundo pela França e também o mesmo que foi humilhado por Edílson Capetinha no Mundial de Clubes de 2000. Apesar da natureza caledônia, ele se mudou para a França e resolveu jogar por lá.
Azar o dele, pois perdeu a chance de atuar no Estádio Numa-Daly Magenta, criado em 2006, que recebe 16.000 pessoas e ainda é multiuso, podendo ser usado por vários esportes diferentes do país. Além disso, Karembeu ainda poderia ter atuado ao lado de seu primo, Vincent Taua, que fez carreira em times modestos da Itália e sempre jogou na seleção dos Cagous. E ele está longe der o melhor personagem da seleção da Nova Caledônia…
Olivier Dokunengo, por exemplo, acumula funções na equipe. Não por ser versátil em campo, mas sim fora dele: além de atuar e ainda ser o capitão, ele também é diretor executivo da Federação Neo-Caledônia de futebol. Já o atleta mais famoso é Georges Gope-Fenepej, que já foi destaque no site da Fifa, está um time da primeira divisão francesa, o Troyes. Porém, ele atuou apenas no time B, enquanto a equipe profissional foi rebaixada nesta temporada. O castigo e a lição foram dados para o time, certo?!
Os outros profissionais da seleção caledônia atuam na França, é claro: Dominique Wacalie, Joël Wakanumuné e César Lolohea. E há ainda curioso caso do técnico Alain Moizan, que é senagalês, se naturalizou francês e já treinou seleções do Mali e da Mauritânia.
Toda essa variedade de experiências, culturas e novidades poderia ter vindo ao Brasil neste ano, se a Nova Caledônia tivesse feito o mais fácil: o mais difícil foi feito na semifinal, quando a equipe bateu a Nova Zelândia, dominante no continente desde que a Austrália foi parar na Ásia (futeboliscamente falando) – eram três títulos seguidos dos neozelandeses, que caminhavam para o quarto, mas tropeçaram na garra dos caledônios, após um jogo emocionanteque terminou 2 a 0, com gols de Kaï e Gope-Fenepej.
A final da Copa das Nações da Oceania – realizada em Ilhas Salomão, entre junho e julho do ano passado – teve então o Derby Francófono na decisão, em que o Taiti teve o mérito de fazer um gol logo no início, com Chong Hue, que decretou a vitória por 1 a 0 e a classificação inédita para a Copa das Confederações. Poderia ter sido a Nova Caledônia, mas sem dúvidas o continente veio bem representado para o Brasil.
Nas eliminatórias da Copa do Mundo de 2014 mais uma vez a Nova Caledônia fez bonito. Enquanto o Taiti ficou com apenas três pontos no quadrangular final, os Cagous terminaram na 2ª posição, com 12 pontos, inclusive com uma grande vitória “vingativa” contra o Taiti, por 4 a 3. A Nova Zelândia venceu todos jogos e avançou para a repescagem do continente, que será contra um representante da Concacaf. Mas outra vez o Brasil esteve muito perto de receber uma seleção (quase) tão carismática quanto o Taiti.
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