É muito fácil e já virou até moda contratar argentinos, uruguaios, chilenos e sul-americanos em geral para o futebol brasileiro. Desafio mesmo é ser corajoso e contratar um “craque” de Serra Leoa, um destaque dos Emirados Árabes Unidos ou mesmo um iraquiano, hondurenho, bósnio, etc…
Todas essas nacionalidades alternativas já apareceram no futebol brasileiro. E infelizmente nem sempre a coragem dos dirigentes que fizeram essas apostas foi premiada. Na verdade é raro que um jogador venha de tão longe e realmente dê certo no Brasil. Mas essas tentativas sempre rendem boas histórias e curiosidades.
Por isso o Última Divisão resolveu relembrar esses estrangeiros que vieram de países com pouca tradição no futebol e tentaram a sorte por aqui. A lista é enorme, então foram selecionadas apenas dez nacionalidades, aquelas mais alternativas e que geraram as histórias mais curiosas.
Em primeiro lugar, o Última Divisão não poderia deixar de relembrar a história de Steve Loic Mbous, que já foi contada neste blog, com entrevista do camaronês e tudo mais.
Steve, autor do primeiro gol da história da Série D brasileira, no Maracanã, já saiu do Macaé, clube que ele defendia quando foi entrevistado pelo blog. Depois ele passou por Goytacaz, Chapecoense e estava no São Bento até março, quando rescindiu o contrato por não receber salários. Agora diz estar negociando uma transferência para times europeus.
Além de Steve, outros camaroneses já jogaram no Brasil. Seu caminho foi aberto pelo goleiro William Andem, que jogou no Bahia e no Cruzeiro durante a década de 90.
Depois dele, vários outros camaroneses já passaram pelo Brasil, como George Nouga e Ondigui Adams (Sport), Patrick (ECUS), Collins (Portuguesa Santista) e Vincent Bikana (categorias de base do Corinthians).
9º) Jamaicano
Um amigo de Bob Marley já jogou no Náutico. Alan Cole era o melhor jogador da Jamaica nos anos 70, mas ele dividia sua atenção entre praticar o esporte e se dedicar à música, compondo sons ou ajudando seu amigo.
Mas um amistoso em novembro de 71 mudou essa realidade. O Santos, ainda com Pelé, excursionou pela Jamaica e enfrentou Alan Cole, que teria até dado um drible da vaca no “Rei do Futebol”. Sua fama chegou ao Brasil e o Náutico, que também passou pela região, fez de tudo para contratá-lo.
O centroavante canhoto Alan Cole chegou com moral e até teve bons momentos em Pernambuco, mas ficou pouco tempo. Em menos de um ano, saiu com apenas três gols marcados. Há quem diga que o fato dele não abdicar do rastafarianismo e continuar fumando maconha teria causado sua demissão. Não dá pra duvidar…
8º) Costarriquenho
Muitos estrangeiros não deram certo no Brasil, mas poucos deram tanto trabalho para seu clube como o atacante David Madrigal, da Costa Rica, contratado pelo Ceará.
Isso porque ele quase fez o time perder um título conquistado no campo, o do Campeonato Cearense de 2002. O Fortaleza alegou que o estrangeiro estava com um visto irregular no Brasil e pediu a anulação da conquista. Mas a Justiça, por enquanto, deu ganho de causa ao Ceará.
7º) Hondurenho
Durante o final da década de 90, o Sport resolveu apostar nos talentos vindos de Honduras. Primeiro contratou o atacante Wilmer Velasquez, mas quem teve uma passagem mais marcante foi o lateral Chepo.
Ele é lembrando principalmente por sua raça e por um gol que fez em uma cobrança de falta, contra o Náutico, em um clássico agitado que terminou 3 a 3. O chute do hondurenho foi tão forte que, após bater na trave, acertou o rosto do goleiro e entrou. Veja o lance:
Há quem diga que, após fazer o gol, Chepo teria mostrado uma camiseta com a inscrição: “Cozido de Timbu”. Provocação pouca é bobagem!
6º) Húngaro
A Hungria ainda era uma potência no futebol quando o Flamengo teve a honra de contar com Flórián Albert no time. O húngaro chegou prestigiado, pois tinha disputado a Copa do Mundo de 1966, em que ajudou a eliminar a seleção brasileira.
Em 1967, ele participou de apenas dois jogos no Brasil, pois foi convidado para disputar a Taça Rivadávia Correia Meyer, vencida pelo Vasco. Foram as únicas vezes que o húngaro defendeu um clube que não fosse o Ferencváros.
Florián voltou para o seu país sem fazer gols pelo Fla, mas no final daquele ano foi eleito o melhor jogador da Europa pela revista francesa France Football, conquistando a Bola de Ouro. Nem Ferenc Puskás tem esse prêmio…
Além de Flórián Albert, outro húngaro que jogou no Brasil foi o atacante Roland Tuske, que não deu certo no Atlético-PR. Ele sofreu com problemas físicos e foi embora sem fazer um jogo sequer.
5º) Poloneses
Aqui a contratação foi dupla: Krzysztof Nowak e Mariusz Piekarski foram trazidos da Polônia por Juan Figer, empresário que fez sua fama durante a década de 90. Ele colocou os dois estrangeiros no Atlético-PR e a experiência não foi das piores, já que o Furacão alcançou as quartas de final do Brasileirão de 1996, com os dois no time.
Quem se destacou mais Piekarski, que depois ainda foi para o Flamengo, mas teve uma passagem apagada. Ele ainda foi parar no Mogi Mirim antes de voltar para a Europa, dessa vez para a França. Mas essa sua última transferência chegou a gerar uma CPI no Congresso, por causa da conduta do então presidente da FPF (Federação Paulista de Futebol), Eduardo José Farah.
Já Krzysztof Nowak foi jogar no Wolfsburg, mas teve sua carreira interrompida de maneira triste. Ele sofreu com um transtorno degenerativo incurável em seu cérebro e morreu em 2005.
4º) Bósnio
O Atlético-PR já é conhecido por suas frequentes apostas em estrangeiros, mas dessa vez o time paranaense foi longe demais. Apostou em Pintul, zagueiro que veio da Bósnia, jogou apenas uma partida e foi embora. O problema talvez tenha sido o excesso de trocadilhos com seu nome.
3º) Emiradense
Ou seria emiratense? Ou emirático? Enfim… o que importa é que Abdullah Al Kamali nasceu nos Emirados Árabes Unidos e foi jogar no Atlético-PR com apenas 18 anos de idade.
Ele chegou em maio de 2008 e foi embora em agosto de 2009, mas atuou poucos minutos durante todo esse tempo e logo voltou para seu país, onde está até hoje. Mesmo assim, fez história por ser o primeiro jogador profissional do mundo árabe a atuar no Brasil.
2º) Iraquiano
Após a queda do ditador Saddam Hussein no Iraque, a família de Ali Khaled Abu Taha fugiu para um abrigo de refugiados na Jordânia. Naquele momento, provavelmente o jovem pensou que jamais teria a chance de realizar seu sonho e se tornar jogador de futebol.
Mas um programa das Nações Unidas para refugiados fez com que Ali Taha viesse parar no Brasil, em Mogi das Cruzes-SP. Ele se adaptou rapidamente ao Brasil, aprendeu a falar português e foi indicado por um repórter árabe ao empresário João Gilberto Vaz. Este estava criando em Brasília um time de futebol, o Brazsat, que logo contratou o jovem iraquiano.
Longe da família, Ali Taha teve problemas para se adaptar ao futebol brasileiro e não se destacou. Até que o Brazsat foi desfeito e agora faltam registros sobre sua carreira.
1º) Serra-leonês
A história beira o inacreditável: Gofu Félix nasceu em Serra Leoa, ficou por 6 anos na Libéria e depois foi para a África do Sul. Lá ele tentou se tornar jogador de futebol, disputou campeonatos, mas teve problemas com documentação.
Em 2000, Félix tomou uma atitude que poderia ter acabado com sua vida: embarcou clandestinamente em um navio. Quando foi descoberto, atiraram-lhe ao mar e ele só foi encontrado, cerca de dez dias depois, quando chegou na costa brasileira e foi visto por pescadores.
Uma vez encontrado e asilado no Brasil, ele recebeu tratamento e, em inglês, manifestou sua vontade de ser jogador de futebol. A história comoveu a cidade de Natal-RN e times chegaram a brigar para contratar o jovem serra-leonês, de 17 anos. Ele foi para as categorias de base do América-RN, mas nem chegou a se tornar profissional.
Só que o melhor da história é que ele não é o único serra-leonês a jogar no Brasil. Ele abriu caminho para seus conterrâneos.
Em 2004, o Flamengo fechou acordo para fazer um intercâmbio com jogadores de Serra Leoa. Foi quando Aluspah Brewah, um atacante rápido, mas de pouca técnica, chegou ao Brasil. Ele fez testes, mas não foi aprovado, além de ter problemas com sua documentação.
Não foi fácil escolher apenas dez histórias para contar. É incrível como cada estrangeiro alternativo que aparece no Brasil rende algo de diferente, algo peculiar, algo que só enriquece o futebol. Tive que excluir ótimas histórias de liberianos, sul-africanos, sérvios, romenos, panamenhos, sul-coreanos, etc…
A RSSSF tem uma boa lista de estrangeiros que jogaram no Brasil. Ela não é 100% confiável, mas dá para perceber como existe uma variedade enorme de nacionalidades alternativas que já passaram pelo Brasil. E certamente todas elas renderam algo de curioso…
* Colaboraram Emanuel Colombari, Julio Simões e Sérgio Oliveira
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