O começo da Série D de 2022 foi atrapalhado por um grave problema: a transmissão dos jogos está cheia de problemas. Clubes consultados pelo Última Divisão estão insatisfeitos. Em busca de solução, alguns cogitaram fazer as próprias transmissões. Mas a CBF divulgou um ofício para lembrar a todos que vai suspender o pagamento de diversos benefícios caso eles transmitam os jogos. Até a arbitragem teria que ser custeada pelos times da Série D.
O problema começou quando a CBF fechou um contrato de exclusividade para que a InStat transmita os jogos. É uma empresa pouco conhecida no Brasil e focada em oferecer serviços para análise de desempenho. Não tinha experiência com transmissões no país.
Para piorar, o acordo foi firmado quando faltavam 3 dias para começar a Série D. Max Zelkcovik, responsável pela InStat no Brasil, já admitiu ao Última Divisão que essa falta de tempo atrapalhou a transmissão da primeira rodada. Apenas metade dos jogos passou na plataforma.
Na segunda rodada a InStat tentou transmitir todas partidas. Mas novamente aconteceram vários problemas. O erro mais comum é que, durante a partida, o site faz o logout sozinho. É necessário realizar o login novamente diversas vezes. Outros erros comuns foram jogos sem narração e com imagens de pouca qualidade. Além disso, algumas transmissões foram confirmadas em cima da hora ou começaram com atraso. E ainda há erros em nomes e escudos dos times.
Mano, esse @InStatFootball é surreal…
O nome do time é TUNA LUSO e no site dos caras, tá ATUM.
É zoeira demais @ultimadivisao @_SerieD_BR… pic.twitter.com/PlMTftM5gj
— Thiago Zanona (@thiagozanona) April 24, 2022
A InStat promete melhorias nas próximas rodadas. Mas existe outra má notícia: as transmissões de todos jogos devem ser cobradas a partir da 5ª rodada. O valor ainda não está definido.
Diante desse cenário, os clubes se sentem prejudicados e buscam soluções. Na primeira rodada aconteceram algumas transmissões paralelas. Mas antes da segunda rodada acontecer, veio a bomba, um ofício da CBF, assinado pelo presidente Ednaldo Rodrigues.
“Informamos que eventual clube que não venha a observar a negociação concretizada pela CBF perderá os benefícios de ordem financeira oferecidos aos participantes da competição, tendo que custear suas despesas com recursos próprios”, ameaça o ofício da CBF.
Quais benefícios podem ser suspensos?
O ofício da CBF lista quais serão os prejuízos para os clubes. A entidade não pagará passagens aéreas ou rodoviárias e nem aluguéis de ônibus para transporte; também não oferecerá cobertura de hospedagem e alimentação; e sequer vai pagar por arbitragem e exames antidoping.
Esses custos normalmente são pagos pela CBF na Série D. Neste ano, além disso, a confederação pagou uma cota de R$ 120 mil para cada time. Não está claro se essa cota também foi ameaçada.
A CBF pode fazer isso?
O Última Divisão entrou em contato com a CBF para fazer diversas perguntas e esclarecer dúvidas, que poderiam trazer essa conclusão. Inicialmente não houve qualquer resposta. Depois que essa matéria foi publicada e repercutiu inclusive em outros sites, a CBF emitiu um comunicado, que está na íntegra no fim desta reportagem.
Em resumo, a CBF diz que não ameaçou os clubes e apenas “prestou esclarecimentos a respeito da comercialização dos direitos de transmissão com a empresa Instat, que adquiriu os mesmos com exclusividade, e das obrigações regulamentares em relação ao tema”.
No ofício enviado aos clubes e também no regulamento da competição, a CBF citou a Lei Pelé para dizer que os clubes cederam à confederação o direito de negociar a transmissão das partidas em troca do custeio de despesas.
E a Lei do Mandante?
Recentemente foi promulgada a Lei do Mandante, que alterou a disposição da Lei Pelé sobre direitos de transmissão. Ela diz que os clubes mandantes de um jogo têm o direito de realizar ou negociar a transmissão como quiser.
Portanto, se os clubes só aceitaram o regulamento baseados na Lei Pelé, é possível que haja uma brecha através da Lei do Mandante. Questionamos a CBF sobre isso, mas ainda não obtivemos resposta.
De qualquer forma, é improvável que algum clube compre uma briga na Justiça contra a CBF. Seria arriscado demais para qualquer time, ainda mais da Série D. O risco de uma derrota judicial, com consequências graves, parece enorme.
É importante ressaltar que os clubes não sabiam que a transmissão seria da InStat até 3 dias antes da Série D começar. Portanto não houve qualquer negociação sobre esse assunto.
A expectativa dos times era ver a competição transmitida pela Eleven Sports e pela TV Brasil, como aconteceu nos últimos dois anos. Até o momento essas plataformas estão fora de cogitação.
Os clubes se preocupam com a perda de potencial para marketing e contratações. Afinal marcas e jogadores não querem participar de um campeonato que não é visto.
Como ver a Série D?
Por enquanto, para ver os jogos, é preciso apenas entrar no site InStat TV e fazer um cadastro.
A promessa é que 3ª rodada será transmitida na íntegra e de forma gratuita. Ficaremos de olho.
Comunicado da CBF na íntegra
“A respeito de matéria publicada nesta quinta-feira, sob o título “CBF ameaça times para que não transmitam jogos da Série D”, a entidade esclarece que em nenhum momento fez ameaça aos clubes. Tão somente prestou esclarecimentos a respeito da comercialização dos direitos de transmissão com a empresa Instat, que adquiriu os mesmos com exclusividade, e das obrigações regulamentares em relação ao tema.
A CBF investirá quase 65 milhões de reais para a realização da Série D, contemplando todas as despesas de logística, alimentação, arbitragem e aspectos ligados à organização das partidas.
Durante conselho técnico inédito realizado em 16 de fevereiro, o Presidente da CBF, Ednaldo Rodrigues, comunicou o aumento de 8,5 milhões de reais no orçamento do campeonato para a temporada 2022. A quantia foi repassada aos times participantes – cada um recebeu R$120 mil – e investidos na premiação para as quatro equipes que ascenderem à Série C, sendo:
1º lugar: 320 mil reais + veículo FIAT
2º lugar: 250 mil reais + veículo FIAT
3º lugar: 150 mil reais
4º lugar: 100 mil reais
Em contrapartida, os clubes cederam à CBF, conforme expresso em regulamento, os direitos de transmissão e comerciais da competição para que possam ser comercializados e investidos no custeio.
Por fim, a CBF informa que tem mantido constante contato com a empresa adquirente, acompanhando as ações previstas para oferecer o melhor produto possível aos torcedores”.
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