Ernesto Che Guevara, controverso personagem político do século passado, era fã de futebol. Nascido em Rosario, na Argentina, virou torcedor do Rosario Central, costumava jogar como goleiro e era fã de Alfredo Di Stéfano. Mas com certeza não imaginava que um dia seu rosto iria aparecer no uniforme de um time brasileiro e que isso viraria um verdadeiro sucesso de marketing.
A ideia partiu de Carlos Gandola, vice-presidente de marketing do Madureira em 2013. Ele lembrou que, 50 anos antes, em 1963, o Madureira tinha feito uma grande excursão e passado por Cuba. Há quem diga que foi o primeiro time de futebol estrangeiro a ir para o país após a revolução cubana, que derrubou o ditador Fulgencio Batista e colocou Fidel Castro e Che Guevara no poder.
A passagem por Cuba foi um sucesso em campo e teve momentos inusitados fora dele. Com a bola rolando, o Madureira venceu facilmente todos seus jogos, contra Industriales (5 a 2), Municipalidad de Morrón (6 a 1), um combinado universitário (11 a 1) e duas vezes a seleção de Havana (1 a 0 e 3 a 2).
Fora dele, algumas histórias curiosas foram registradas em recente reportagem da Trip, como a falta de água em um hotel no qual estava o elenco do Madureira. Preocupado com a provável repercussão ruim que isso iria causar, o governo transferiu o time para o luxuoso cinco estrelas Habana Libre, que comportava até cassino e boate de alto nível. Imagine o que aconteceu por lá… mas o que aconteceu em Cuba morreu em Cuba.
Outra cena curiosa deve ter sido a visita do Madureira a uma fábrica de charutos. Os funcionários foram visivelmente obrigados a aplaudir os jogadores e depois quiseram comprar as roupas deles, afinal produtos estrangeiros eram proibidos no regime socialista de Fidel.
O encontro entre Madureira e Che Guevara foi a última grande história da viagem, mas ficou marcada. Ele era ministro de Cuba, mas relatos dizem que não houve muitas formalidades. O futebol deixou tudo mais divertido.
Depois o Madureira continuou sua excursão. O clube afirma que passou pela Europa, Ásia e Estados Unidos e que foi o primeiro brasileiro a visitar o Japão e Hong Kong. Ao todo conseguiu 23 vitórias, sofreu 3 empates e perdeu 10 vezes.
É uma viagem que dá orgulho ao clube e por isso inspirou o uniforme em homenagem a Che Guevara. A camiseta dos jogadores é grená e tem o rosto do revolucionário. A camiseta de goleiro tem o desenho da bandeira de Cuba. Nas duas há a inscrição: “hasta la victoria sempre”.
Tudo foi criado para o time do futebol de 7, mas fez muito sucesso: as vendas passaram de mais ou menos 10 peças por mês para mais de 3.000 por semana. Até Diego Maradona, fã de Che, ganhou uma!
Depois o Madureira se animou e também fez um uniforme em homenagem à excursão pela China feita no ano seguinte, 1964. Na época a viagem para aquele país era proibido e mesmo assim o time se aventurou. Enfrentou problemas para voltar, mas acumulou outras boas histórias para contar. Tanto que homenageou o país asiático com outras camisas, em 2014.
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