Depois de passar por alguns dissabores nos últimos anos, o Londrina voltou a comemorar um título de campeão paranaense em 2014. Foram dois anos na segunda divisão do PR (2010 e 2011), até que o retorno em 2012. Depois de boa campanha em 2013, a melhor na soma dos dois turnos, o LEC conquistou o título paranaense, o que não acontecia desde 1992.
Quem estava lá em 1992 não esquece. Naquele ano, como em 2014, o interior ousou fazer frente a Atlético-PR, Coritiba e Paraná Clube. “O primeiro objetivo seria, digamos, desbancar a capital. O interior é que nem diz um amigo nosso: passou a Serra do Cadeado (no Centro-Norte do PR), o Norte do PR não vale mais nada”, brincou Alexandre, volante do time campeão de 1992, em entrevista ao blog.
A campanha para o terceiro título estadual do Londrina (campeão em 1962, 1981, 1992 e 2014) começou de maneira confusa. Foram três vitórias nas três primeiras partidas (1 a 0 contra o Apucarana, 1 a 0 contra o Campo Mourão e 4 a 2 contra o Umuarama), antes de dez empates consecutivos (contra Iguaçu, Comercial, União Bandeirante, Paraná Clube, Matsubara, Operário, Coritiba, Goio-Erê, Platinense e Cascavel). Mesmo invicto, o time sofria com a pressão.
“Todo mundo pediu a cabeça do Varlei (de Carvalho, técnico). O presidente (Dorival) Pagani segurou”, contou Alexandre. O LEC venceu o Foz do Iguaçu na rodada seguinte, antes de sofrer a primeira derrota, 3 a 1 para o Maringá. O time terminou a primeira fase em segundo do Grupo B, com 24 pontos. Na segunda fase, terminou o Grupo A (com quatro times) em segundo.
Assim como em 2014, no título de 1992, o Londrina eliminou o Atlético-PR nas semifinais antes de conquistar o título contra um rival do interior – no caso, o União Bandeirante. Nas semis, o LEC venceu o rival por 3 a 1 no Estádio do Café, perdendo de 2 a 0 no Pinheirão. Depois de uma prorrogação sem gols, os dois times foram para os pênaltis.
A sorte parecia jogar contra o time comandado pelo técnico Varlei de Carvalho. O Atlético abriu a série de cobranças e converteu os dois primeiros pênaltis, com Serginho e Mineiro. O Londrina converteu o primeiro com Alaor, mas perdeu o segundo, batido por Sousa – o goleiro Sadi defendeu. Então comentarista da Rede OM, o ex-jogador Sicupira alertou: “zagueiro não é confiável em cobrança de pênalti”. Na terceira cobrança do CAP, Renaldo bateu alto e fez 3 a 1.
Coube então a Alexandre bater o terceiro pênalti dos londrinenses. Se perdesse, deixaria nos pés do Atlético-PR a classificação. Zagueiro de formação, Alexandre pegou a bola e bateu no alto, diminuindo para 3 a 2.
Tensão? Que nada! “O pessoal fala que o Alexandre foi um dos que pediram (para cobrar o pênalti). Na verdade, o (meia) Tadeu, no fim da prorrogação, saiu – o João Neves entrou. Todo mundo treinava pênalti e falta, independente de chegar à final ou não. Era praxe com o Varlei esse tipo de treinamento. Nesse jogo contra o Atlético, o Tadeu teve uma contusão e saiu. Ele era um dos batedores. A gente estava nos pênaltis. Eu fui escalado para bater, porque nos treinamentos tive um aproveitamento bom”, explicou Alexandre.
Foi a partir daí que a sorte do jogo começou a mudar. Na quarta rodada das cobranças, Will bateu para fora – Márcio chutou forte e empatou para o Londrina. Na quinta série de batidas, o goleiro André Dias defendeu o chute do zagueiro Roberson, enquanto Cláudio José converteu para o time do Norte do PR: 4 a 3 no placar e a classificação.
ATLÉTICO-PR 2 (3) X 0 (4) LONDRINA
Data: 28 de novembro de 1992, sábado
Local: Estádio Pinheirão, em Curitiba (PR)
Árbitro: Luís Carlos Pinto de Abreu
Assistentes: Roberto Gonçalves e José Francisco de Oliveira
Gols: Tico (CAP), aos 26min do 1º tempo; Marco Antonio (CAP), aos 38min do 1º tempo
Cartões: Informação não disponível
Público: 9.852 pagantes
ATLÉTICO-PR: Sadi; Alex, Valdir, Roberson e Gune; Mineiro, Leomar e Serginho; Reinaldo, Tico (Will) e Marco Antonio.
Técnico: Zequinha
LONDRINA: André Dias; Nilson, Márcio, Souza e Roberto; Alexandre, Zé Roberto (Alaor) e Tadeu (João Neves); Aléssio, Cláudio José e Celso Reis.
Técnico: Varlei de Carvalho
A decisão
Nas finais, o Londrina encarou o União Bandeirante em dois jogos no Estádio do Café, em Londrina – o Estádio Comendador Luís Meneghel, em Bandeirantes, não tinha a capacidade mínima de 15 mil torcedores, exigida pela Federação Paranaense de Futebol. Depois de um empate por 0 a 0 no primeiro jogo, em 6 de dezembro, um novo empate por 2 a 2 obrigou a realização de um jogo-desempate.
E olha que o União esteve perto do título – vencia por 2 a 1 até que o zagueiro Márcio empatou o jogo nos acréscimos do segundo tempo. “O União começou a mil por hora e fez 2 a 0. A gente pensou: ‘nossa’. Olhei para a arquibancada e vi meu pai no estádio lotado. Meu pai sempre no mesmo lugar. A gente olha para os lados, pensei: ‘não acredito que estou vendo isso aí’”, lembrou Alexandre.
“Aí, graças a Deus, sai o gol de pênalti (convertido por Tadeu no segundo tempo). Aos 44min, não tinha isso de levantar placa e eu falei: ‘vamos, vamos, vamos’”. Nos acréscimos, saiu o gol do 2 a 2: após falta levantada na área pela esquerda, Celso Reis desviou e Márcio completou de cabeça, selando o empate e forçando o terceiro jogo. “Hoje a gente vê que o Celso Reis desviou com a mão”, admite Alexandre.
No terceiro jogo das finais, João Neves fez o gol da vitória por 1 a 0 aos 31min do primeiro tempo. O União não conseguiu reagir, e o resultado deu o título ao Londrina. Foi então que a frase creditada ao técnico Varlei de Carvalho se tornou célebre: “agora, no Paraná, não existe mais um trio de ferro, e sim, um quarteto”.
LONDRINA 1 x 0 UNIÃO BANDEIRANTE
Data: 19 de dezembro de 1992, sábado
Local: Estádio do Café, em Londrina (PR)
Árbitro: Luís Carlos Pinto de Abreu
Assistentes: Informação não disponível
Gols: João Neves, aos 31min do primeiro tempo
Cartões amarelos: João Neves, Leco e Souza (LEC); Zequinha, Emerson, Alexandro, Donizetti e Vanderlei (UNB)
Cartões vermelhos: Tadeu (LEC); Avarildo (UNB)
Público: 26.526 pagantes
LONDRINA: André Dias, Nilson, João Neves, Souza, Jerry, Alexandre, Zé Roberto (Amarildo), Tadeu, Leco, Marquinhos (Cláudio José) e Roberto.
Técnico: Varlei de Carvalho
UNIÃO BANDEIRANTE: Anselmo, Avarildo, Elson, Emerson (Reginaldo), Vanderlei, Donizetti, Luisinho Cruz e Tainha, Zequinha (Milá), Alexandro e Darlan.
Técnico: Geraldo Roncatto
O PR pode voltar a ter uma quarta força?
Pode. Talvez o Londrina não chegue na Série A do Campeonato Brasileiro nos próximos anos, como prometia o presidente Peter Silva em 2006, mas os próximos anos podem ser positivos para a torcida azul-celeste. O responsável por isso é Sérgio Malucelli, gestor que assumiu um contrato para controlar o clube por dez anos. Sua empresa, a SM Sports, gerencia o LEC desde 2011, período no qual o time vem demonstrando força novamente.
“Cinco anos atrás, o Londrina estava jogado no lixo. Precisou vir uma pessoa para reestruturar. Hoje, o Londrina tem um dos melhores CTs do Brasil, está revelando jogadores, está trazendo jogadores. A gente vive na cidade desde que nasceu; quase vi o Londrina fechando as portas. O clube caindo, o Estádio do Café virando chacota na cidade. Eles colocavam uma lâmpada e essa lâmpada era roubada”, comentou Alexandre, que já vê o clube à frente dos rivais do interior do Paraná.
“O Campeonato Paranaense de hoje, com todo o respeito a quem comanda o Arapongas ou o Operário, por exemplo, é os times de Curitiba e o Londrina. A Portuguesa (Londrinense), com todo o respeito a quem comanda, é digno de segunda divisão. Hoje, no PR, é capital e Londrina, e correndo por fora, o J. Malucelli”, completou.
Para ex-jogador, um dos méritos de Sérgio Malucelli é manter o técnico Claudio Tencati, contratado em 2011. Na época, Tencati comandava as categorias de base do Iraty, gerenciado pelo próprio Malucelli. Segundo Alexandre, para Tencatti, o cenário hoje para fortalecer o clube é muito mais favorável do que o de 1992.
“Acredito que aquele campeonato era mais difícil. Era uma equipe jovem no começo do ano de 1992. Aí, vieram os reforços – o (zagueiro) Márcio, o (meia) Tadeu, o (atacante) Cláudio José – que juntaram com o pessoal da base que era muito forte. Nesse ano, foi feita a mesma coisa em Londrina. Veio de alguns anos atrás, quando não tinha nada. O Londrina estava no fundo do poço. O Sérgio reestruturou o Londrina”, analisou.
Comentários