Quem viu a cena não se esquece. Itália e Espanha faziam um jogo nervoso naquele dia 9 de julho de 1994, em Boston, pelas quartas de final da Copa do Mundo de 1994. Logo aos 3min do segundo tempo, com o placar de 1 a 1, Goikoetxea cruzou a bola pela direita na área, mas a bola passou por todo mundo e saiu pelo outro lado. Luís Enrique, que era o alvo do cruzamento, estava caído na área.
Demorou um pouco para que a situação ficasse clara. No lance, o camisa 21 recebeu uma violenta cotovelada de Mauro Tassotti, o defensor incumbido de marca-lo no lance. O árbitro húngaro Sandor Puhl, um dos melhores do mundo à época, não viu o lance e não marcou nada – nem mesmo a irritação do espanhol, com o nariz ensanguentado, pareceu convencer o juiz. A Itália então marcou o gol da vitória no fim do jogo, com Roberto Baggio, e avançou no torneio, perdendo a final nos pênaltis para o Brasil.
O lance marcou a carreira de Mauro Tassotti, um lateral direito que, se não era exatamente um craque, passava longe de ser um perna de pau. Nascido em 19 de janeiro de 1960, em Roma, Tassotti começou a carreira na Lazio em 1978, mas explodiu ao acertar com o Milan em 1980. Pela equipe rubro-negra, jogou por 17 anos, aposentando-se em 1997 com uma impressionante carteira de títulos – foram três Ligas dos Campeões e cinco Campeonatos Italianos, dentre outras conquistas.
Embora regular na defesa milanista, Tassotti demorou a ter chances na seleção italiana. Chamado pelo técnico Francesco Rocca para disputar a Olimpíada de 1988, em Seul (Coreia do Sul), chegou à seleção principal aos 32 anos, em 1992. Assim, em 1994, perto da aposentadoria, disputou sua primeira Copa do Mundo, no qual protagonizou a infeliz cotovelada em Luís Enrique.
Ao se aposentar dos gramados, o defensor passou a ocupar cargos no próprio Milan. Primeiro, trabalhou nas categorias de base entre 1997 e 2001; depois, foi promovido à comissão técnica milanista, trabalhando por muito tempo – oito anos – ao lado de Carlo Ancelotti.
Após a saída de Ancelotti, continuou exercendo a função com os sucessores no comando, Leonardo e Massimiliano Allegri. Em outubro de 2011, na gestão de Allegri, se reencontrou com Luís Enrique – então técnico da Roma – antes de jogo pelo Campeonato Italiano. “Já se passaram 17 anos, e não tenho problema nenhum com ele. O que ocorreu faz parte do passado, coisas do campo de jogo”, disse Luís Enrique, que prometeu apertar a mão de toda a comissão técnica do Milan.
Missão cumprida. A Roma do técnico Luís Enrique – jogador do Real Madrid em 1994 – perdeu em casa para o Milan de Tassotti por 3 a 2.
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