O torcedor gosta de ver seu clube do coração ganhar todos os títulos. Mas nem sempre é assim. Dirigentes omissos, atletas descompromissados e torcedores impacientes podem levar clubes tradicionais a momentos complicados. Última Divisão recorda os períodos de fila do Trio de Ferro paulistano.
“Faz-Me Rir”
Duração: 23 anos (1954 a 1977)
Cinco ídolos do período: Rivelino, Flávio Minuano, Dino Sani, Paulo Borges e Tião
Agonia e rancor. Durante décadas, os corintianos sofreram com elencos modestos. Foram mais de 30 anos que o time ficou sem conquistou um único Campeonato Paulista. Na época, a competição era tida como a principal pelos times grandes do Estado. Nesses anos, o clube de Parque São Jorge era comandado pelo advogado e político Wadih Helu (1922-2011). Adversário histórico de Vicente Matheus, Helu era tido como um cartola que usava a agremiação para beneficiar-se politicamente.
Uma das principais dores de cabeça dos corintianos eram os jogos contra o Santos. O clube paulistano ficou onze anos sem conquistar uma vitória em cima do rival. Em março de 68, o Timão finalmente voltou a vencer o alvinegro praiano. A partida terminou 2 a 0 com gols de Paulo Borges e Flávio Minuano. Era o fim do tabu.
O ícone dos anos difíceis no Corinthians foi o meia-esquerda Roberto Rivellino, o Reizinho do Parque. Foram nove anos e 473 jogos com a camisa da agremiação. A única conquista foi um Rio-São Paulo em 1966. “Ele era a nossa estrela, a nossa referência. Era como o Neymar é hoje pro Santos”, relembra o ex- lateral Oswaldo, que atuou no Corinthians durante três anos.
Em 1974, o time chegou perto de conquistar o Paulista. O Timão era tido como o favorito contra o Palmeiras. O gol do centroavante alviverde Ronaldo acabou com a festa dos corintianos que lotavam o Morumbi.
Depoimento: “A pressão sempre foi forte no Parque São Jorge. Na minha passagem pelo Corinthians, não conquistei títulos. Mas posso dizer que sempre jogamos com garra e não nos intimidamos contra nenhum adversário. Praticamente não tive contato com o Wadih Helu. Sem dúvida, ele era corintiano, mas era muito fechado. Não tinha muito contato com os atletas.
Tive grandes treinadores no Corinthians: Dino Sani, Zezé Moreira, Aymoré Moreira, Osvaldo Brandão e Lula. Com esse último vivemos a emoção de quebrar o tabu contra o Santos. Foi uma festa danada. Tanto que demoramos quatro horas pra voltar pro Parque São Jorge com a torcida acompanhando o ônibus por toda Marginal. Parecia que tínhamos ganhado um título. Triste mesmo foi no ano seguinte. Um acidente automobilístico acabou matando os dois irmãos que jogavam no time: o Lidu e o Eduardo. Eu tinha tido uma fratura na tíbia e estava engessado. Acabei indo no enterro dos dois. Aquilo foi um choque total e acabou abalando completamente o nosso elenco que vinha muito bem”. Oswaldo Domingues da Cunha, ex-lateral-direito do Corinthians entre 1967 e 70. Aos 69 anos, o boleiro ensina futebol para crianças no clube Santa Sofia, em Pedreira (SP).
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