O Sudão do Sul vai ter futebol?

Em 9 de julho de 2011, o Sudão irá se desmembrar em dois territórios: o Sudão do Sul, independente desde referendo realizado no país em janeiro, e o Sudão propriamente dito, “herdeiro” do país atual. E além de adotar uma nova capital, um novo presidente e uma nova constituição, o Sudão do Sul passará a ser palco também de uma mudança esportiva significativa. Afinal, vêm aí um novo campeonato nacional e uma nova seleção africana.

Antes de mais nada, é bom que se avise: este é um texto bastante hipotético. É impossível prever com exatidão o que acontecerá no futebol do Sudão do Sul. Mesmo assim, com base em algumas análises e no desempenho de clubes das cidades do novo país, é possível ao menos apontar de maneira superficial o que se pode esperar deste novo centro do futebol.

Em primeiro lugar, é bom que ninguém espere uma potência dos gramados africanos. A seleção do Sudão em si, bem como as de boa parte de seus vizinhos (Líbia, Etiópia, Chade, Uganda, República Centro-Africana e exceção feita ao Egito) jamais teve grande projeção internacional. O país nunca participou de uma Copa do Mundo, e foi campeão da Copa Africana de Nações apenas em uma ocasião (1970, em casa). Desde então, participou três vezes do torneio continental, sem vencer nem um jogo sequer. Portanto, é difícil imaginar que dividir o território sudanês irá fornecer pelo menos uma seleção forte como resultado.

E se as notícias não são boas no que se refere à seleção local, também não são muito animadoras para os clubes locais. O Campeonato Sudanês é dominado pelos clubes do norte do país, sendo que o título é conquistado por equipes da cidade de Omdurman consecutivamente desde 1993 – dos 17 títulos, 12 foram do Al-Hilal e 5 foram do Al-Merreikh. Em 2010, o Sudão do Sul nem mesmo teve representantes na elite local.

A esta altura, você já deve imaginar que a liga sul-sudanesa será fraca – e possivelmente você estará certo, uma vez que o país será um dos mais pobres do mundo. Desta forma, o mais provável que é o campeonato local seja monopolizado por clubes da capital Juba: Kator FC, Al-Hilal Juba, Al-Rabita, Nasir, Malakia e outros nomes ainda menos conhecidos que disputam a liga em questão.

Voltando a falar sobre a seleção local, imagine o Sudão do Sul como uma Montenegro em menores proporções – por mais que tenha jogadores na história do país pré-independência, a participação deles passará a ser reduzida como novo país. Nomes com Omer Mohamed Bakhit, Mohammed Ali El Khider, Richard Gastin, Haitham Mustafa, Hamouda Ahmed El Bashir e Haytham Tambal (todos integrantes da seleção sudanessa que foi à Copa Africana de Nações de 2008) nasceram e atuam nos clubes do norte.

Esta deve ser a bandeira do Sudão do Sul – então, pode esperar uma seleção com um uniforme bastante exótico!

Mas diante de um cenário tão desanimador, ao menos uma notícia deve vir do futebol sul-sudanês: a participação na Liga dos Campeões da África. Em 2010, como era de se esperar, os dois representantes do Sudão vieram do norte (Al-Merreikh e Al-Hilal, ambos de Omdurman) e caíram nas oitavas de final. Assim, é provável que as vagas do Sudão sejam divididas para o futuro próximo – uma para o norte, uma para o Sul.

Há, porém, um esforço das autoridades regionais para que o futebol se torne popular no futuro país. Graças a parcerias, o Governo local consegue tocar iniciativas como a South Sudan Youth Sports Association (SSYSA), que realiza clínicas de futebol para jovens em área na região de Juba para tentar revelar jogadores a longo prazo. Como reconhecimento, os sul-sudaneses já receberam inclusive competições de categorias de base da Cecafa.

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Mas se o futebol não for popular no novo país, ao menos o Sudão do Sul terá ídolos esportivos nos quais se espelhar. O principal deles é Luol Deng, ala do Chicago Bulls na NBA, mas Deng Gai, ex-Philadelphia 76ers, também ajudou a colocar o sul do Sudão no mapa no basquete mundial.

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