Ex-Liverpool, Vitor Flora disputa Série A3 com objetivos modestos

Você provavelmente nunca tinha ouvido falar de Vitor Flora até 1º de setembro de 2008. Foi quando, aos 18 anos, o meia-atacante do Botafogo-SP foi anunciado como reforço do Liverpool, dono de cinco títulos da atual Liga dos Campeões da Europa. Talvez nem mesmo o torcedor mais otimista do time de Ribeirão Preto esperasse pela negociação.

É claro que Flora ganhou destaque nacional e internacional com a transferência. Talvez fosse um jogador com um potencial ignorado pelos clubes brasileiros. Talvez até mesmo a Seleção Brasileira pudesse ser o destino do meia-atacante, que teria 20 anos na Copa do Mundo de 2010, na África do Sul. Quem sabe?

Vitor Flora, 2008

Não foi o que aconteceu. Em 2014, Vitor Flora acertou com a Francana para reforçar a equipe na Série A3 do Campeonato Paulista. Com uma lesão muscular, disputou apenas um jogo pelo novo time – o segundo tempo do empate por 0 a 0 com o Cotia, pela terceira rodada da competição. Vestindo a camisa 16 do clube, Vitor não alcançou os resultados esperados cinco anos antes, quando foi apresentado ao lado do técnico Rafa Benítez na Inglaterra.

Mas a chegada à terceira divisão do Campeonato Paulista não desanimou o jogador. Na nova equipe, Vitor Flora se apresentou sem badalação, com metas modestas. Copa do Mundo? Futebol europeu? “Planejo me recuperar bem dessa lesão e subir a Francana para Série A2 de 2015”, contou o meia-atacante, sem badalação. “A cobrança e a pressão são coisas normais dentro do futebol, desde o mais conhecido até o garoto que acabou de subir das categorias de base. Entrou em campo, tem a mesma obrigação de qualquer outro jogador.”

O caminho até a Série A3 foi um tanto tortuoso. Depois de chegar ao Liverpool, Vitor Flora foi sondado por Chievo (Itália), Grêmio e Goiás. O clube goiano conseguiu a contratação em 2010, mas o meia foi pouco aproveitado. Mesmo dizendo não guardar mágoas no futebol, lamentou a disputa política que, segundo ele, atrapalhou sua sequência com a camisa esmeraldina. “Acho que isso me prejudicou bastante no Goiás e na minha carreira”, comentou o jogador, atualmente aos 24 anos.

Desde então, Flora se transformou em um “cigano da bola”, voltando ao Botafogo-SP (2011 e 2012) e passando ainda pelo Rio Branco-SP (2013) antes de chegar à Francana (2014). Hoje, com os pés no chão e com objetivos modestos, guarda boas lembranças do contato com jogadores como Steven Gerrard e Fernando Torres, e entra em campo como apenas mais um sob comando do técnico Gian Rodrigues.

Confira a entrevista de Vitor Flora:

Última Divisão – Você surgiu muito novo com a transferência ao Liverpool, e isso se associou à sua carreira desde então. Isso se tornou uma “grife” na sua carreira, ao mesmo tempo em que se tornou um estigma. Como essa transferência marca sua carreira hoje?

Vitor Flora – Marca como uma experiência no futebol e na vida pessoal. No futebol, porque tive oportunidade de conviver e trabalhar com grandes craques do futebol mundial como Torres, Gerrard, Xabi Alonso e os brasileiros Lucas, Fabio Aurélio e (Diego) Cavalieri; na vida pessoal, porque conheci outra cultura, outros países e aprendi o inglês.

Última Divisão – O que você mais destaca desse período no Liverpool? Como era a convivência com o Rafa Benítez, com os jogadores do time principal?

Vitor Flora – Acho que o mais bacana mesmo foi ter a experiência tão novo de estar em uma grande potência no futebol – time mais tradicional da Inglaterra na minha opinião. A convivência com o Rafa sempre foi muito boa, pois foi ele quem deu aval para a minha contratação. Os jogadores do time principal eram muito humildes e nos tratavam com igualdade, como se fôssemos um deles, já consagrados.

Última Divisão – Procede que, nessa época, você foi sondado por Cruzeiro, Santos, Grêmio e pela Juventus (Itália)? Houve alguma negociação?

Vitor Flora – Grêmio, Goiás e Chievo (Itália). Os outros, se me sondaram, não chegou até mim.

Última Divisão – Em 2010, você chegou ao Goiás, mas também não foi aproveitado. O que aconteceu?

Vitor Flora – Cheguei ao Goiás no meio de uma grande disputa política entre a própria diretoria que no momento administrava o clube. Fui uma aposta do presidente (Syd de Oliveira) que, um mês após a minha chegada, renunciou ao cargo. Acho que isso me prejudicou bastante no Goiás e na minha carreira.

Vitor Flora, 2014

Última Divisão – Depois você voltou ao Botafogo-SP, passou pelo Rio Branco e chegou à Francana. A recepção nos clubes é parecida?

Vitor Flora – Acho que não. São clubes diferentes e em momentos diferentes da minha carreira.

Última Divisão – Na Francana, você fez apenas um jogo. O que tem atrapalhado?

Vitor Flora – Estou me recuperando de uma lesão muscular, trabalhando para ficar 100% o mais rápido possível e tentar ajudar meus companheiros.

Última Divisão – Dentre os times pelos quais você atuou, nenhum enfrentava uma situação tão dramática – a Francana briga contra o rebaixamento na Série A3. Isso te atrapalha?

Vitor Flora – No momento, a gente já briga para entrar no G-8, mas a situação do clube nunca interferiu na minha motivação.

(Nota do blog: as perguntas foram enviadas por e-mail em 5 de março, quando a equipe era a 16ª colocada dentre as 20 da competição. Atualmente, o time está em 14º lugar.)

Última Divisão – Por ser um nome conhecido, você sente uma pressão extra nos clubes? Ou há um prestígio especial?

Vitor Flora – A cobrança e a pressão são coisas normais dentro do futebol, desde o mais conhecido até o garoto que acabou de subir das categorias de base. Entrou em campo, tem a mesma obrigação de qualquer outro jogador.

Última Divisão – Você é um jogador jovem, certamente ainda tem muitas metas na carreira. O que você planeja?

Vitor Flora – Planejo me recuperar bem dessa lesão e subir a Francana para Série A2 de 2015. Por agora, essas são minhas metas.

Última Divisão – Como tem sido o ambiente na Francana? Que tal o relacionamento com o técnico?

Vitor Flora – O ambiente aqui no clube é muito bom, os jogadores têm o mesmo objetivo. O treinador Gian Rodrigues é uma grande pessoa e um grande profissional. Tenho acompanhado alguns treinos, mesmo estando no departamento médico. Sinto o grupo motivado e acho que temos chance de chegar longe.

Última Divisão – Nesses anos, o “Vitor Flora do Liverpool” guarda mágoa de alguém? Você sente que alguém pode ter prejudicado sua carreira?

Vitor Flora – Não, não tem ninguém que eu possa dizer que tenha me magoado. Às vezes, esperamos uma oportunidade e infelizmente ela não vem. Mas é seguir focado em busca do objetivo que tudo dá certo.

Última Divisão – Nestes anos de carreira, quais foram as amizades que você fez?

Vitor Flora – Deixei amigos em todos os lugares que passei. Com alguns, mantenho contato até hoje, mas todos foram muito importantes para o meu crescimento profissional.

Contratado pelo Liverpool em 2008, meia-atacante Vitor Flora voltou ao Brasil; hoje, tenta recuperação física e acesso à Série A2 do Campeonato Paulista pela Francana (Crédito: Facebook/Reprodução)
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