No dia 8 de junho de 2013, um ensolarado sábado na cidade de Itu (SP), Ituano e Grêmio Barueri se enfrentaram no Estádio Novelli Júnior pela quinta rodada da primeira fase do Campeonato Paulista sub-20.
Pouca gente vai se lembrar que o Barueri venceu aquela partida por 1 a 0, graças ao gol de Paulo Roberto marcado aos 32 min do segundo tempo. No entanto, quatro dias depois, uma inusitada manchete colocaria aquele jogo na história da imprensa esportiva – talvez para sempre.
Aquela manchete repercutia um curioso registro. Na foto, o zagueiro Léo Santos (Ituano) e o goleiro Douglas (Grêmio Barueri) disputavam uma bola pelo alto, enquanto a sombra dos dois no gramado “imitava” a forma de um cachorro. O autor da foto: Moura Nápoli, do blog Momento do Esporte.
Mas, afinal, qual é a história por trás da manchete?
Foi para responder a esta pergunta que o Última Divisão foi conversar com o autor da foto. Nascido em São Paulo, Moura Nápoli se mudou para Itu no final da década de 1970. Desde então, tornou-se um dos principais jornalistas esportivos da cidade. Passou por emissoras de rádio e TV, e, desde 1979, trabalha no jornal Periscópio, onde é o atual editor de esportes.
Em 2012, criou o blog Momento do Esporte, onde fala sobre o esporte em Itu. Ali, trata de futebol profissional, futebol de base, futebol amador e do que mais aparecer com destaque na cidade. E, neste período, isso incluiu aquela partida entre Ituano e Grêmio Barueri pelo Paulista sub-20 de 2013.
Por telefone, Moura contou que a foto da disputa foi feita com uma câmera “precária”. “Quando eu cheguei aqui na redação, eu baixei as fotos e atentei: essa sombra está parecendo um cachorro”, conta. A imagem foi então publicada no jornal e no blog.
A repercussão chamou a atenção da TV Tem. Quatro dias após o jogo, foi publicada no GloboEsporte.com em matéria do repórter Emílio Botta – em tom de agradecimento, Moura diz que foi Emílio quem “impulsionou a foto, tornando-a conhecida no mundo inteiro”.
Se há quem critique a publicação do fait diver, Moura Nápoli não se abate. Como autor da foto, comemora o clique raro feito em 2013. “Muita gente acredita que foi montagem, e não foi”, diz.
A gente acredita – e comemora a foto.
Confira a entrevista de Moura Nápoli ao UD:
Última Divisão: Quando você publicou a foto, já tinha esse gancho da sombra?
Moura Nápoli: O negócio foi o seguinte: aconteceu o jogo, eu fui lá pelo jornal e fiz uma série de fotos. Quando eu cheguei aqui na redação, eu baixei as fotos e atentei: essa sombra está parecendo um cachorro. Publiquei no jornal e no blog, aí o pessoal do GloboEsporte.com aqui de Sorocaba achou a foto curiosa e publicou. Aí deu uma alavancada, gerou umas centenas de comentários, começou espalhar pelo mundo afora. Um tempo atrás, fiz uma pesquisa e essa foto foi postada em diversos países na Europa, na América – países que, se duvidar, eu não sei nem pronunciar o nome. Se eu ganhasse R$ 1 por cada comentário daquela foto, estaria milionário (risos).
UD: Mas foi você mesmo que percebeu a sombra?
MN: Ah, sim. Quando eu publiquei, eu já chamei atenção pelo fato como forma de curiosidade. Coloquei a foto e, como curiosidade, a disputa ter criado aquela sombra, ressaltando que é um momento único.
UD: É, não dá para posar.
MN: Não dá. É coisa de um instante. No segundo seguinte, já estava outra posição, seria outra foto.
UD: A foto ainda repercute muito?
MN: Agora já diminuiu, mas teve uma época que repercutiu bastante. Muita gente acredita que foi montagem, e não foi. Elogiou-se, aplaudiu. Muita gente achou que o GloboEsporte.com não tinha o que noticiar.
UD: Você fica chateado com esse tipo de comentário?
MN: Não fico. Inclusive estou com o site aberto, e a maioria das criticas não são à foto – é ao GloboEsporte por estar publicando aquilo em início de temporada. Alguns comentários elogiam a foto.
UD: Agora, falando do Momento do Esporte: como surgiu o blog?
MN: Eu trabalho com esporte há quase 40 anos. Resolvi fazer um blog com um sócio chamado ‘Projeto Bola Rolando’ para falar do Ituano e do futebol amador de Itu. Esse blog durou três anos. Acabou não dando certo a parceria, nós nos separamos e eu faço o Momento do Esporte junto com o meu filho, que é jornalista também. Tem cinco anos, mais de 3 mil postagens. Falamos de futebol, futsal, automobilismo, inclusive com fotos e vídeos.
UD: E sobre a sua carreira: como você foi parar no jornalismo?
MN: Eu comecei a me apaixonar por rádio na Copa do Mundo de 1970. Eu era criança ainda, fiquei encantado. Meu sonho era ser narrador esportivo. Vim da Jovem Pan, do Joseval Peixoto, do Osmar (Santos), do Fiori (Gigliotti). Minha vocação nasceu no rádio. Quando eu vim para Itu, tive a chance de trabalhar na rádio local, a Convenção. Mas é muito amadora, com mês de 90 dias. Aí acabei recebendo um convite para escrever no jornal. Acertei com o jornal, o Periscópio, que é uma empresa séria, honra seus compromissos. Fui criando gosto pela coisa. De 1979 para cá, eu tive algumas saídas e algumas voltas, mas estou no Periscópio há mais de 30 anos. Aqui sou editor de esportes.
UD: E o fotojornalismo, como surgiu?
MN: Você sabe como é a coisa de jornal de interior: tem que assobiar e chupar cana. Teve época que eu ficava com o microfone em uma mão e a câmera na outra. Essa foto do cachorro mesmo foi feita com uma maquina precária. Hoje, graças a Deus, tenho um equipamento melhor.
O raio que caiu duas vezes no mesmo lugar
A famosa “sombra de cachorro” não é, porém, a única boa história de Moura Nápoli. Há outra foto da qual o jornalista tem muito orgulho de falar a respeito.
Aconteceu em 8 de janeiro de 2015, durante a disputa da Copa São Paulo de futebol júnior. Naquele dia, no Estádio Novelli Júnior, o Ituano venceu o São Bento por 5 a 2, em partida de considerável rivalidade regional – as cidades de Itu e Sorocaba são vizinhas.
“Ele fica na cabine e eu no gramado. Fiz a foto da comemoração e enviei para o clube. Não lembro agora se ele me mostrou depois do jogo ou no (dia) seguinte que havia feito a imagem também, mas pela visão dele lá de cima”, contou Miguel ao UD, feliz com a timing das imagens.
“Essas coincidências de foto não são frequentes. Em um jogo grande, pode acontecer com frequência, pois há muitos fotógrafos em diversos ângulos. Já em um (jogo) pequeno, é quase que nunca”, completa.
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