Após a última rodada da Série C de 2008, o futebol brasileiro abriu espaço para algumas previsões: o Guarani estava se reestruturando, o Rio Branco-AC e o Brasil de Pelotas teimavam em bater na trave, o Águia de Marabá parecia se revelar uma força do Norte do país… Uma dessas previsões, mais imediatista, acabou se mostrando um grande equívoco: a de que o Duque de Caxias era uma zebra, condenada a cair da Série B logo em 2009. Engano. Por trás do acesso do Duque, há um personagem forte, e que não pode ser descartado nos prognósticos que cercam o clube da Baixada Fluminense: Eurico Miranda.
Ainda presidente do Vasco da Gama, Eurico foi um dos fundadores do Duque de Caxias em 2005. Na época, junto de Washington Reis (ex-prefeito da cidade e patrono vitalício da equipe), Eurico encontrou no Duque a chance de utilizar jogadores que não vinham sendo aproveitados no próprio Vasco, de forma a mantê-los em forma e valorizados. Assim, junto com Reis, assumiu o Tamoio Futebol Clube, que se localizava em Xerém e que se encontrava afastado do futebol profissional.
Com Eurico Miranda, o Duque teria facilidade para passar os trâmites burocráticos do futebol, como encontrar jogadores e patrocinadores. E graças a Washington Reis, a proximidade com o poder público facilitou também a parte estrutural do novo clube, que trocou o distrito de Xerém por sua cidade. Em pouco tempo, a equipe azul e laranja conseguiu, por exemplo, uma injeção mensal de verba, a reforma do estádio João Gaspar Corrêa Mayer (rebatizado de Mestre Telê Santana) e a cessão do Vasco-Barra para partidas – que chegaram a acontecer até mesmo em São Januário.
Para ajudar, a estréia do Duque em campo aconteceu em 2006, justamente quando a Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro passava por uma troca de comando. No ano, a segunda divisão do Campeonato Carioca foi consideravelmente inchada, permitindo a entrada do caçula duquecaxiense após uma seletiva. Na competição, o Duque foi até a fase final, mas perdeu a vaga na final (e na elite) para o Macaé.
O posterior inchaço da primeira divisão, que passou a contar com 16 equipes (ao invés das tradicionais 12) também ajudou. Em 2007, o time comandado por Manoel Neto garantiu o acesso, estreando na elite do Cariocão em 2008. No mesmo ano, inaugurou o estádio Romário de Souza Farias, conhecido como Marrentão. E mesmo estreante, venceu a desconfiança e garantiu sua permanência na Série A do campeonato, mesmo com a modesta 12ª colocação.
Mas o ano do Duque, que já era bom, ficou ainda melhor: o time garantiu vaga na Série C do Campeonato Brasileiro. Graças às desistências de Cabofriense (que teria vaga pela Copa Rio do ano anterior), Bangu, Nova Iguaçu e Olaria (que seriam os herdeiros diretos da vaga), o Duque caiu de paraquedas na então última divisão do Brasileirão. E com uma equipe montada às pressas, o técnico Marcelo Buarque surpreendeu: eliminou o Paulista de Jundiaí na primeira fase, passou pelo América-MG na segunda e despachou o emergente Guaratinguetá na terceira. Assim, estava entre os oito melhores do torneio.
Na quarta fase, logo na segunda rodada, o Duque ficou marcado pelo suposto “cai-cai” de seus jogadores na partida contra o Rio Branco na Arena da Floresta – o jogo terminou 2 a 2, o clube foi punido e o técnico acabou Marcelo Buarque acabou suspenso, dando lugar a Carlos César. Mesmo assim, graças a uma combinação de resultados na última rodada, o Duque de Caxias tomou o quarto lugar do Águia de Marabá e garantiu sua vaga na Série B.
Em sua estréia na segunda divisão, onde encontrou o rebaixado Vasco da Gama (agora presidido por Roberto Dinamite), a ligação do Duque com o passado do Vasco ficou ainda mais evidente. Por falta de material esportivo, o time chegou a treinar para jogos com camisas que a Umbro havia fabricado para os vascaínos anos antes (clique aqui). Além disso, no final de agosto, o clube demitiu o técnico Rodney Gonçalves e ocupou interinamente o cargo com Álvaro Miranda – filho de Eurico Miranda e então auxiliar técnico. No fim, com Gilson Kleina no comando, o Tricolor da Baixada terminou o ano na honrosa oitava colocação. De saída, foi substituído por Nelsinho Rosa, técnico campeão brasileiro pelo Vasco em 1989, sob comando do presidente… Eurico Miranda.
“Eu espero que em 2010 o Caxias suba mais um degrau. Pela historia do Caxias, ele não parou, não se satisfez pelo que conquistou. E em 2010 vai subir um outro degrau”, comentou Eurico Miranda, presente a uma churrascaria do Rio de Janeiro na comemoração da campanha do Duque de Caxias no fim de 2009. “Queria agradecer o dr. Eurico Miranda como parceiro, batalhador. É um orgulho muito grande pra gente”, completou Washington Reis.
Garantido na Série B em 2010, o Duque de Caxias dificilmente poderá brigar por uma vaga na Série A do Campeonato Brasileiro a curto prazo. No entanto, enquanto contar com suporte do poder público e de uma das grandes personagens do futebol brasileiro nos últimos 40 anos, continuará incomodando e surpreendendo – ainda que de forma mambembe – equipes tradicionais do Campeonato Carioca e das competições nacionais.
Informações e fotos: Wikipedia, Sidney Rezende, Lance! e Futebol Interior.
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