Já virou comum ver argentinos, uruguaios e colombianos atuarem em campos brasileiros. Não é difícil encontrar um latino-americano que desfile seu futebol por aqui e até consiga brilhar em alguns casos. Difícil é achar um africano nesses mesmo gramados. Mas existe um que está no Brasil há quase dez anos, já conseguiu se adaptar e até obteve algum sucesso.
Ele é Steve Loic Mbous, camaronês conhecido apenas como “Stivi”. Trata-se de um volante, mas que tem vários gols marcados como suas principais marcas da carreira: ele fez o primeiro do Macaé na primeira divisão do Campeonato Carioca, contra o América-RJ; o primeiro do mesmo time no Maracanã, contra o Fluminense; e ainda o primeiro tento da história da Série D brasileira, contra o Fluminense-BA.
Em entrevista para o Última Divisão, ele comenta essa fama de goleador: “Eu não sei se é sorte ou coincidência. Em dois anos no Macaé, eu fiz uns 15 gols. O que será? Tomara que o Senhor continue me abençoando para que eu possa fazer mais gols”.
Nascido na cidade camaronesa de Mfou, Steve iniciou sua carreira como jogador de futebol no Canon Yaoundé-CAM, tendo inclusive recebido uma convocação para a seleção sub-17 de seu país. Ele veio ao Brasil apenas para visitar seu irmão, que mora em Brasília e aproveitar as férias. Aprovou a cidade e resolveu esticar o tempo de estadia.
“As primeiras impressões foram as melhores, gostei de Brasília, a cidade é bem organizada, linda e projetada no modelo de um avião”. Foi quando ele fez alguns testes no Gama, foi aprovado, lançado nos profissionais por Cuca (técnico do Fluminense) e começou a construir sua carreira por aqui.
Mas não sem antes passar por dificuldades. Apesar de considerar “tranquila” a sua adaptação ao futebol brasileiro, Steve admite que teve dificuldades com a língua portuguesa. Seu irmão chegou a ir aos treinos para ajudá-lo. Além disso, ele conta que já teve que encarar o racismo por aqui: “Os negros brasileiros já sofrem preconceito, imagine os africanos”, comenta em meio a risos de quem não se abateve com os desafios. Mesmo sabendo que “é muito mais fácil sair da África rumo a um clube europeu”, Steve insistiou em jogar no país do futebol.
Atualmente no Macaé, o camaronês já teve a chance de atuar por um grande clube do Rio de Janeiro. Ele chegou a ser um dos homens de confiança de Tita, técnico que depois foi treinar o Vasco (em 2008) e indicou o camaronês para a diretoria. A negociação não foi concluída, mas ele ainda sonha: “Acho que não chegou ainda meu melhor momento, acredito que ele está por vir. Eu não acho que já me dei bem, mas espero trabalhar bastante e pedir a Deus para que eu tenha um oportunidade num time de maior expressão”.
Steve pode realmente não ter conquistado ainda um sucesso marcante no futebol brasileiro, mas já foi mais longe do que muitos outros africanos que tentaram a sorte por aqui. A falta de disciplina tática costuma ser o principal problema em campo. Poucos fugiram da regra.
No Brasil, por exemplo, pode-se citar o atacante nigeriano Ricky, que ainda hoje é lembrado pelos torcedores do Vitória por seus gols, além do goleiro camaronês William Andem, que teve suas chances no Cruzeiro e no Bahia. Aliás, atualmente o tricolor baiano, com Adams, e a Portuguesa Santista, com a dupla Patrick e Collins, são alguns dos poucos clubes brasileiros com africanos no time.
A situação não muda na América Latina como um todo: o lateral Geremi, também camaronês, está hoje no futebol inglês, mas já jogou no Cerro Porteño, do Paraguai. Outros nomes como Tchami, conterrâneo de Steve, e o ugandês Sekagya são outros casos raros de sucesso razoável na Argentina. Mas são histórias isoladas do que normalmente acontece.
Dessa forma, é difícil que Paul Le Guen, técnico de Camarões, veja o futebol brasileiro para convocar seu time. Mesmo assim, Steve ainda projeta e brinca: “É meu maior sonho e minha motivação ser convocado. Eu acho (a seleção de Camarões) boa, mas poderia ser melhor. Só falta minha convocação para ser completa”.
Após anos vivendo no Brasil, ele ainda garante que vai torcer pelo seu país de nascimento se ele for para a Copa do Mundo, mesmo sem acreditar que qualquer time da África possa ser campeão. Steve não acredita nem no país sede, a África do Sul, treinada por Joel Santana, com quem ele já teve contato no Vitória e admira até hoje: “Eu acho o trabalho dele excelente, tanto nos times quanto na Seleção Sul Africana. Espero que ele faça um trabalho inesquecível”.
Para conseguir ir longe e conquistar suas pretensões ambiciosas no futuro, Steve precisa ajudar o Macaé a seguir com a boa campanha na Série D. O time está nas oitavas de final e conseguiu um bom resultado no jogo de ida, contra o Tupi, em Juiz de Fora: 1 a 1. O time carioca vai decidir em casa e, juntamente com seus companheiros, o camaronês terá a chance de provar que não está para brincadeira quando traça seus objetivos: “Espero ainda jogar num time grande do Brasil, deixar minhas marcas, meu nome, e consequentemente conseguir uma convocação na Seleção do meu país”. Será que ele consegue?
Steve Loic Mbous
Apelido: Stivi
Data de nascimento: 22/12/1984
Posição: Volante
Nacionalidade: Camaronesa
Natural: Mfou
Altura: 1.86m
Peso: 84 kg
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