Os estádios da Copa do Mundo de 2014, no Brasil, são frequentemente colocados em xeque. Além dos preços de construção (que, via de regra, superam o orçamento inicial), muito se questiona se não serão “elefantes brancos”, grandes obras sem uso. Haverá jogos futuros em cidades que não contam com times nas principais divisões do futebol brasileiro?
Mas há casos tão ou mais duvidosos em destaque neste momento no cenário internacional. Sede da Olimpíada de Inverno de 2014, a cidade de Sochi (Rússia) ganhou um estádio novinho para o evento. Inaugurado um ano antes, o Estádio Olímpico Fisht tem 40 mil lugares, design arrojado, localização privilegiada, e ainda vai receber jogos da Copa do Mundo de 2018. Só não tem um time para jogar nele.
Sochi não tem um time de futebol. De fato, o clube mais importante nas proximidades é o Kuban Krasnodar, da primeira divisão nacional, localizado na cidade de Krasnodar (cerca de 180 km de distância). Ou seja: em se tratando de agenda, o Estádio Olímpico Fisht deverá estar constantemente entregue às moscas após a Olimpíada de Inverno.
Na verdade, apesar do belíssimo estádio, o futebol nunca foi o forte de Sochi, cidade turística de cerca de 340 mil habitantes localizada às margens do Mar Negro. A história da modalidade no local começou apenas em 1991, graças à fundação do FC Zhemchuzhina-Sochi. Em seu primeiro ano, o clube venceu um dos grupos regionais da então quarta divisão do Campeonato Soviético. No entanto, subiu para a segunda divisão do Campeonato Russo já em 1992, gracas ao colapso da Uniao Soviética.
Integrante da primeira divisão russa entre 1993 e 1999, o clube de Sochi entrou em crise a partir deste período, fechando as portas no final de 2003 após jogar a terceira divisão. Nesta época, e durante toda sua existência, o Zhemchuzhina atuou no Slava Metreveli, estádio acanhado para cerca de 10 mil torcedores facilmente localizável na cidade (foto acima). Batizado em homenagem a um dos principais jogadores da seleção soviética entre as décadas de 60 e 70, o local hoje é utilizado praticamente apenas para eventos de pedestrianismo, embora suas arquibancadas em vermelho, laranja e amarelo estejam bastante preservadas.
Após seu licenciamento, a equipe se “dividiu” em duas. Inicialmente, o antigo presidente do Zhemchuzhina rebatizou o espólio do clube de FC Sochi 04, que atuou na terceira divisão russa nos anos seguintes. Em 2009, sem garantias financeiras, o clube pediu licença – quadro do qual não saiu até os dias de hoje.
Neste intervalo, Arsen Naydyonov (ex-treinador do Zhemchuzhina-Sochi entre 1991 e 2003) foi escolhido para presidir o Zhemchuzhina-A, novo clube da cidade que disputaria as divisões de acesso a partir de 2007. Com o direito de adotar o nome FC Zhemchuzhina-Sochi a partir de 2008, o clube retornou à segunda divisão do Campeonato Russo em 2010, mas pediu nova licença no ano seguinte em decorrência de mais uma crise financeira.
Sem clube desde então, Sochi convive com seus dois estádios, o Slava Metreveli e o Olímpico Fisht. O primeiro, como dito, segue sendo utilizado como pista de corridas e caminhadas informais. Mas e o segundo? Ao que tudo indica, até que seja utilizado como uma das sedes da Copa do Mundo de 2018, será eventualmente usado pela seleção da Rússia como centro de treinamentos e jogos amistosos – para tal, precisará concorrer com o Estádio Luzhniki, em Moscou.
Nada que preocupe o Comitê Olímpico Internacional. Diante do questionamento a respeito dos custos de organizar em Sochi a Olimpíada de Inverno de 2014, a entidade se apegou ao legado que será deixado à cidade após a competição, graças ao investimento em infraestrutura voltada ao turismo de esportes de neve e gelo. Em uma cidade conhecida como um destino turístico de verão dos russos, não se falou no legado no qual se inclui o Estádio Olímpico Fisht.
“Os custos operacionais de Sochi são equivalentes aos das Olimpíadas que a antecederam. Você não pode falar de custos ao falar da mudança de uma região, da transformação de um resort antiquado de verão em um destino de esportes de inverno. Isso não é um custo olímpico, mas o preço de uma transformação”, defendeu Thomas Bach, presidente do COI.
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