Naquele já distante ano de 2001, a internet comercial já era uma certeza no Brasil, embora ainda engatinhasse em muitos lares. Por isso, obter informações de clubes de menor expressão no futebol brasileiro podia ser uma aventura – mesmo que esses clubes disputassem a elite nacional.
Por isso, quando o Gama passou a ser apresentado como Gamma em jornais e revistas, provavelmente ninguém teve 100% de certeza do motivo. Mudou? Ou será que o nome sempre foi assim e a gente vinha escrevendo errado?
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Bom, para contar essa história, é preciso primeiro explicar quem foi o protagonista dela: Wagner Antônio Marques, oficialmente presidente do Gama entre novembro de 2000 e novembro de 2004 – ainda que o período de influência no time seja muito maior. Nascido em Catalão (GO), o 17º presidente gamense é dono de uma trajetória longa não apenas no clube, mas também no futebol do Distrito Federal.
Em 1999, após a conquista da Série B do Campeonato Brasileiro do ano anterior, Marques promoveu algumas mudanças sutis no escudo do clube. A sigla SEG (Sociedade Esportiva do Gama) deu lugar ao nome Gama, e o brasão ganhou uma estrela dourada em alusão ao feito nacional.
Passados três anos na primeira divisão (incluindo aí a Copa João Havelange), o Gama surpreendeu seus torcedores. No último jogo da fase de classificação do Brasileirão de 2001, quando recebeu o Botafogo-SP, o clube apareceu com o nome “Gamma” nos ingressos. Seria um erro?
Nada disso. Após sugestão de uma empresa de consultoria esportiva, a Sport Arg, Wagner Marques decidiu mudar o nome do clube – para, com base na astrologia e na numerologia, dar mais peso à equipe.
Segundo o tarólogo e numerólogo Márcio Régis Fortuna, autor da ideia, a conta era razoavelmente simples (talvez só para ele). A soma das letras da palavra Gama era igual a 13, com base na posição de cada letra no alfabeto: G era igual a 7, A equivalia a 1, e M equivalia a 4 (a letra é a 13ª do alfabeto, mas a soma do 1 com o 3 resulta no 4).
Fortuna convenceu Marques de que aquela numeralha traria dificuldades ao clube. A alternativa seria dobrar o M para aumentar a soma total para 17 – o número equivaleria a uma volta por cima. Além disso, somando do 7 do G com o 1 do A, o número 8 traria dinheiro para a equipe a longo prazo.
Energia positiva e dinheiro: quem não gostaria?
Assim, no começo de 2002, o Gama passou a se apresentar como Gamma, embora mantivesse a razão social com um M só. O clube ganhou inclusive um novo distintivo com a alteração.
“Isso já vem sendo realizado por várias empresas”, alegou o mandatário gammense na ocasião.
Só que a novidade não colou junto à torcida, que lembrava, entre outras coisas, os cinco títulos consecutivos no Campeonato Brasiliense (1997, 1998, 1999, 2000 e 2001) e o título da Série B conquistados com um M só no nome.
Assim, a mudança não resistiu à pressão popular. No fim de 2002, o Gamma já havia voltado a se chamar Gama. Naquele ano, o time foi rebaixado no Campeonato Brasileiro – até hoje, a última participação da equipe na primeira divisão nacional. O clube ainda foi rebaixado na Série B em 2003, mas retornou à segunda divisão nacional graças ao vice-campeonato da Série C de 2004.
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