Por que o Vasco não subiu pra Série A em 2021?

A grande notícia da 34ª rodada da Série B foi: o Vasco está fora da briga pelo acesso. Quatro vezes campeão da Série A, vai disputar a Série B pela quinta vez nessa história. E isso foi decidido após uma goleada vexatória para o rival Botafogo. Humilhação.

É a hora certa de tentar entender por que tudo isso aconteceu. Não é fácil, afinal só um motivo que explica. E talvez existam mais do que esses listados abaixos. Mas está aberta a reflexão. Até porque o Vasco já tem que planejar 2022 e precisa aprender com os erros.

• Questões financeiras

Antigamente, quando um time campeão da Série A caía pra Série B, voltava rapidamente. Isso acontecia pela força do clube, mas também por causa do “paraquedas” – cláusula que pagava aos times rebaixados o mesmo valor de Série A pelos direitos de TV. Isso acabou há 3 anos. E agora já vimos Cruzeiro e Vasco ficando presos na Série B.

E existem outras questões financeiras específicas do Vasco. A crise de orçamento do clube é longa, vem de outras gestões. O presidente atual, Jorge Salgado, tem enxugado a folha salarial – caiu de R$ 5 milhões para R$ 3 millhões. E isso impediu o time de fazer mais contratações, por exemplo. Mas é claro que o Vasco teve orçamento suficiente pra subir, então não é só isso que explica a crise. O problema maior é o dinheiro mal gasto.

• Alexandre Pássaro 

O principal responsável por administrar esse dinheiro foi Alexandre Pássaro, diretor executivo de futebol. E errou demais na missão. Já chegou sob desconfiança, porque o trabalho dele no São Paulo foi digno de críticas. E no Vasco parece que ele não entendeu a realidade do clube. Pior: em nenhum momento até agora assumiu erros. Tem mostrado soberba em diversas declarações. Deu uma entrevista coletiva desastrosa recentemente, em que ficou citando os rebaixamentos anteriores do Vasco e disse que não sabe fazer um trabalho diferente do que fez.

Um erro do presidente Jorge Salgado foi deixar tudo nas mãos do Pássaro. Quando se elegeu, ele prometeu desenvolver uma estrutura que seria comandada por um vice-presidente de futebol, além de um CEO, o que certamente geraria mais acerto nas decisões. Mas o presidente alegou falta de recursos e não montou essa estrutura. Isolado, Pássaro não deu conta. Agora parece que Salgado vai mudar isso.

“Se a solução estiver na minha saída, sou primeiro a renunciar”, disse Pássaro recentemente. Parece uma boa ideia. 

• Formação do elenco

Ao contrário do Pássaro, eu assumo erros. E admito: achei que o Vasco tinha formado um bom elenco para a Série B. Inclusive publiquei essa opinião aqui no UD, antes da Série B começar. Mas na prática foi exatamente o contrário: quase todos 13 jogadores contratados em 2021 deram errado. E a diretoria não agiu para corrigir os problemas vistos ao longo da campanha. Isso não dava pra eu prever.

Um exemplo: logo nas primeiras rodadas ficou perceptível que o Vasco não tinha volantes confiáveis, pois tomava erros na saída da bola com frequência e faltava pegada na marcação. Mas não chegou ninguém para resolver o problema. E nem dá pra jogar a culpa na falta de recursos, porque daria pra tentar resolver isso com jogadores das divisões de acesso, por exemplo, que não custariam tanto. A Série C tinha volantes melhores do que Bruno Gomes. Mas nem isso foi tentado. 

O Vasco apostou demais em jogadores que têm prestígio, mas estão em má fase. Vanderlei, Ernando, Zeca, Marquinhos Gabriel, Morato… todos já mostraram qualidades na Série A no passado e por isso foram bem avaliados – pela diretoria e por mim. Mas o momento atual dos jogadores precisa ser mais levado em consideração, entre outros fatores – condição física e vontade também fazem diferença, por exemplo.

• Técnicos

O Vasco teve 3 técnicos na Série B. Entre eles o principal responsável pela campanha ruim foi Marcelo Cabo. Participou da montagem do elenco, mas já chegou desgastado pra competição, após o desempenho irregular no Campeonato Carioca. Talvez a diretoria devia ter feito a troca ali, antes de começar a Série B.

Depois houve um excesso de paciência com o trabalho dele. Cabo não conseguia resolver problemas básicos, como a jogada aérea defensiva do Vasco. Também não mostrava o que pretendia para o time – às vezes montava uma equipe mais ofensiva, em outros casos mais reativa. E assim caiu após 12 rodadas. 

Lisca teve tempo para recuperar o time, mas fracassou feio. Cometeu os mesmos erros de Cabo e não conseguiu fazer algo que eu esperava dele, gerir melhor o ambiente.

Fernando Diniz fez isso melhor, mas era tarde. Chegou com tudo prejudicado, teve pouco tempo e mostrou o trabalho de sempre: bom começo e desgaste rápido. Deve ficar no time pra 2022, mas ainda não passa confiança.

• Erros em campo

Os jogadores também são grandes responsáveis pela crise. O Vasco deve ser o time que mais cometeu erros individuais na Série B. Um levantamento do ge mostrou que o time poderia ter 15 pontos a mais se não fossem esses vacilos feios em jogadas simples. Teve de tudo: desde frangos até pênaltis desperdiçados. 

Também foi perceptível uma fragilidade psicológica dos jogadores. Era nítido que o time desabava quando sofria o primeiro gol. Os jogadores ficavam apáticos e não reagiam. Parecia até falta de vontade em alguns casos. Talvez seria diferente com a torcida em todos jogos.

Outro problema frequente, que pode ter relação com problemas psicológicos e físicos, era a queda de desempenho no 2º tempo. Foi comum ver o Vasco mostrar um bom futebol no 1º tempo e piorar com o passar do tempo. Basta ver que o time tomou gols decisivos nos finais de jogos importantes, contra CSA, CRB, Guarani e Cruzeiro, por exemplo.