Não trate racismo, machismo, homofobia e outros tantos “ismos” como uma inocente brincadeira. Se fora dos estádios de futebol você não sai ofendendo as pessoas de acordo com sua cor, raça, orientação sexual, gênero e outras tantas diferenças, que nos caracterizam nessa pluralidade, por que fazer isso nas arquibancadas?
Talvez seja importante lembrar que, por trás de um grito (dito) inocente, existe alguém do outro lado que se ofenda ao ser chamado de “macaco”, “bicha” ou “favelado”, entre outros tantos termos pejorativos. Afinal, na torcida adversária deve ter alguém que não goste de ser chamado assim, que se ofenda com estes apelidos, pois já os ouviu no seu dia a dia.
Talvez você grite “só por zoeira”, pois quando começou a frequentar o estádio a torcida adversária já era pejorativamente chamada assim. Contudo, saiba que ao seu lado existe alguém que não grita só por brincadeira. Que essa pessoa ao lado pode ser realmente racista, homofóbico, machista e que queira de fato dar vazão a seus preconceitos.
Na outra torcida – que não é inimiga, mas momentaneamente é adversária – dever ter um negro que se ofenda de ser chamado de macaco. Um homossexual que não goste de ver que a orientação sexual de outrém ainda serve como ofensa. De alguém de uma classe social não tão abastada que juntou suas economias para ver seu time do coração jogar e é chamado de favelado. De alguém que nasceu no Norte, no Nordeste, e que agora vê origem tratada como ofensa. Ou ainda o indígena ouvir que ser índio é algo pejorativo.
Alguns clubes ao longo da história abraçaram as ofensas e fizeram dela motivação e slogan para seguir adiante. Neste contexto, temos a torcida do Newell’s Old Boys (Argentina) que se autoproclama como leprosos e outros tantos apelidos que viraram marca de clubes no Brasil. Entretanto, é necessário sempre ouvir aquele ao qual o grito quer ofender antes de sair por aí dizendo que as ofensas não são nada de mais.
E antes que alguém levante a voz para dizer que o futebol está “ficando chato” lembre-se: até pouco tempo atrás, para ir ao estádio, uma mulher precisava se preparar mentalmente e colocar a roupa mais larga do seu guarda-roupa numa tentativa quase inútil de escapar dos mil impropérios que a elas era dirigido. Hoje, mulheres nos estádios representam um bom número dos presentes nos estádios, e se alguém a elas dirigir uma ofensa, será tratado pela maioria como um doido que parou no tempo. Ainda assim, no entanto, existe um logo caminho para que as mulheres sejam de fato respeitadas no mundo da bola. Vida longa ao “Lugar de Mulher é onde ela quiser”.
Vivemos tempos de muitos discursos de ódio pelo mundo afora, tempos onde o respeito às diferenças está se perdendo. Por isso é tão importante um momento de reflexão: para não dar espaço para que racistas, homofóbicos, machistas e outros tantos preconceituosos usem o futebol para extravasar sua psicopatia. Não podemos mais aceitar o discurso de que no futebol vale tudo, de que o estádio é um ambiente propenso a xingamentos de todo o tipo para desestabilizar o adversário, seja ele torcedor ou atleta.
Os estádios são locais de festas, de torcer e ver nosso time jogar. A vitória não está acima da moralidade. Não podemos aceitar que valha tudo em nome da vitória. Chegou a hora de abandonar gritos preconceituosos que estimulem a discriminação, a violência e o afastamento dos que se sentirem ofendidos. O futebol é um esporte, e como tal precisa cumprir seu papel de inclusão e confraternização entre os povos.
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