Foram longas dez temporadas na Série B, mas em 2017 o Paraná Clube contou com a força de sua torcida para retornar à elite do futebol brasileiro. Uma bonita festa, com direito à recorde na Arena da Baixada, coroou uma campanha memorável ao longo da temporada.
Neste meio tempo, o jornalista curitibano Josias Lacour reunia suas memórias acumuladas ao longo de seus 30 anos de carreira como repórter e narrador para contar a história de uma época quase esquecida do futebol: de quando o Paraná Clube surgiu como uma das maiores forças do futebol paranaense, no começo da década de 90.
Dessas anotações, que passaram do caderno para o computador e do disquete para o CD e pendrive, saiu o livro Paraná Clube – A Década de Ouro e A Volta à Série A. Lançado de maneira independente no final de 2017, o livro narra as principais conquistas do Tricolor da Vila de 1991 até 2000, e, dali, há um salto no tempo para falar do acesso à Série A no ano passado.
Conversando com ex-jogadores, funcionários, torcedores, dirigentes, entre outros, reuniu histórias curiosas sobre esses anos mágicos desse clube que nasceu em 1989 já com um passado de glórias. E tudo contado de maneira apaixonante e apaixonada, já que Lacour jamais escondeu sua paixão pelo clube.
Mas a obra não é apenas um livro por paranistas e para paranistas. Ele é também um recorte histórico do futebol do Paraná em um tempo em que as coisas eram muito diferentes do que são hoje.
Para mais informações sobre o livro, acesse o site do autor.
Leia nossa entrevista com o autor:
Última Divisão: O Tricolor foi fundado em 1989 para ser o clube do futuro, inclusive herdando a capacidade administrativa do Pinheiros — embrião paranista que na década de 80 levava a melhor nesse quesito contra todos os outros de Curitiba. Acredita que isso tenha sido fundamental para o sucesso inicial?
Josias Lancour: Com certeza. O problema é que as más gestores que se sucederam, especialmente a partir da gestão Ocimar Bolicenho, comprometeram todo o projeto de crescimento e solidez patrimonial do clube. O Ocimar inflacionou o clube e deixou um rombo enorme no cofre. Seus sucessores seguiram pelo mesmo caminho. Ações trabalhistas se acumularam. Falta de pagamento das taxas de transferências de jogadores para o exterior ao Banco Central causaram prejuízo tremendo aos cofres do clube. Resultado: sugiram as dívidas. Nenhum gestor teve capacidade de saná-las. Venderam patrimônios imobiliários com o argumento de que destinariam recursos para sanar as dívidas e não fizeram isso. A bem da verdade, um presidente encobriu as falhas de seu antecessor e resultou que o clube está pagando caro por isso.
UD: Entre os títulos do Paraná, qual considera o mais importante da história?
JL: Em nível de projeção nacional, o título da Série B do Brasileiro de 1992 é o mais importante, sem dúvida. Entretanto, no aspecto emocional, escolho o primeiro título da história (Campeão Paranaense de 1991) o mais importante. Afinal, é como dizia o slogan de uma memorável campanha publicitária para vender sutiã: “Do primeiro a gente nunca esquece”.
UD: Alguns anos depois da criação do Paraná Clube foi criada a Lei Pelé. Acha que o clube teria um sucesso contínuo se fosse fundado apenas depois da criação dessa lei?
JL: Creio que a edição da Lei Pelé não prejudicou em nada o clube. O que prejudicou, mesmo, no duro, foram as más gestões.
UD: No livro, você conta que foi um dos incentivadores da fusão Colorado e Pinheiros. Inclusive pediu emocionado para narrar parte da conquista do primeiro título paranista, o Estadual de 1991, pela Rádio Independência. Um fato que relembrou o Vinicius Coelho, que foi presidente da Associação Brasileira de Cronistas Esportivos e que dizia que narrar o Coritiba campeão nacional em 1985 foi uma das maiores façanhas em vida. O prefácio do seu livro foi escrito pelo Serginho Prestes, que além de integrante atual da crônica esportiva foi um dos maiores atletas da história do Paraná. Considera essa situação uma realização pessoal de um torcedor de futebol, que inclusive foi participante da Torcida Organizada Colorada (do embrião do Paraná Clube)?
JL: Sim, sempre fiz questão de assumir meu amor pelo clube de Vila Capanema. Surgi de suas arquibancadas. Encarei de frente uma geração de cronistas que escondia sua preferência clubistica, por receio de não ser bem aceita pelos clubes adversários. Eu assumi e sempre fui respeitado pelos torcedores dos demais clubes. Sobretudo porque profissionalmente sempre cobrei mais do meu clube do que dos co-irmãos. Fui um critico voraz dos dirigentes paranistas. Especialmente porque não engulo até hoje o destino ruim que suas más gestões conduziram o clube.
UD: Tendo em vista que mesmo tradicional o Paraná contava com apenas um livro, o Vôo Certo, feito pelo Carneiro Neto, em que momento da história você decidiu que escreveria uma obra sobre o clube? Conte um pouco sobre como foi:
O livro escrito pelo Carneiro Neto tem seu valor histórico, claro. Também foi muito bem escrito. Respeito e considero muito o Carneiro. Sua referência está nos clubes que deram origem ao Colorado, ao Pinheiros e consequentemente ao Paraná Clube. Já o livro A Década de Ouro foca nas grandes conquistas do time em si, seus personagens, heróis, treinadores vitoriosos, torcedores apaixonados. Mostra também o crescimento da torcida mesmo nos momentos de adversidade. O time ficou uma década penando na Série B do Brasileiro e a torcida só fez crescer em quantidade, amor e paixão por seu pavilhão. Virou uma grande Nação, sem dúvida.
Comecei a escrever a Década de Ouro nas anotações de meu caderno que foi meu companheiro nos tempos de reportagem e narração pelo rádio, passei a usar a máquina manual, depois migrei para o computador. Gravei em disquete (lembra dele?), depois passei para CD e por fim para o pendrive. Felizmente tive tempo de criar um apêndice no qual relatei a emocionante volta à Série A do Campeonato Brasileiro. Foi tudo muito gratificante. Especialmente a aceitação pela torcida. Confesso que me realizei com a publicação dessa obra. Ela ficou linda, como linda é a história vitoriosa do Paraná Clube.
UD: Na atualidade aquele que se interessar pelos livros de história do futebol paranaense vai encontrar dificuldade em achar os mesmos. São raros em livrarias e apenas os sebos às vezes colocam uma ou outra obra à venda. Gostaria que comentasse esse panorama e também acrescentasse que tipo de barreiras encontrou nesse sentido para divulgação de seus livros.
Tenho procurado contribuir, modestamente, com a literatura esportiva paranaense, realmente desprovida de obras mais volumosas. A dificuldade maior é a falta de patrocínio, de interesse dos empresários nesse tipo de obra. Eles não têm visão de futuro. Não ganharam consciência da importância que a literatura em si tem, quanto mais a esportiva.
Quanto à divulgação, tive grande apoio dos colegas e amigos da crônica, especialmente do pessoal de rádio. A Transamérica, a CBN, a Globo e a Banda B foram parceiras. Abriram-me os microfones e incentivaram-me sempre. Sou-lhes eternamente grato.
UD: O Paraná ficou quase 10 anos na Série B. Como foi esse período para o clube e, em sua opinião, quais foram os motivos que o fizeram se reerguer até a Série A?
A volta à Série A foi uma grande conquista. Valeu como um título. Eu e todos os paranistas não suportávamos mais ver nosso time ser humilhado, mal tratado, condenado ao sofrimento na Série B. Um grupo valente de atletas, maravilhosamente bem comandados pelo Mateus Costa que, lamentavelmente, acabou demitido logo depois por um presidente precipitado. A união dos atletas, o comando vitorioso do Matheus e a sinergia de todos com a torcida, reconduziu merecidamente o Paraná Clube à Série A.
UD: E, para finalizar, em quais lojas é possível adquirir seu livro?
JL: Como produção independente, não coloquei o livro à venda nas livrarias. Fiz a venda direta pela Internet. Doei alguns exemplares para o Acervo da Biblioteca Pública do Paraná.
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