Sucesso no futebol paulista da década de 90, o Novorizontino parece pronto para voltar à ativa. O desejo era antigo, tanto por parte da cidade de Novo Horizonte quanto de boa fração dos antigos nomes ligados à equipe. E no final de fevereiro, o que parecia apenas um boato ligado a torcedores e saudosistas, foi noticiado – com relativa pompa – pela imprensa: o Novorizontino estava de volta.
Mas antes de qualquer comemoração, é preciso ter calma. Ainda não será agora que o Campeonato Paulista terá o Grêmio Esportivo Novorizontino de volta à Série A-1. Primeiro porque o clube deve aparecer apenas na quarta divisão do estado em 2011. E segundo porque o Grêmio Novorizontino não será o herdeiro do espólio do antigo GEN, mas um clube surgido na esteira da equipe que conquistou, entre outros títulos, o vice-campeonato paulista de 90 e a Série C do Campeonato Brasileiro de 1994.
É o que explicou Marcelo do Prado, diretor de patrimônio do “novo Novorizontino” ao Última Divisão. Em meio ao que descreveu como “uma correria” para o anúncio oficial da filiação do clube, Marcelo – ele mesmo um ex-jogador das categorias de base do Novorizontino – concedeu esta entrevista. E explicou o que está por trás da volta do clube aurinegro às competições paulistas.
De acordo com Marcelo, o principal fator a impulsionar a “ressurreição” do Novorizontino é o envolvimento da família De Biase no projeto. Foi Jorge Ismael de Biase, presidente do clube entre 1977 e 1994, quem profissionalizou o time e construiu o estádio de 17 mil lugares que leva seu nome. Antes de sua morte em 1999, o patriarca arrendou o clube para a família Chedid, que encabeça o Bragantino. E segundo o hoje dirigente e então jogador, foi esse movimento que afundou o Novorizontino original.
“Entrei justo na época que o Doutor Jorge arrendou a equipe para os Chedid. E eles dispensaram todas as categorias de base do time”, conta Marcelo, que também passou por Rio Preto e pelo futebol da Bolívia. “Entraram só para vender jogador e acabar com a equipe. Até levaram jogos para fora da cidade na época, para Catanduva e Mirassol”, completa Marcelo, hoje empresário.
Se o Novorizontino – tecnicamente, o terceiro clube com este nome – conseguirá ressurgir com a mesma força dos anos 90, apenas o tempo irá dizer. Por aqui, confira a entrevista na íntegra de Marcelo do Prado, diretor de patrimônio do Grêmio Novorizontino:
Última Divisão: O anúncio oficial da volta do clube sai na coletiva desta quarta-feira (3 de março)? Está tudo certo para a volta do clube?
Marcelo do Prado: Está tudo certo. O que acontecia realmente era o seguinte: fomos para São Paulo há alguns meses para falar com o presidente (da Federação Paulista de Futebol, Marco Polo del Nero) sobre a possibilidade dele, Marco Polo, quebrar o valor da inscrição (na FPF), que era de R$ 500 mil, para uns R$ 60 mil, R$ 80 mil, R$ 90 mil, R$ 100 mil, devido à tradição do GEN. Ao chegarmos lá, ele disse que o valor não era mais de R$ 500mil, e sim, de R$ 1 milhão. Mas como o Novorizontino era um time tradicional e com o qual o Brasil inteiro simpatizou, tinha saudade de vê-lo novamente nos gramados. Devido ao respeito pela família De Biase, em especial ao patrono do nosso futebol, o já saudoso Jorge Ismael De Biase, ele seguraria o valor de R$ 500 mil até o mês de março de 2010.
Voltamos frustrados para Novo Horizonte, com esperança de conseguir esta grana. Na semana retrasada (em fevereiro), retornamos a São Paulo com ex-jogadores do Novorizontino e personalidades políticas, prontos para fazer a inscrição. Ao chegarmos lá, o presidente Marco Polo desconversou e disse que (a inscrição) seria R$ 1 milhão e fim de papo. Nossa casa veio ao chão. Mas depois de um belo almoço e muita conversa, ele disse que estava brincando. Ao definirmos os valores, ele realmente cumpriu o que prometeu. Fechamos a inscrição por R$ 500 mil, e o pagamento da duplicata foi efetuado ontem (1° de março) no Banco Itaú em nome da FPF.
UD: As fotos recentes do Novorizontino trazem a inscrição NAC (Novorizontino Atlético Clube) no distintivo. Esse que está ressurgindo é o mesmo que tinha a inscrição na década de 90?
MD: São equipes diferentes. O NAC (ainda amador) foi uma tentativa de sensibilizar os empresários de nossa cidade a voltar a acreditar no futebol. Inclusive deu muito certo, pois o filho do patrono (Jorginho de Biase) participou dos jogos, nos quais levamos muita gente aos estádios e fomos campeões regional de aspirantes. Daí em diante, foi um grande salto no que diz respeito à confiança dos empresários e também do Jorginho – que praticamente pagou a inscrição do Grêmio Novorizontino.
Olha, só não é o GEN porque o GEN está com muitas dívidas e também não é mais nosso. É da família Chedid. Os caras é que destruíram o GEN. Já imaginou se a gente paga as dívidas? Os caras voltam com tudo pra tomar a equipe e fazer a sacanagem novamente. Mas consideramos a volta do Tigre realmente, pois quem destruiu e afundo o GEN não foi ninguém daqui. Foram os caras de Bragançca, o Marquinhos (Chedid) e seu pai Nabi (Abi Chedid).
UD: O estádio é o mesmo, o nome é o mesmo, o distintivo é o mesmo e as cores são as mesmas. Tem alguma diferença do atual Novorizontino com o dos Chedid?
MP: Do GEN, não tem diferença nenhuma. Ao contrário, a população considera o mesmo time, pois está sendo dirigido pelo povo daqui, pelos novorizontinos de nascimento, pelos ex-atletas profissionais que aqui foram revelados, e também pelo filho do fundador da equipe do GEN, o Jorge De Biase Filho.
UD: Mas a razão social é nova, não é?
MP: Sim. De Grêmio Esportivo Novorizontino, para Grêmio Novorizontino. Resgatamos o Tigre e demos um novo nome. Este é o nome oficial.
UD: E desde quando existe esse projeto atual para a volta do time?
MP: Já houve vários projetos frustrados, mas este novo existe desde o jogo contra o masters do Corinthians que teve aqui em Novo Horizonte no ano passado – acho que em setembro. Inclusive este novo nome já existe desde 2001 e estava desativado, e como não podíamos perder tempo, pagamos os impostos atrasados e entramos com este CNPJ. Precisávamos de uma equipe com mais tempo na ativa, com CNPJ com mais de um ano, para podermos receber doações do tipo incentivo – Lei do Incentivo ao Esporte, verbas de Prefeitura, Governo estadual, etc. E com o NAC, não dava tempo.
UD: O que fez com que este desse mais certo? Os De Biase já estavam envolvidos nos outros?
MP: O projeto é de uma outra diretoria que teve seus planos frustrados, como eu disse. Os De Biase nunca estiveram envolvidos em outros projetos. Eles têm dinheiro, muito respeito e seriedade. Como entramos na disputa do (campeonato) regional amador e fizemos um belo trabalho, eles se interessaram na coisa novamente, e em um belo projeto para revelar jogadores e tirar os meninos das ruas. Encararam essa bela idéia de montar novamente uma equipe profissional nas tradições do belo e velho Tigre, que foi muito tempo respeitado no futebol do interior, quando o doutor Jorge Ismael De Biase era o presidente.
UD: Antes mesmo do anúncio, já havia camisas do clube à venda na internet. Elas são oficiais, licenciadas? O clube tem conhecimento da venda? Recebe pela venda delas?
MP: Essas não são oficiais. E, a partir de agora, estaremos tomando providências quanto a isso, primeiramente comunicando esses revendedores. A camisa vai ser da Finta ou da Nakal. Estamos aguardando retorno dos patrocinadores. (Mas) precisamos analisar isso, porque também não podemos nos intrometer em coisas antigas do GEN. Não faz parte de nossa responsabilidade. E a camisa que tem lá é do GEN.
UD: O plano já é entrar na Segunda Divisao do Campeonato Paulista neste ano? Burocraticamente, está tudo certo?
MP: Negativo. Este ano, entraremos no sub-15 e sub-17. Não dá tempo de formar a equipe do profissional para este ano ainda. Tudo certo, está para 2011. E no ano que vem, estaremos na Copa São Paulo, surpreendendo muita gente com o retorno da amarela e preta aos gramados.
Fotos: Terra/Gazeta Press (time posado) e Marcelo de Prado/Arquivo Pessoal (Novorizontino AC).
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