Torcedor de futebol sabe ser chato quando quer. E quando quer, incomoda jogador, treinador, dirigente, jornalista, adversários e até mesmo torcedores do mesmo time. No entanto, nenhum torcedor do Brasil soube ser chato como Zé do Rádio, fanático pelo Sport, que ficou tão conhecido por sua chatice – e por seu rádio – que foi até mesmo parar no Livro dos Recordes.
Ivaldo Firmino dos Santos, o Zé do Rádio, nasceu em 1945 – calcula-se, já que não achamos a data exata – e seguiu carreira militar. Segundo sua página na Wikipedia (sim, ele tem uma), passou a torcer pelo Sport em 1972, já que passava sempre pelas redondezas da Ilha do Retiro. Nesta época, porém, o amor pelo Sport precisou dividir o coração com a namorada e… Com o Náutico.
Mais uma vez, quem afirma é a Wikipedia. “Zé do Rádio foi torcedor do Náutico por um ano, três meses e 28 dias – tempo que durou seu namoro – apenas para conquistar seu sogro, o professor de música Miguel Barkokebas, e casar com Deomiyrza Barkokeba dos Santos, com quem ainda vive nos dias de hoje. Zé do Rádio temia que Barkokebas, alvirrubro alucinado, proibisse o seu namoro pelo fato de ser rubro-negro”, diz a página.
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Casado e aposentado, Ivaldo ficou famoso em 18 de agosto de 1999, em virtude de um jogo Sport x Portuguesa pelo Campeonato Brasileiro, realizado na Ilha do Retiro e vencido pelo time pernambucano por 1 a 0. Na ocasião, Zagallo – então técnico da Portuguesa – se irritou com um torcedor que sentava atrás do banco de reservas rubro-verde com um grande e potente rádio.
Seria muito frustrante procurar um vídeo desses e não achar…
Seria mais um torcedor chato do Brasil, se Zagallo não reclamasse em meio a uma edição do programa Super Técnico, da Rede Bandeirantes. O assunto era uma banda que tocava no Estádio Independência, em Belo Horizonte, e que atrapalharia os treinadores. O técnico da Portuguesa rapidamente respondeu: “pior é um torcedor lá no Recife”.
Pronto, foi o suficiente para transformar Zé do Rádio em um nome conhecido nacionalmente.
“Ele pediu para eu baixar o rádio. Aí eu disse que (o correto) não é ‘baixar’, é ‘diminuir’ o volume. Mas eu abaixei. Coloquei o rádio no chão, mas aumentei ainda mais o som (…). Ainda falei que ele teria que me engolir. Eu e meu rádio”, contou Zé do Rádio, já com o famoso apelido, em entrevista de 1999 ao Jornal do Commércio.
Desde então, Zé do Rádio passou a ser figura presente nos jogos do Sport. Junte dele, seu rádio – um General Eletric de 1961, pesando 5 kg e capaz de capturar oito faixas, que, segundo o dono, pega “rádios do mundo inteiro”. Nomes como Luiz Felipe Scolari, Vanderlei Luxemburgo e Ricardo Gomes também passaram por suas provocações.
No entanto, nem tudo foi festa na vida de Zé do Rádio nos anos seguintes. Em 2002, o folclórico torcedor precisou se submeter a um transplante de coração, depois de cinco meses na fila de espera. “Só quem passa por uma situação como a minha, sabe a importância desse gesto. Só estou vivo graças ao transplante”, contou o torcedor, que se tornou presença constante em campanhas de incentivo à doação de órgãos em Pernambuco (foto).
Deu tudo certo, e Zé do Rádio pôde continuar acompanhando o Sport. A recompensa veio em dezembro de 2006, quando entrou no Guiness Book como o torcedor mais chato do mundo. Virou parte do folclore do futebol nacional. E tudo graças à troca de provocações com Zagallo, naquele dia 18 de agosto de 1999.
“Meu sonho é, um dia, conhecer e abraçar Zagallo. E agradecer tudo o que ele fez pra minha família”, disse Zé do Rádio em 2011. Na manhã do dia 21 de maio de 2015, faleceu no Recife, vítima de problemas cardiorrespiratórios.
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