O documentário Futebol de Várzea foi um dos destaques da última edição do Cinefoot (Festival de Cinema de Futebol). O longa-metragem apresenta o cotidiano dentro e fora dos campos varzeanos de São Paulo. Um dos aspectos mais interessantes da película é explorar um aspecto pouco conhecido do esporte mais popular do Brasil.
O espectador acostumado a estádios deslumbrantes e jogadores com salários milionários pode se surpreender. O filme conta a vida de personagens que possuem intimidade com os campos de terrão. Para saber mais sobre o documentário, Última Divisão conversou com Marc Dourdin, diretor do longa-metragem.
Última Divisão: Como surgiu o seu interesse em realizar um documentário sobre a várzea de São Paulo?
Marc Dourdin: Durante muito tempo, joguei futebol em campos society do Clube do Mé. Nesse local, aconteciam muitos jogos amadores nos finais de semana. Depois, a prefeitura construiu o Parque do Povo no lugar dando fim aos campos da região. Quando isso aconteceu, muitas matérias foram feitas pela imprensa. Me interessei pelas histórias e pelas pessoas que faziam parte desse universo. Constatei que o esporte estava vivo na periferia de São Paulo. O futebol varzeano é um universo desconhecido para quem vive próximo ao centro.
UD: Qual foi a sua maior dificuldade na realização de Futebol de Várzea?
MD: O filme é focado em quatro personagens. O maior desafio foi encontrar um time de futebol, um árbitro exclusivamente de várzea, um ex-jogador profissional, com passagem pelo futebol varzeano, e um jogador jovem atuante na várzea em busca do sonho de se profissionalizar. Sempre quis mostrar a relação de uma equipe com sua comunidade e como é a vida de quem iniciou sua carreira nela. Isso é um pouco do que o longa mostra em seus 82 minutos. A várzea de São Paulo é enorme, sendo que a principal competição tem mais de 400 times divididos em duas divisões. Para chegar aos personagens precisei de três meses de pesquisa, indo a campos durante os finais de semana. Durante a semana, eu ficava correndo atrás de histórias e contatos durante a semana.
UD: Você acredita que o futebol ainda é pouco explorado pelo cinema brasileiro?
MD: Diversos longas-metragens sobre times foram produzidos nos últimos cinco anos. Todos tiveram na própria torcida um público considerável. Isso é fundamental para a comercialização dos trabalhos. Acredito que com a realização da Copa do Mundo aqui, o tema deve ser explorado por muitos diretores. Temos que aproveitar esse momento em que o mundo voltará os seus olhos para o Brasil. Não devemos ficar restritos a fazer filmes sobre equipes. Devemos mostrar o que o futebol representa para os nossos compatriotas. Na realidade, o esporte bretão é um fenômeno social e muitas vezes apenas podemos utilizá-lo como linha central de sua narrativa.
UD: O filme passou no festival É Tudo Verdade e agora estará no Cinefoot. Quando Futebol de Várzea irá chegar aos cinemas?
MD: Estou correndo atrás de patrocinadores para levar o documentário para o circuito comercial. Tenho um projeto aprovado pela Ancine (Agência Nacional de Cinema), para que empresas por leis de renúncia fiscal possam ajudar no lançamento do filme. Isso é muito importante, porque acredito que o documentário seja um registro de uma parte significativa da nossa cultura. Fico surpreso quando as pessoas me procuram no final das sessões e dizem que não imaginavam que a várzea era tão forte.
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