Desde a fundação, em 2005, o sonho de Dado de Oliveira, fundador e presidente do Manthiqueira, era colocar a equipe no patamar mais elevado possível do futebol. A estreia em competições oficiais veio em 2011, na Segunda Divisão Paulista (equivalente ao quarto nível de São Paulo). A campanha foi melancólica: vice-lanterna do Grupo 5, com apenas 10 pontos conquistados.
O fair play sempre foi o mantra da equipe, e as malandragens ou o desrespeito nunca foram permitidos. A cartilha de seguir as regras do jogo segue colada na parede do escritório do clube, em Guaratinguetá, a 175 km de São Paulo.
E a recompensa do louco sonhador veio no dia 16 de setembro de 2017, nas semifinais da Segunda Divisão: a Laranja Mecânica do Vale do Paraíba venceu o União Mogi por 3 a 1, no Estádio Dario Rodrigues Leite, e carimbou o passaporte para a Série A3 do Campeonato Paulista. Apenas os finalistas da quarta divisão paulista garantiriam a promoção.
Não satisfeito com o acesso, o Manthiqueira rumou ao seu primeiro título: nas finais diante do EC São Bernardo, um empate fora de casa (1 a 1) e uma vitória no Vale do Paraíba (2 a 1) garantiram muita festa no gramado.
Mas o que foi determinante para esses feitos históricos e inesquecíveis? O Última Divisão entrevistou alguns dos personagens que escreveram seus nomes nas páginas do time, que tem quase 13 anos de caminhada, e conta a história.
União e o “acaso do destino”
Devido ao limite imposto pela Federação Paulista de Futebol, os clubes não poderiam inscrever atletas acima de 23 anos na Segunda Divisão do Paulistão. Para o vice-presidente do Manthiqueira, Damasceno Fidélis, a regra surgiu como aliada para construir o caminho do título.
“Recentemente, falei com o Dado de Oliveira a respeito disso. Acho que foi muito boa a decisão da Federação Paulista em não abrir inscrições para jogadores acima de 23 anos. Isso nivelou o campeonato, foi bom. Construímos um grupo focado, de muita personalidade e que fez história. Formamos uma família”, afirmou o vice-presidente.
Já para Luís Felipe Domingos, de 28 anos, responsável por substituir Nilmara Alves como treinador da equipe, a regra serviu como “acaso”.
“Não foi feito nada de diferente em relação aos anos anteriores. Acho que foi o acaso do destino mesmo. Estávamos com dificuldades de montar o elenco, tivemos que pegar atletas jovens, daqui do Vale do Paraíba mesmo, e fomos com o que tínhamos. Eles se encaixaram bem ao método de jogo, corresponderam em campo, deu liga”, analisa Luís Felipe, que será o “homem da comunicação e marketing” do Manthiqueira em 2018.
Competição mais “cascuda”, mas sem livrar das regras
Acostumado a jogar aos sábados à tarde e enfrentar adversários regionalizados, o Manthiqueira terá agora uma tabela com partidas às quartas, sábados e domingos, e com adversários de diversas partes do estado. O presidente Dado de Oliveira reconhece que a novidade e a inexperiência podem ser um empecilho, mas aposta na manutenção da cartilha e do jogo limpo como diferenciais para o time se sair bem no torneio.
“Para nós, tudo é novidade. Vamos enfrentar equipes com uma qualidade maior. Mas temos que enfrentar. A gente não tem essa experiência da Série A3, mas o Manthiqueira jamais abrirá mão do seu jogo limpo, do fair play, do respeito. Queremos jogar e fazer bonito”, afirma o mandatário.
Saídas e reposições
Para a estreia na Série A3, o clube não terá o lateral Guilherme Cururu, que se transferiu para o Juventus (SP); o zagueiro Felipe Costa (foi para o Tupi, de MG), além dos volantes Léo Costa, que volta para o PSTC (PR), e de Vitor Ono, contratado pelo Belo Jardim (PE).
Ativo no mercado, o Manthiqueira trouxe 11 atletas: Pedrão (goleiro), Alex (lateral esquerdo), Lucas Djean (lateral direito), Álvaro (zagueiro), Dias e Douglas Santana (meia-atacante), Kacá (meia), Diego Souza (volante) e França, Alan Júnior e Ninão (atacantes).
Confiança em Nilmara
Nilmara Alves, primeira mulher a treinar uma equipe profissional masculina no estado de São Paulo, havia sido desligada do Manthiqueira em 2017. Ela estava conciliando a vida de técnica e funcionária pública em Aparecida do Norte, cidade vizinha à Guaratinguetá. Entretanto, Dado de Oliveira confirmou que ela retorna ao time nesta temporada.
“É uma excelente profissional, que conhece muito bem a nossa estrutura e filosofia de jogo. Nossa intenção era permanecer com o Luís Felipe, mas ele optou por seguir outra área dentro do clube. Então, a Nilmara será a nossa treinadora”, falou o presidente.
O que esperar do Manthiqueira?
Novato na Série A3, o Manthiqueira buscará outros feitos, como a permanência na divisão, ou até mesmo sonhar com um novo acesso, rumo à Série A2. Mas os mandatários e o ex-treinador adotam um discurso “pés no chão”. O primeiro passo, segundo eles, é evitar o rebaixamento.
Vale lembrar que, assim como na temporada anterior, seis equipes serão rebaixadas para a Segunda Divisão Paulista. E o time de Guaratinguetá não quer repetir o sabor amargo.
“A gente trabalha com a possibilidade de fazer uma boa A3 e permanecer nela. O planejamento foi feito pra isso. Entendemos que a nossa realidade é diferente, entramos como um franco-atirador. O que temos de diferente é a base que foi mantida. Vamos com calma para fazer uma A3 segura”, disse Luís Felipe.
“Éramos um ponto de interrogação. Hoje, já podemos ser uma certeza. Estamos vivendo uma nova realidade após o acesso. Vamos ter a mídia, equipes mais qualificadas. É um ano especial. Os jogadores sabem o que têm que fazer. É seguir a filosofia e não decepcionar”, analisou Damasceno.
“Queremos colocar em prática aquilo que foi feito na Segunda Divisão. Um time que jogue bonito e respeite as regras. É cedo para falar em acesso ou permanência. Temos que ir com calma”, encerrou Dado.
O Manthiqueira estreia na Série A3 no dia 17 de janeiro, às 20h, quando enfrenta o Taboão da Serra, no Estádio Dario Rodrigues Leite, em Guaratinguetá.
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