Muricy Ramalho e Denilson não são ex-atletas comuns. Depois de acabarem as carreiras como jogadores – e como técnico também, no caso de Muricy -, ambos viraram comentaristas e, mais do que isso, estão entre os melhores personagens do futebol brasileiro atualmente. É por isso que o novo espetáculo que reúne os dois, o “Aqui é trabalho e muita resenha”, funciona tão bem. O Última Divisão esteve no evento de pré-lançamento no Teatro Renaissance e percebeu que a ideia realmente é boa, apesar de alguns pequenos defeitos.
Se você acompanha futebol, provavelmente já riu por causa de atitudes de Muricy e Denílson. No caso do técnico, nem sempre foi um humor proposital. Muitas vezes ele divertiu apenas por fugir do óbvio em entrevistas coletivas ou até por ser duro demais. Já Denílson é aquele sujeito divertido por natureza e sempre animado.
Mas o “Aqui é trabalho e muita resenha” não é uma comédia ou um show de “stand-up comedy”. Muitas vezes Muricy e Denílson falam sobre assuntos sérios, emocionantes e até tristes do futebol. Também deixaram importantes lições sobre valores e sentimentos. Ensinam sobre respeito e valorizam a família. E nisso reside um dos grandes méritos do espetáculo: é algo que pode ser apreciado até por quem não entende muito de futebol. O importante é apreciar as histórias, não debater conhecimento tático e técnico.
O formato é bem simples: um mediador, Guilherme Alf, conduz uma entrevista com os dois. E apesar de ser algo ensaiado, soa espontâneo e tem improvisos. Durante o “1º tempo” (que realmente durou cerca de 45 minutos), Muricy falou muito mais. Comentou sobre personagens importantes da carreira dele e até falou do episódio em que recusou a Seleção Brasileira. É verdade que ele já se manifestou sobre isso diversas vezes, mas há um aprofundamento desta vez. A descrição detalhada da conversa com Ricardo Teixeira é impagável. E a conclusão final de tudo merece aplausos.
No “2º tempo” (também longo, com cerca de 45 minutos), Denílson começou falando sobre festas e baladas, algo que já era esperado. A expectativa era que o papo com ele se baseasse nestes assuntos, já muito explorados em participações dele na rádio e televisão. Mas Denílson surpreendeu e falou de muita coisa séria. Mostrou mágoas e preocupações. Exibiu um lado pouco visto. Até se emocionou em alguns momentos. Foi surpreendente e virou um dos grandes momentos do espetáculo.
Um dos problemas é que, entre o 1º e o 2º tempo, houve um “show do intervalo” pouco interessante. Pessoas da plateia foram chamadas para desafios que causaram pouco entretenimento. Claro que sempre é bom haver um descanso em qualquer peça, mas esse tempo poderia ser aproveitado de outra forma – abrir a possibilidade para perguntas da plateia, por exemplo, teria sido mais interessante. Aliás, isto estava previsto, foi prometido por Guilherme no início, mas não aconteceu em nenhum momento. Provavelmente na versão oficial vai acontecer.
Também foram desnecessários os momentos em que Muricy e Denílson passaram minutos demais elogiando ex-companheiros de trabalho. Quando isso rende histórias de bastidores, é válido. Quando são apenas elogios vazios, fica entediante.
Mas estes pontos fracos não superam os pontos fortes. Ao contrário da época que defendiam clubes, hoje eles possuem o distanciamento necessário para falar do futebol sem qualquer comprometimento e de forma verdadeira. E isso gera os melhores momentos do espetáculo. Muricy e Denílson, bem conduzidos por Guilherme, atingem o objetivo final: mostram por que fizeram e fazem tanto sucesso.
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