Por Gabriel Andriel
Quando você é criança e você olha para os pontos brilhantes no céu à noite, e te contam que esses brilhos são luzes de estrelas há muito tempo atrás chegando a nós só agora, e que muitas delas nem sequer existe mais, você não acredita nisso.
Parece algo impossível. Como algo que deixa uma marca tão visível, mesmo agora, ter acabado anos atrás?
Em 1959, após quase quatro anos discutindo realizar um torneio nacional, a CBD organizou uma competição chamada Taça Brasil. Hoje reconhecida como a primeira edição do Campeonato Brasileiro unificado pela sua sucessora CBF, o torneio contou com 16 campeões estaduais do ano anterior, e de uma maneira ou de outra todos eles existem até os dias de hoje, mais de 60 anos depois.
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Todos, menos um.
O Manufatora Atlético Clube foi o campeão fluminense de 1958, na época em que os campeonatos fluminense e carioca ainda eram competições diferentes. Talvez seja o clube de Niterói mais icônico, não só apenas pela sua participação no primeiro Campeonato Brasileiro, mas também pelo documentário Relembra – Futebol de Operários do Manufatora Atlético Clube, lançado em 2021 contando a história do clube, com intenção de resgatar a memória do time na consciência popular.

O clube foi fundado em 1944 por operários da fábrica Manufatora Fluminense de Tecidos, no bairro do Barreto, que foi sua sede até o fim de suas atividades. Assim como o negócio que o deu início, o Manufatora teceria uma história interessante na sua época de vida: além de ter ganhado o acima mencionado Campeonato Fluminense de Futebol em 1958, foi campeão da competição em 1977, sagrando-se então o melhor clube não situado na cidade do Rio em duas oportunidades.
No entanto, na década de 70, o clube entrou em decadência. Ao tentar se reerguer, chegou a mudar de nome para Associação Desportiva Niterói, buscando mais simpatia na Cidade Sorriso – pelo menos na versão oficial, já que torcedores acreditam que foi uma imposição do presidente da Federação de Futebol do Rio de Janeiro, Otávio Pinto Guimarães.
De qualquer forma, a iniciativa não foi tão bem-sucedida como se esperava, e o agora Niterói realizou campanhas e exibições pífias. Foi último colocado do Campeonato Carioca em 1979 e 1980, e sofreu goleadas como o 7 a 1 diante do Flamengo de Zico em 1980, com seis vezes do ídolo rubro-negro.
A estrela do Manufatora se apagou definitivamente em 1983. A empresa que era responsável pelo clube decidiu pelo fim das atividades, deixando o estádio Assad Abadalla ser encoberto pelo mato. Foi o último clube de Niterói a figurar na elite do Rio.
O Manufatora acabou naquele 1983. Passados quase 40 anos, continua sendo o único clube de Niterói a figurar na elite do Rio, e será sempre um dos 16 clubes do primeiro Brasileirão. Mesmo com o passar dos anos, o brilho que produziu continua a se espalhar.
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