Quem olha as tabelas do Campeonato Paulista da década de 20 acaba se deparando com uma série de times conhecidos. Entre clubes em atividade e afastados do futebol profissional, estão ali nomes como Palestra Itália, Paulistano, Corinthians, São Bento (o paulistano, não o de Sorocaba), Ypiranga e outros. No entanto, nenhum nome parece causar tanta estranheza quanto o pouco conhecido Mack-Port, que nada mais é do que o apelido pelo qual ficou conhecida a fusão temporária entre dois clubes tradicionais do futebol paulista e brasileiro: Mackenzie e Portuguesa.
A história começa, é claro, na fundação da Associação Atlética Mackenzie College. A equipe surgiu em 18 de agosto de 1898, no então colégio de mesmo nome no bairro paulistano de Higienópolis, por intermédio de Bernard Shaw. Professor do Mackenzie, Shaw havia retornado dos EUA em 1896 como um grande entusiasta de modalidades como o basquete, o rugby e o futebol. Então, dois anos após seu retorno, o professor viu seus empolgados alunos fundarem a Associação Atlética Mackenzie College, conhecida como o primeiro clube brasileiro para brasileiros.
O Mackenzie foi protagonista da primeira partida de futebol disputada entre clubes na cidade de São Paulo – no caso, um empate sem gols contra o Hans Nobling Team, em 5 de março de 1899. No entanto, nem mesmo o pioneirismo do time criado pelos alunos de Bernard Shaw foi suficiente para que o clube decolasse nas primeiras competições do futebol paulista. Tanto que, até o início da década de 20, os melhores resultados do Mackenzie haviam sido os vice-campeonatos da APEA (Associação Paulista de Esportes Atléticos) em 1913 e 1915.
O destino dos mackenzistas começou a mudar apenas em 14 de agosto de 1920, quando cinco clubes da colônia portuguesa se uniram oficialmente para a criação da Associação Portuguesa de Esportes. Fruto da junção de Lusíadas FC, 5 de Outubro, AA Marquês de Pombal, Lusitano e Portugal Marinhense, a nova equipe era a chance que os imigrantes lusos esperavam para participar com destaque das competições estaduais – o que havia sido tentado somente com o Lusitano, que participou sem brilho do Campeonato Paulista da LPF (Liga Paulista de Futebol) entre 1914 e 1916.
Ainda em 1920, a recém-criada Portuguesa tentou se filiar à APEA, que organizava o Campeonato Paulista, mas não conseguiu. Motivo: enviou muito tardiamente seu ofício à entidade. Mesmo assim, graças a uma parceria com o Mackenzie (que já perdia força dadas as dificuldades financeiras), a Portuguesa debutou no Paulistão daquele ano na vaga do clube dos estudantes de Bernard Shaw. Surgia então, extra-oficialmente, o Mackenzie-Portuguesa, ou simplesmente Mack-Port.
O início da joint-venture foi promissor. Com a vaga cedida, a Portuguesa estreou com um empate por 3 a 3 com o Ypiranga, seguido por uma vitória por 4 a 0 sobre a AA das Palmeiras. No entanto, cinco derrotas consecutivas sem sequer marcar gols foram suficientes para barrar o otimismo da Lusa, que ficou com a nona colocação dentre os dez times inscritos no torneio – o Santos, lanterna, abandonou o torneio quando as partidas já haviam sido iniciadas, justamente na rodada em que enfrentaria o Mack-Port.
Apesar da estreia ruim, o desempenho foi melhor nos anos seguintes. Em 1921, o Mackenzie-Portuguesa ficou com o oitavo lugar dentre os 12 times inscritos no Campeonato Paulista. No ano de 1922, a união dos dois times ficou com o décimo posto, perdendo por pouco a vaga para a segunda fase do certame. Então, ao final de 1922, o Mackenzie afastou-se oficialmente do futebol, deixando a vaga para que a Portuguesa disputasse o Campeonato Paulista de 1923 de forma independente. E, sem decepcionar, o time garantiu vaga para o segundo turno pela primeira vez, terminando a disputa com o quinto lugar.
Infelizmente, há raríssimos registros fotográficos da “fusão” entre os dois clubes. A história de um distintivo próprio para o time é confusa, já que a Portuguesa utilizou seu primeiro distintivo (um recorte da bandeira de Portugal) em suas camisas exatamente até 1923. O uniforme do time, por sua vez, provavelmente era composto por e calções brancos – fardamento comum aos dois times na época.
Dentro e fora de campo, a existência do Mack-Port como equipe é um pouco menos questionável. Em seu guia oficial do Campeonato Paulista de 2009, a Federação Paulista de Futebol afirma apenas que a grande novidade do Paulistão de 1920 foi a estreia da Portuguesa, “que ficara com a vaga do Mackenzie e disputou a competição como Mack-Port”. Já o site oficial do clube do Canindé afirma que os dois times “participaram juntos do campeonato de 1920”, sem fazer referência direta a uma nova equipe.
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