O choro de Paulinho Fonseca é comovente. Ocorre no final do documentário “Canhão de Pinhal: a História de Paulinho Fonseca”. O material foi produzido no final de 2020 em um Trabalho de Conclusão de Curso de Jornalismo. O autor é Victor Daroz, que nos proporciona essa comoção que remete às lembranças do antigo goleador e de torcedores do Londrina Esporte Clube.
Muitos viram Paulinho Canhão de Pinhal jogar no estádio ou no YouTube. Está entre os maiores atletas de toda a história da agremiação londrinense, surgida em 1956. Foi campeão da Taça de Prata 1980 e do Campeonato Paranaense 1981 pelo LEC. Também foi artilheiro em uma das edições do estadual. Entre os principais clubes que defendeu também estão o Santos e o Coritiba, além de ter uma passagem pela Seleção Paulista.
O apelido Canhão de Pinhal, em si, é uma ironia do destino. Paulinho é parte da família futebolística mais tradicional de Olímpia, interior de São Paulo. O irmão dele é o ex-zagueiro Juninho Fonseca, que participou da Copa do Mundo de 1982, na Espanha, pela Seleção Brasileira. É daí que vem a controvérsia no apelido.
Paulinho Canhão de Pinhal ganhou o vulgo quando começou a furar redes e atordoar goleiros com potência nos chutes vestindo a camisa do Londrina. Como foi contratado junto ao Ginásio Pinhalense, também do interior paulista, a imprensa espontaneamente começou a chamá-lo pelo apelido que consagraria “o maior de todos atacantes”. É assim que ele gosta de brincar, quando não está chorando de emoção ao dar entrevistas e lembrar que até hoje é idolatrado no norte do Paraná.
Para a alegria da comunidade esportiva, esse personagem à moda antiga no futebol virou documentário. O Última Divisão apresenta ao público esse material na íntegra. Não sem antes de bater um papo com o produtor da façanha, Victor Daroz, que antes de cursar jornalismo era um atleta treinado por Paulinho Canhão de Pinhal em Olímpia – cidade onde o jornalista nasceu em 11 de julho de 1999. Na conversa, atrativos sobre o documentário, o Londrina Esporte Clube e o futebol em Olímpia.
Última Divisão: Em que ano você começou a cursar jornalismo em Rio Preto na Unilago?
Victor Daroz: Comecei a cursar jornalismo logo que sai do ensino médio, foi no ano de 2017. Lembro que não tinha nem completado 18 anos quando entrei na faculdade.
UD: O material é um Trabalho de Conclusão de Curso em jornalismo. Quanto tempo você levou para concluir o documentário, em 2020, entre a parte teórica e o produto? Quais foram as maiores dificuldades?
VD: Para fazer todo o material teórico e o produto eu levei em torno de sete meses, pois era um resgate histórico mesmo. Cada vez que eu pesquisava, mais ia descobrindo coisas. Assim vinha tendo outras ideias para o documentário. Foi um processo longo, mas muito gratificante no final.
UD: O que o espectador vai encontrar no documentário?
VD: O espectador vai encontrar a história de um homem que saiu do interior de São Paulo, de uma cidade que na época não tinha nada de grandeza futebolística e conseguiu ser vitorioso no futebol. Inclusive em uma época onde havia muitos dos melhores jogadores do Brasil em campo. Paulinho é um cara humilde e correto, que fez história ganhando títulos no Londrina.
Quem assistir vai se deparar com um resgate histórico, vídeos e fotos em preto e branco e que remetem a sensação de passado. Queria dar a impressão que isso era algo de lá atrás e dar aquela sensação de nostalgia a quem conhece ou até mesmo viveu parte daquilo. Também para quem não conhecia a carreira de Paulinho, quis mostrar realmente que foi brilhante e extremamente vitoriosa.
UD: Quais os documentários que mais te influenciaram na hora de produzir Canhão de Pinhal – A História de Paulinho Fonseca?
VD: Olha, eu me inspirei em alguns. Tirei como base o “Para Sempre Chape” do Luis Ara. Adorei a maneira como eram introduzidas as falas e do formato em que foi gravado as entrevistas. A maneira como foi apresentada a história e tudo mais, foi o documentário em que eu mais me baseei para realizar o documentário sobre o Paulinho Fonseca.
UD: Foi pelo documentário que você passou a conhecer a história do Londrina Esporte Clube aqui do norte do Paraná? O que conhecia antes e o que te chamou atenção na agremiação depois de terminar o material?
VD: O que eu conhecia do Londrina antes do documentário era muito pouco. Sabia sobre o que passava na televisão. Com as minhas pesquisas para o documentário, fui vendo a grandeza do clube, a conquista da Taça de Prata, a quantidade de ídolos e pessoas importantes que ajudaram o clube. Também percebi o quanto a cidade gosta do clube, algo que eu sinto que falta com o time daqui da minha cidade, o Olímpia.
UD: Foi uma opção sua entrevistar Paulinho justamente com a camisa do Londrina, agremiação em que ele fez maior renome?
VD: Sim, instruí ele a vir com a camisa do Londrina, pois é onde ele brilhou e teve maior sucesso. Mas o próprio Paulinho tem um carinho enorme pelo clube. Sempre que ele começa a falar sobre isso, fica nítido. E não é raridade você ver ele vestindo a camisa do Londrina.
UD: O pessoal aí em Olímpia sente alguma estranheza quando o Paulinho é chamado de Canhão de Pinhal, em referência ao clube da cidade Espírito Santo do Pinhal, local da agremiação que antecedeu a carreira dele antes de jogar pelo LEC?
VD: O pessoal na verdade fica curioso para saber o que seria esse “Canhão de Pinhal”, pois a maioria das pessoas não sabe de onde surgiu o apelido. Acreditam que seja algo meio que do futebol e não que está atrelado à cidade Espírito Santo do Pinhal.
UD: Em tempos de Covid-19, quais foram as medidas que você teve de realizar para entrevistar pessoas de Londrina? Inclusive fazem parte do material entrevistas com o repórter que estava no jogo número 1 do Londrina, o Jairde Antônio Prata, o Tatinha, e o apresentador Rodrigo Linhares, ambos da Rádio Paiquerê.
VD: A pandemia foi algo que pegou todo mundo de surpresa e ainda gera muita dúvida na cabeça da gente. Foi um empecilho para o documentário, mesmo, pois só estive na presença física do Paulinho por duas vezes. Isso na gravação e para buscar algumas fotos. A maioria das nossas conversas tiveram que ser realizadas por meio de redes sociais, assim como fiz com o Tatinha e o Rodrigo Linhares. Mas durante esse contato que tive com o Paulinho, sempre tomamos o maior cuidado e fizemos uso de álcool em gel e máscara.
UD: Inclusive o presidente do Olímpia faleceu final do ano passado, de Covid-19. Qual o legado esportivo deixado por esse dirigente?
VD: O presidente do Olímpia era o senhor Antonio Delamordarme, mais conhecido como “Nikinha”. Foi ele quem conseguiu tirar o Olímpia da Segunda Divisão (equivalente à quarta divisão) do campeonato Paulista. Ele tinha uma grande relação com o Paulinho. Era um dos poucos caras na cidade apaixonados pelo clube local. Tinha uma história sensacional ligada ao clube. Inclusive chegou a morar no estádio quando mais novo. Era o investidor principal do clube, tanto é que hoje vemos a dificuldade que o Olímpia se encontra para conseguir se manter.
UD: O grupo Olímpia do Coração, mais popular da cidade no Facebook, onde se publica sobre pessoas da cidade e fotos antigas, repercutiu muito a exposição do documentário? Você pretende levá-lo à biblioteca ou uma casa da cultura local?
VD: O grupo foi sensacional para a divulgação, pois contém várias pessoas de mais idade e que conhecem um pouco da história de Paulinho. Pessoas que conviveram com ele e tudo mais. Assim que o grupo recebeu a chamada pro documentário, surgiram vários comentários de pessoas elogiando a história do Paulinho, contando relatos e entre outras coisas.
UD: O Juninho Fonseca é irmão do Paulinho Canhão de Pinhal. Inclusive fez parte do elenco da Seleção Brasileira na Copa do Mundo de 1982. Pode-se dizer que Paulinho e Juninho são integrantes da família mais importante do esporte em Olímpia? Levaram a história da cidade pro Brasil todo e até pro exterior.
VD: Olha, na cidade há várias pessoas que fizeram sucesso no esporte. Um deles é o Fausto Giannecchini que jogou por 12 anos na Seleção Brasileira de Basquete. Mas o Paulinho e o Juninho são xodós de Olímpia, sim.
UD: O Olímpia, que revelou Paulinho para o futebol, surgiu em 1946. Gostaria que você comentasse algumas curiosidades sobre o clube – que inclusive já participou da primeira divisão do Campeonato Paulista.
VD: O clube tem várias curiosidades, mas a que eu mais me lembro é de quando era criança e ia ver os jogos do Olímpia e tinha um gandula, já falecido, que era conhecido como “Jair do CD”. Ele levava um galo com uniforme do Olímpia em todos os jogos e o soltava dentro do campo antes da partida começar. Isso virou tradição na época. Para quem não sabe, o Galo é o mascote do Olímpia. Após a morte do Jair, o animal ainda era levado às partidas, mas em determinado momento esse galo foi roubado do quintal da família de Jair. Chegaram a oferecer dois galos em troca do galo que era mascote do Olímpia, mas ele nunca mais foi recuperado.
UD: Olímpia conta com uma história inusitada: o nome do estádio é de uma mulher: Maria Tereza Breda. Sabe o motivo dessa escolha? Conte mais sobre esse estádio.
VD: O terreno onde foi construído o estádio era de propriedade da família Breda aqui de Olímpia e ele foi doado pela família para a construção do estádio. No dia 11 de setembro de 1949 ficaria registrado a inauguração do Estádio Maria Tereza Breda. Trata-se de homenagem à esposa do benfeitor Natal Breda e popularizado como “TB”. O primeiro jogo foi entre o Olímpia e Palmeiras, e o resultado foi 4 a 1 para a equipe do Palmeiras. Atualmente o estádio teria capacidade para 15.022 pessoas, mas o lado onde fica as arquibancadas de ferro está interditado há anos pelos bombeiros e até o momento esse problema não foi solucionado.
UD: Confere a história de que o campeão mundial de 1994, Viola, teve uma curta passagem pelo Olímpia? Conhece alguma história sobre ele na cidade?
VD: O Viola jogou no Olímpia no ano de 1991, quando o Olímpia disputava a primeira divisão do Campeonato Paulista. Porém, a campanha do Olímpia não foi das melhores e o clube terminou na 13.ª colocação no grupo amarelo, conseguindo pelo menos se livrar do rebaixamento. Apesar da má campanha, o atacante Viola tem sua passagem lembrada no clube, ainda mais pela história que ele escreveu tempos depois.
UD: Quem é o principal jornalista de Olímpia? Valter Carucce? Poderia contar um pouco mais sobre a trajetória desse profissional?
VD: Valter na verdade é um radialista apaixonado pelo Olímpia Futebol Clube e um dos únicos que comenta sobre futebol nas rádios locais da cidade. É ele que sempre noticia as informações do clube, narra todos os jogos e lhe garanto com toda certeza que ele já fez alguns esforços pessoais para poder trazer informação do Olímpia ao público.
Inclusive no meu primeiro ano jogando o Campeonato Paulista, ele narrou todos os jogos do time dentro de casa naquele campeonato e sempre demonstrou total apoio e carinho pelo time.
UD: Paulinho Canhão de Pinhal foi seu treinador. Jogou vários campeonatos com ele em Olímpia. Qual era sua posição, a categoria da base e como ele sua relação de amizade com ele?
VD: Com o Paulinho eu joguei de lateral-direito e volante, cheguei para treinar com ele na escolinha da prefeitura por volta dos 16 anos. Mas o time que ia para os regionais era sub-20, então eu era bem mais novo que os meninos e como iam bastante garotos, tinha treino que eu mal treinava.
Mas em determinado momento eu consegui ganhar espaço e ele gostou do meu futebol, me levando pro meu primeiro regional com 16 anos. Consegui me destacar bem nesse campeonato, chegando a virar titular no decorrer da competição. A partir disso continuei treinando com ele e disputando campeonatos.
Sempre fui um garoto que gostava das coisas certas, assim como Paulinho. Isso acabou aproximando a gente e fomos criando uma amizade. A convivência no futebol ajudou muito. Em 2018, Paulinho assumiu o comando do Olímpia sub20 para disputar o Paulista e me levou para jogar também, mas foi em 2019 que percebi mesmo que tinha um amigo.
Nesse ano, o treinador do sub20 era outro e eu estava tendo poucas oportunidades para jogar. Fui conversar com o Paulinho, que era o diretor do Olímpia na época. Eu iria parar e ele conversou comigo. Disse para me manter firme, que se fosse pra ficar em casa sem fazer nada era melhor continuar vindo treinar, mesmo sem ir aos jogos. Uma semana depois dessa conversa, o treinador do sub20 foi demitido e quem assumiu foi o Paulinho. Foi assim que comecei a jogar nesse Paulista.
UD: Quando você entrou na faculdade já tinha essa ideia de fazer algo relacionado com a carreira do Paulinho Fonseca, o Canhão de Pinhal. No decorrer do curso, ele foi mandando alguns vídeos, fotos e reportagens pra você?
VD: O Paulinho, na época que era meu treinador, já mandava vídeos, fotos e áudios sobre a carreira dele. Foi uma oportunidade que eu vi, mesmo, para fazer algo relacionado com ele para a faculdade. Comecei a pesquisar o assunto na internet e achei bastante conteúdo. Foi onde eu defini que iria fazer o documentário. Mas foi uma ideia que foi surgindo no decorrer do curso mesmo, não entrei com essa ideia para ser bem sincero.
Confira na íntegra o documentário O Canhão de Pinhal:
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