Este texto faz parte da série Heróis da América, que aborda jogadores, treinadores e dirigentes que fizeram história nos países latino-americanos, mas que nem sempre são bem conhecidos por aqui. Para ler as outras reportagens da série, CLIQUE AQUI.
As décadas de 80 e 90 foram prósperas no futebol colombiano, que apresentou ao mundo um sem-número de talentosos jogadores. Nomes como Faustino Asprilla, Víctor Aristizábal, Carlos Valderrama, Jorge Bermúdez, Freddy Rincón, Luis Carlos Perea, René Higuita, Ántony de Ávila, Adolfo Valencia, Faryd Mondragón, Harold Lozano, Iván Valenciano, Wilson Pérez e Alexis Mendoza, entre muitos outros, desfilaram talento por todo o mundo. No entanto, um dos expoentes mais conhecidos da geração teve um fim trágico, justamente quando atuava por um clube pelo qual foi ídolo.
Hermán Gaviria Carvajal nasceu em 27 de novembro de 1969, na cidade antioquenha de Carepa. Profissionalmente, debutou pelo Nacional de Medellín aos 20 anos, em 1990, após atuar pelo Municipal de Carepa nas categorias de base. Campeão nacional em 1991, o jovem volante logo se destacou como uma das principais promessas do futebol do país, o que lhe valeu convocações. Em 1992, integrou o elenco que disputou os Jogos Olímpicos em Barcelona – a Colômbia fracassou, com um ponto em três jogos, mas Gaviria marcou um dos gols da derrota por 4 a 3 para o Egito.
Apesar do fiasco dos Cafeteros na Espanha, Gaviria deixou uma boa impressão. A partir de 1993, passou a ser convocado para a seleção principal, ganhando uma chance na delegação que disputou a Copa América e conquistou o terceiro lugar, somando duas vitórias e quatro empates em seis jogos. No entanto, não chegou a ser utilizado pelo técnico Francisco Maturana, a exemplo do que aconteceu durante boa parte das eliminatórias sul-americanas para a Copa do Mundo de 1994.
Mesmo assim, Gaviria foi ganhando a confiança do treinador, que o convocou para o Mundial que foi disputado nos Estados Unidos. Sua estreia no torneio veio no segundo jogo, na derrota por 2 a 1 para os donos da casa – partida marcada pelo gol contra de Andrés Escobar, que acabou assassinado no retorno à Colômbia. Na terceira rodada, contra a Suíça, os colombianos venceram por 2 a 0, com um gol do próprio Gaviria.
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Em 1995, ‘Carepa’ Gaviria deixou pela primeira vez o Nacional, atuando no Tolima até o 1996. A equipe acabou eliminada nos quadrangulares da segunda fase, e o volante acabou retornando ao clube de Medellín no meio de 1996. Nos dois anos em que atuou novamente pelos Verdolagas, conquistou mais uma convocação para a Copa América (marcou um gol no torneio em 1997, no qual a Colômbia caiu nas quartas de final) e mais dois títulos: a Copa Interamericana de 1997 (marcando um dos gols da vitória por 3 a 2 sobre o Deportivo Saprissa) e o Campeonato Colombiano de 1998.
No meio de 1998, veio a transferência que mudaria a vida do já consagrado Gaviria. Contratado pelo Deportivo Cali, então campeão nacional, ajudou a equipe a chegar às finais da Copa Libertadores de 1999. Na decisão contra o Palmeiras, chegou a converter um dos pênaltis, mas viu a equipe perder o título – a exemplo do que aconteceu em 1978.
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Em 2001, veio sua primeira e única experiência em um clube do exterior. No segundo semestre daquele ano, defendeu o modesto Shonan Bellmare (foto), então na segunda divisão do Japão. No fim do ano, retornou à Colômbia para atuar pelo Atlético Bucaramanga, recém-promovido da segunda divisão. No primeiro semestre de 2002, disputou o Torneio Apertura pela equipe e marcou apenas um gol – no 1 a 1 com o Huila fora de casa, fora de casa.
Porém, no meio do ano, Herman Gaviria acertou seu retorno ao Deportivo Cali. Aos 32 anos, o experiente camisa 5 era um dos reforços da equipe, ainda candidata a títulos. De fato, nas 17 primeiras rodadas do Torneio FInalización, o Cali conquistou 11 vitórias, despontando como favorito.
Até que chegou o dia 24 de outubro de 2002. Após uma vitória por 3 a 0 sobre o Once Caldas, o elenco do técnico Oscar Quintabani se apresentou para treinos na cidade de Pance, sede desportiva do clube, ao sul de Cali. Durante a tarde, os jogadores se exercitavam em campo sob chuva. Por volta das 18h05, um raio atingiu o gramado.
A descarga elétrica afetou diretamente quatro jogadores: Giovanni Córdoba, Carlos Alvarez, Julián Espinosa e Hermán Gaviria. Os quatro foram levados para a Clínica Valle del Lili, nos arredores do centro de treinamentos. Gaviria morreu no mesmo dia; Córdoba veio a óbito três dias depois, vítima de ataques cardíacos desencadeados pelo raio.
“Estávamos totalmente acostumados àquelas tempestades (…). Eu me lembro de vê-lo dizer que nunca morreria atingido por um raio. Quinze minutos depois, um raio atingiu seu peito”, declarou em 2007 o argentino Darío Sala, ex-goleiro do Deportivo Cali, em entrevista ao jornal norte-americano Daily Herald. “Eu vi o raio atingir Carepa. O raio queimou suas chuteiras, seu calção, sua camiseta. Eu senti uma tonelada de calor (sic) quando o impacto aconteceu”, concordou o zagueiro Wilman Conde, também jogador do time na ocasião da morte de Gaviria.
A tragédia provocou o adiamento do confronto entre Tuluá e Cali, que deveriam se enfrentar em 27 de outubro – no dia 7 de novembro, o Cali venceu por 3 a 0. Antes disso, porém, a equipe alviverde disputou o clássico contra o América no dia 30 de outubro e venceu por 2 a 1 diante de 45 mil torcedores. “Chorávamos muito em nossa partida”, lembra Darío Sala.
Ao fim de 22 rodadas, o Deportivo Cali conquistou a liderança na primeira fase do Torneio FInalización. Nos quadrangulares da segunda fase, entretanto, ficou com o segundo lugar e perdeu a vaga nas finais para o Independiente Medellín. O DIM foi campeão, batendo o Deportivo Pasto na decisão.
Fontes e informações: Wikipedia, RSSSF, As, Daily Herald, Tras la cola de la rata e Colombia.com.
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