O jornal O Globo publicou no final de 2008, em uma coluna do jornalista Anselmo Góis, que Corinthians e Flamengo poderiam fazer um amistoso na Palestina para marcar a estréia de Ronaldo pelo clube paulista. Justamente em época de turbulência, quando Israel resolveu cessar a trégua com uma onda de ataques na Faixa de Gaza que resultaram na morte de mais de 200 palestinos.
Enquanto isso, tem gente de lá que fez o caminho inverso e veio tentar a sorte no Brasil – no futebol. O primeiro palestino do futebol brasileiro joga em um time, no mínimo, diferente.
Ali Abu Taha (foto que abre o texto) tem apenas 19 anos e é uma das atrações do Brazsat. Isso mesmo: Brazsat. Não é uma marca de antenas parabólicas, mas quase isso!
A Brazsat é uma empresa de tecnologias espaciais (leia-se satélites e afins) fundada em 1991 pelo empresário João Gilberto Vaz. O slogan da companhia é “Interligando os mundos, unindo os povos”.
Em 2007, João Gilberto (o Vaz, não o pioneiro da bossa nova) resolveu investir no futebol e comprou o Recanto Esporte Clube, fundado em 2005 e residente em Recanto das Emas, próximo a Brasília. Deu toda a estrutura necessária para o clube e trocou o nome para Brazsat Futebol Clube.
Os trâmites foram todos feitos para que o novo clube disputasse a terceira divisão do Distrito Federal em 2008. Com todo o respaldo de João Gilberto Vaz, o Brazsat foi campeão com sobras e disputará a Segundona em 2009.
Isso, porém, ainda não é o mais importante…
O Brazsat tem como um de seus objetivos formar jogadores e negociá-los com o exterior. Parceiros da empresa de satélites no Oriente Médio e na Europa ajudam nesse intercâmbio. Foi assim que Ali Abu Taha veio da Palestina para tentar a sorte no país.
A intenção do jovem de 19 anos nem era jogar futebol. Queria apenas um trabalho e a garantia de que estaria longe da guerra que assola a região onde nasceu, a Faixa de Gaza. Hoje, é treinado por Alex Gomes, técnico do Brazsat e já conhecido no futebol candango. Alex teve passagem até pela Força Aérea Brasileira.
Além de Abu Taha, outra “estrela” internacional é o ítalo-brasileiro Danilo Caccelli, que já passou pelas categorias de base de Santos e São Caetano e estava em um time do… Azerbaijão. Coisas da globalização.
A vocação internacional do Brazsat já trouxe muita gente grande a Brasília. A rede de TV Al Jazeera já apareceu por lá, para conhecer o primeiro palestino do futebol brasileiro. Clubes do nível de Tottenham, Benfica e Manchester United também já enviaram representantes visando um futuro intercâmbio. O Brazsat pensa grande. Seu site oficial tem versões em seis línguas (inclusive, é claro, o árabe). E em uma espécie de manifesto divulgado pelos jogadores, todos garantem que recebem seus salários em dia e ganham prêmios gordos após as conquistas.
Deu vontade de jogar lá, não? É simples. No próprio site, há um link Jogue no Brazsat. E com o e-mail do professor Alex Gomes! Ou seja, você trata diretamente com o seu futuro técnico para agendar um teste. É muita interatividade! Coisas da tecnologia… Coisas do Brazsat, “um clube de futebol diferente”, segundo os próprios fundadores.
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