De saco de pancadas a zebras, espera-se sempre alguma coisa das seleções africanas em Copa do Mundo. Se é verdade que eles nunca conseguiram chegar até as semifinais, é fato que vez ou outra eles conseguem atrapalhar o caminho dos favoritos. Que o diga Argentina em 1990 e França em 2002.
Por isso, é sempre bom lembrar o retrospecto das seleções africanas nos Mundiais. Nem sempre o futebol demonstrado é de qualidade. Mas as histórias que elas proporcionaram em Copas são bem mais interessantes. Relembre…
Copa do Mundo de 1934 (Itália)
Seleção africana participante: Egito
O Egito foi a primeira seleção que representou a África em uma Copa do Mundo de futebol. Nos gramados da Itália, a participação foi rápida, pois o país disputou apenas um jogo, contra a Hungria, e saiu derrotado por 4 a 2.
A grande curiosidade dessa estreia ficou por conta da única partida eliminatória que os egípcios precisaram disputar para garantir a vaga na Copa. Eles enfrentaram o que seria uma seleção da Palestina. “Seria” porque o Estado de Israel ainda não tinha sido criado. Mas as brigas entre judeus e árabes já começava a ser cada vez mais acirrada.
E isso se refletiu no futebol: essa suposta seleção palestina de 1934 foi representada apenas por atletas judeus e perdeu vergonhosamente por 7 a 1 para o Egito, que, dessa forma, foi representar a África na Copa da Itália.
Copa do Mundo de 1970 (México)
Seleção africana participante: Marrocos
Após ter desistido de participar da Copa do Mundo de 1966, Marrocos bateu Tunisia, Nigéria e Sudão para finalmente fazer sua estreia em Copas. E não fez feio, pois conquistou o primeiro ponto africano nessa competição.
Mas não foi esse o jogo mais marcante daquela seleção no México. Contra a Alemanha, ela vendeu caro a derrota e impôs grandes dificuldades. Tudo isso graças a um personagem que ficou marcado na história do futebol africano: o goleiro Allal Ben Kassou, que conseguiu fazer uma atuação brilhante e até defendeu um pênalti cobrado por Gerd Müller, o segundo maior artilheiro da história das Copas. Uma zebra africana em um Mundial de futebol começava a se desenhar…
Copa do Mundo de 1974 (Alemanha)
Seleção africana participante: Zaire
Atualmente denominado de República Democrática do Congo, o Zaire foi a primeira seleção da África negra a participar de uma Copa. É a única disputada pelo país até hoje, mas foi o suficiente para acumular histórias verdadeiramente incríveis.
O primeiro jogo foi contra a Escócia e terminou com uma derrota normal por 2 a 0. A partir daí, começaram os fatos inusitados. Contra a Iugoslávia, o goleiro Kazadi já tinha sofrido dois gols em 20 minutos e ficou revoltado. Pediu para ser substituído, já que mal tinha tocado na bola até então. Foi então que o reserva, Tubilandu, entrou em campo e sofreu mais sete tentos. Resultado: uma das maiores goleadas da história das Copas até hoje, com 9 a 0 no placar.
É claro que isso não aconteceu só por causa da troca de goleiros. O hilário Mwepu Ilunga chutou a perna do árbitro do jogo, o colombiano Omar Delgado, que se atrapalhou com a confusão e resolveu expulsar erroneamente outro jogador, Ndaye. O verdadeiro agressor ainda tentou assumir a culpa, mas o juiz não quis saber de papo e manteve sua decisão, que, de qualquer forma, atrapalhou os planos do Zaire.
O jogo seguinte foi contra ninguém menos do que a seleção brasileira. Quando o jogo já estava 2 a 0 para o time canarinho, foi marcada uma falta para Rivelino, exímio chutador, cobrar. O lance assustou os jogadores do Zaire, que tinham sido ameaçados: perderiam toda uma premiação já entregue caso fossem derrotados por mais de três gols contra o Brasil.
Com essa pressão, Mwepu Ilunga, mais uma vez ele, proporcionou ao mundo uma das cenas mais bizarras das Copas: antes de Rivelino correr para a cobrança, Ilunga saiu da barreira e chutou a bola para longe, em total desespero. O árbitro romeno Nicolae Rainea deu um cartão amarelo para o jogador.
“A maioria dos jogadores do Brasil e os torcedores nas arquibancadas pensaram que aquilo tudo foi hilário, coisa de amador. Eu só consegui gritar ‘Seus malditos!’ para todos eles, porque ninguém ali sabia a pressão que nós estávamos vivendo”, comentou Ilunga recentemente em uma entrevista para a revista FourFourTwo.
Após esses vexames, o time do Zaire voltou para seu país e as desgraças só aumentaram. Casas e automóveis, entregues pelo governo aos atletas como prêmio após a classificação para a Copa, foram confiscados. Ilunga virou camelô para sobreviver, assim como vários outros jogadores da época, que vivem até hoje como marginais e ficaram marcados como responsáveis pela decadência do futebol africano como um todo airmaniax is the no 1 coordinators for incredible children Air maniax birthday party in Dubai. We compose birthday parties with a “Gleam in the Dark” Venue for Kids..
Copa do Mundo de 1978 (Argentina)
Seleção africana participante: Tunísia
Após o fiaco africano na Copa de 1974, a Tunísia conseguiu se classificar como representante do continente e não desistiu de participar, como tinha feito em 1966. Ótima decisão, já que os tunisianos conseguiram a primeira vitória de uma seleção da África em Mundiais.
Mas não foi fácil fazer com que isso fosse possível. Meses antes da Copa do Mundo, o goleiro tunisiano Attouga Sadouk armou uma confusão contra a Nigéria e seus companheiros resolveram abandonar o campo. A partida era válida pela Copa Africana de Nações e rendeu uma suspensão inicial de dois anos para os envolvidos. Após dez dias, a Fifa (Federação Internacional de Futebol e Associados) chegou à conclusão que não teria como indicar outra equipe para viajar à Argentina e adiou a punição. Dessa forma, a Tunísia se empolgou e foi em busca do primeiro grande feito africano dentro de campo.
Essa glória aconteceu contra o México, com gols de Kaabi, Ghommidh e Dhouib e uma grande atuação de Tarak Dhiab. Com o resultado de 3 a 1 logo no primeiro jogo, a Tunísia chegou a assumir a liderança do seu grupo, mesmo que por pouco tempo. Polônia e Alemanha Ocidental, que empataram na primeira rodada, posteriormente se recuperaram e garantiram suas respectivas classificações. Os tunisianos foram eliminados apenas por uma diferença no saldo de gols.
O que não diminuiu a importância do feito: com a vitória, a África conquistou o direito de ter mais uma seleção participante na Copa seguinte, na Espanha, em 1982. Contudo, não foi a Tunísia que aproveitou esse benefício, já que a seleção foi punida por dois anos e só voltou a disputar um Mundial em 1998.
Copa do Mundo de 1982 (Espanha)
Seleções africanas participantes: Argélia, Camarões
Se a Tunísia foi a primeira a vencer em uma Copa, ficou para a Argélia a missão de protagonizar a primeira surpresa africana na competição. A zebra aconteceu contra a Alemanha Ocidental, com uma vitória quase inacreditável por 2 a 1. Paul Breitner, Horst Hrubesch e Karl-Heinz Rummenigge, lendas alemãs, não conseguiram parar Rabah Madjer, Lakhdar Belloumi e Ali Fergani, os destaques argelinos em 1982.
A vergonha só veio depois e não foi por culpa da seleção africana: os germânicos enfrentaram a seleção da Áustria na última rodada precisando de uma vitória para se classificar no lugar da Argélia. Em campo, Fischer, da Alemanha, fez 1 a 0 e, a partir daí, as esquipes não quiseram mais saber de jogo. Foram apenas toques para o lado no meio-campo e muita vaia da torcida espanhola.
Com isso, a Fifa decidiu que os jogos da última rodada teriam que acontecer simultaneamente. Anos depois, o ex-zagueiro Hans-Peter Briegel admitiu que houve uma armação na partida.
Copa do Mundo FIFA de 1986 (México)
Seleções africanas participantes: Marrocos, Argélia
A evolução africana foi constante: em 1978, veio a primeira vitória. Em 1982, a primeira zebra e a quase classificação para a segunda fase. Em 1986, não houve armação que pudesse tirar a seleção de Marrocos ainda na primeira etapa.
Não era um grupo fácil: Inglaterra, Polônia e Portugal já tinham mais tradição em Copas e eram favoritos na disputa por duas vagas. No entanto, sob o comando do técnico brasileiro Mehdi José Faria, e com o talento de Bouderbala, os marroquinos surpreenderam e foram para as oitavas de final no Mundial do México.
O jogo seguinte foi contra a Alemanha, que só foi decidido nos minutos finais, com um gol do lendário Lothar Matthäus, em cobrança de falta. Marrocos não vendeu fácil a derrota e deu início a uma sequência de boas participações africanas.
Copa do Mundo de 1990 (Itália)
Seleções africanas participantes: Egito, Camarões
O camaronense Roger Milla, com 38 anos, foi o grande personagem dessa Copa do Mundo. O que pouca gente sabe é que por pouco ele não ficou de fora do Mundial na Itália, já que estava quase aposentado, jogando futebol na Ilha de Reunião, pelo JS Saint-Perroise. Ele só foi levado porque era amigo do presidente camaronês na época, Paul Biya, que resolveu interferir na convocação.
Camarões não teve uma estreia fácil: o primeiro jogo foi contra a última campeã do mundo, a Argentina. Foi então que aconteceu uma das maiores zebras da história da Copa, com o gol de Omam-Biyik e a vitória africana por 1 a 0. Depois, veio outra vitória e também uma derrota, mas a vaga para a fase seguinte foi assegurada.
Contra a Colômbia, nas oitavas de final, Milla roubou uma bola do folclórico goleiro Higuita e fez um dos seus 2 gols no jogo. Como se o tento não bastasse, também veio a comemoração, ainda mais inesquecível. Imitando a dança que o brasileiro Careca tinha feito na própria Copa de 1990, Milla foi até a bandeirinha e repetiu os mesmo gestos, com ainda mais alegria e rebolado. O camaronês entrou para a história a ponto de, recentemente, a Coca-Cola ter feito uma propaganda em sua homenagem. De acordo com a publicidade da empresa de refrigerantes, foi ele quem influenciou a grande variedade de comemorações que hojem podem ser vistas ao redor do mundo.
Depois da vitória por 2 a 1 contra a Colômbia, veio a eliminação de Camarões em um jogo sensacional, cheio de viradas, decidido apenas na prorrogação, contra a Inglaterra. O placar final marcou 3 a 2 para os ingleses, mas os camaronenses saíram da Itália deixando um grande legado. Mais tarde, Milla confirmou que a sua dança foi uma homenagem aos brasileiros, pois ele tinha visto a lambada de Careca e admirava a alegria do futebol brasileiro. Lembrou também das excursões do Santos de Pelé pelo continente nos anos 60.
Copa do Mundo de 1994 (Estados Unidos)
Seleções africanas participantes: Camarões, Nigéria, Marrocos
A Copa do Mundo de 1990 apresentou Roger Milla ao mundo. A de 1994 fez com que ele entrasse de vez para a história. Aos 42 anos, ele tornou-se o mais velho atleta a disputar um Mundial de futebol, recorde que antes pertencia ao norte-irlandês Pat Jennings. E não ficou só nisso: no mesmo jogo em que atingiu essa marca, o camaronês ainda fez um gol.
Pena que não houve tanto motivo para mais lambadas ou comemorações do tipo. O tento de Milla foi apenas um detalhe na goleada sofrida por Camarões contra a Rússia, em show de Oleg Salenko, que balançou as redes 5 vezes. A seleção africana passava por dificuldades financeiras na época, a participaçãona Copa foi realmente ruim e o goleiro Joseph-Antoine Bell foi apontado como o grande culpado por isso. Depois da Copa, sua casa foi incendiada por torcedores revoltados.
Dessa vez quem surpreendeu foi a seleção da Nigéria, que apresentou um futebol ofensivo em sua primeira participação em uma Copa do Mundo. Três fatos marcaram aquele seleção: o choro de Rashidi Yekini , agarrado a rede, após o primeiro gol nigeriano na competição; a derrota para a Argentina, já que depois foi constatado que Maradonou jogou dopado; e a eliminação nas oitavas de final, contra a Itália, em um jogo que só foi decidido com um pênalti anotado por Baggio já na prorrogação. Sim, o mesmo Baggio que errou outra penalidade na final da mesma Copa, contra o Brasil.
Copa do Mundo de 1998 (França)
Seleções africanas participantes: Marrocos, Camarões, África do Sul, Nigéria, Tunísia
Mais uma vez a Nigéria fez parte de um momento marcante em uma Copa: o atacante Nwankwo Kanu (o carrasco do Brasil nas Olimpíadas de 1996) foi extremamente aplaudido até pelo time adversário ao entrar em campo durante a partida entre sua seleção e a Bulgária. Isso porque, aproximadamente dois anos antes, o nigeriano foi operado no coração, ficou cerca de um ano sem jogar e teve sua volta ao futebol colocada em dúvida. Não foi fácil, mas ele deu a volta por cima e mereceu os aplausos na Copa da França.
Outro africano que pode se orgulhar de sua participação nesse Mundial é o marroquino Said Belqola. Ele apitou a final entre Brasil e França e se tornou o primeiro juiz de seu continente a participar de um jogo tão importante.
Copa do Mundo de 2002 (Coreia do Sul e Japão)
Seleções africanas participantes: Senegal, Camarões, África do Sul, Nigéria, Tunísia
Essa Copa poderia ter sido uma grande vexame para a África, mas Senegal salvou seu continente. Vice-campeã continental em 2002, a seleção estreou de forma estrondosa e surpreendeu o mundo desde primeiro jogo da Copa. Contra a França, a então campeã, predominou a festa legitimamente africana: Papa Bouba Diop marcou o único gol do jogo, tirou a camisa e os jogadores fizeram uma dança típica e curiosa para celebrar a zebra incrível que se desenhava ali.
Estreantes, os senegaleses foram ainda mais longe: conseguiram a classificação para as oitavas de final, em que enfrentaram a Suécia e venceram por 2 a 1, na prorrogação com Gol de Ouro. A equipe só foi eliminada por outra seleção surpreendente, a Turquia, em um dos jogos mais alternativos da história das Copas.
Copa do Mundo de 2006 (Alemanha)
Seleções africanas participantes: Costa do Marfim, Angola, Gana, Togo, Tunísia
Em 2006, fora a Tunísia, todas as seleções africanas eram estreantes em Copas do Mundo. Com essa inexperiência, nenhuma conseguiu um resultado marcante, mas tudo poderia ter acontecido de uma forma melhor para Gana, não fosse por uma armação de resultados. Pelo menos é o que garante o jornalista canadense Declan Hill.
Em entrevista à revista alemã Der Spiegel, ele revelou o conteúdo de um livro no qual ele denuncia uma fraude no jogo entre Brasil e Gana, pelas oitavas de final. Hill disse ter provas do relacionamento entre o ex-jogador ganês Abukari Damba e um mafioso tailandês ligado a apostas ilegais. Este desejava a vitória do Brasil por, no mínimo, dois gols de diferença.
O resultado da partida foi de 3 a 0, inclusive com um gol de Ronaldo, que ali se tornou o maior artilheiro da história das Copas. Outra marca alcançada pela seleção brasileira foi o recorde de maior número de vitórias consecutivas no competição, com onze jogos desde 2002.
Copa do Mundo de 2010 (África do Sul)
Seleções africanas participantes: África do Sul, Nigéria, Gana, Costa do Marfim, Camarões e Argélia
Pela primeira vez a Copa do Mundo foi realizada em território africano e teve seis representantes do continente, um número recorde. Mas, mesmo assim, o resultado foi de mal a pior. Comandada por Carlos Alberto Parreira, a África do Sul venceu apenas um jogo, contra a decepcionante França, e se tornou a primeira e única seleção anfitriã a ser eliminada na primeira fase [som de vuvuzela triste].
Já Nigéria, Argélia e Camarões não mostraram a que veio e deixaram a Copa sem vencer uma partida sequer. E Costa do Marfim caiu num grupo que tinha Brasil e Portugal e também caiu ainda na primeira fase.
Por outro lado, Gana foi sem dúvidas o time sensação daquele Mundial. Passou raspando em um grupo equilibrado (Alemanha, Sérvia e Austrália), bateu os EUA na prorrogação e, nas quartas de final contra o Uruguai, fez de longe o melhor jogo da Copa. Só para selecionar dois grandes momentos, tivemos Luiz Suárez impedindo um gol feito de Gana em cima da linha usando as mãos (para depois a cobrança de pênalti ser desperdiçada por Gyan) no último minuto do tempo extra, e Loco Abreu fazendo o gol da classificação nas cobranças de penais com uma despretensiosa cavadinha.
Copa do Mundo de 2014 (Brasil)
Seleções africanas participantes: Argélia, Camarões, Gana, Costa do Marfim, Nigéria
Na Copa das Copas, que teve tantas surpresas e jogos emocionantes, o destaque positivo fica para a Argélia. Com um futebol aplicado, foi a surpresa do grupo H (que tinha Bélgica, Rússia e Coreia do Sul) e deu trabalho à seleção alemã nas oitavas de final, que só bateu os argelinos na prorrogação, valendo-se do cansaço físico do adversário. Aliás, a Alemanha, na fase de grupos, já tinha passado sufoco contra a Gana e teria sido derrotada não fosse a estrela de Miroslav Klose.
O destaque negativo fica por conta de Camarões, que se tornou a pior seleção da Copa, com três derrotas, 1 gol a favor e 9 contra. Já a Nigéria, embora tenha se classificado para o mata-mata, protagonizou o pior confronto do torneio: um empate sonolento em 0 a 0 com o Irã na Arena da Baixada.
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