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Desde que foi criado, o Bom Senso FC recebeu uma chuva de elogios, mas também uma garoa de críticas. As principais reclamações acusam o grupo de não olhar para os times pequenos do Brasil e propor modelos que podem até matá-los. Porém, é preciso ter mais bom senso e se informar melhor antes de acusá-los desse assassinato.
Desde o começo, o Bom Senso FC mostrou sua preocupação com o calendário dos times pequenos. Claramente não é a pauta principal do grupo, mas esteve, por exemplo, em uma lista de tópicos importantes que o movimento apresentou recentemente. Além disso, nesta segunda-feira, uma pequena nota oficial deixou bem clara uma premissa importante do grupo: “menos jogos para as equipes da elite e mais jogos para as equipes das divisões inferiores ou estaduais”. Mais claro do que isso, impossível.
Não cabe a mim o papel de advogado do diabo. Tenho senso crítico suficiente para perceber que há, sim, problemas nas propostas do Bom Senso FC. Acima de tudo, porque ainda não há uma proposta de fato. Tudo é muito recente, é verdade. É preciso ser paciente, é verdade. Mas o grupo precisa ser mais claro sobre o que vai sugerir para as divisões inferiores. Afinal, só é possível fazer um estadual menor se tivermos Série C e D mais fortes. Ou até mais divisões, como também já foi cogitado pelo Bom Senso FC.
Também preocupou uma frase recente de Paulo André, notório líder do grupo. Ele disse que os clubes menores precisam ser “autossuficientes”, sem depender dos jogos contra times grandes para se sustentar. Não que isso seja impossível. Mas jogar essa opinião no ar, sem apresentar sugestões mais concretas, passa a falsa impressão de que é fácil conseguir esse objetivo.
Para os clubes pequenos serem “autossuficientes” não bastam as mudanças no calendário. É preciso exigir que CBF e Rede Globo façam repasses financeiros para estes times. Uma sugestão básica: por que não fazer uma venda casada dos direitos de transmissão? Ou seja, quando a Globo comprar a Série A, terá que mostrar também jogos da Série C, mesmo que seja uma reprise. Haveria então um repasse financeiro para os clubes da terceira divisão, que ainda lucrariam com mais patrocínios, já que estariam na televisão.
Falta também mais aproximação entre o Bom Senso FC e os jogadores dos times pequenos. No excelente protesto feito na 34ª rodada, nem todos times de Série B se envolveram. Na Série C, houve a participação do Santa Cruz, mas o contato foi feito pelo advogado do Paulo André. O correto seria que o zagueiro ligasse direto para o iPhone do Flávio Caça-Rato e assim mobilizasse os outros companheiros para a paralisação no começo dos jogos. Só quando isso acontecer os times pequenos vão se sentir realmente representados. E assim não vão existir acusações de elitismo, como as feitas pelas federações estaduais, que buscam qualquer argumento para disparar contra o Bom Senso FC.
O primeiro passo ideal para corrigir todos esses problemas é discutir melhor o formato dos estaduais. A Folha de S. Paulo divulgou recentemente que o grupo queria apenas sete datas para essas competições, seguindo o modelo da Copa do Mundo. Porém, o grupo não confirmou que realmente defende essa ideia – o que é ótimo, porque não parece ser a ideal. Talvez funcione nos maiores estados, mas é fundamental respeitar as particularidades de cada região.
Enfim, o Bom Senso FC não pode ser detonado por tantas críticas, porque existe a preocupação com times menores e trata-se de um movimento que pode resolver grandes problemas do futebol brasileiro. Mas o grupo precisa ampliar seu contato com times menores e principalmente elaborar um calendário concreto para 2015. Urgentemente! Antes que a chuva de críticas vire uma tempestade e crie um abismo entre grandes e pequenos.
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