Em 1981, o Campeonato Brasileiro da Série C foi disputado pela primeira vez. Conhecida como Taça de Bronze, a competição reuniu 24 agremiações de 18 estados diferentes. Comandado pelo técnico Duque, o Olaria acabou faturando o título sobre o Santo Amaro de Pernambuco.
Passados mais de 30 anos da conquista, o jornalista Marcelo Paes resolveu escrever um livro-reportagem sobre essa façanha do clube. Entrevistou diversos ex-atletas e membros da comissão técnica vencedora. Fez uma pesquisa extensiva em jornais da época. O resultado final é o livro Olaria: A Conquista da Taça de Bronze, lançado pela editora Oficina Raquel.
Marcelo Paes conversou com Última Divisão sobre a obra e comentou o atual momento do clube da Rua Bariri.
Última Divisão: Como você começou a se interessar pelo Olaria?
Marcelo Paes: Me interesso pelo clube desde pequeno. Sou nascido e criado em Madureira, bairro do subúrbio do Rio de Janeiro. Uma das lembranças mais antigas que tenho do futebol na minha infância é a clássica Kombi do Olaria, que de vez em quando via passar perto do estádio do Madureira, meu time, em dias de jogos.
Última Divisão: Quando você iniciou as pesquisas sobre o livro? Demorou quanto tempo para você concluir a obra?
Marcelo Paes: Em 2009, comecei a me envolver com jornalismo esportivo e, durante uma pesquisa de pauta sobre o Olaria, me dei conta que em 2011 se completariam trinta anos da Taça de Bronze de 81. Já tinha planos de começar a escrever sobre o futebol do Rio, então decidi que o primeiro livro seria sobre essa passagem mais do que especial. Escrever propriamente levou cerca de um ano e meio, entre encontrar os ex-jogadores, o treinador, colher depoimentos e pesquisar os jornais da época. Mas, depois da obra pronta, começa a batalha para conseguir patrocínios e publicar. Por conta disso, infelizmente não consegui lançar em 2011, como havia planejado. Mas o que importa é que agora o livro está aí, para quem quiser conferir.
Última Divisão: Na sua opinião, qual é a importância desta conquista para o clube da Rua Bariri?
Marcelo Paes: Enorme. Basta dizer que é o único título nacional do futebol do Olaria e, até este momento, sua conquista mais importante. Até por conta disso, não poderia deixar de falar sobre a Taça de Bronze. Por conta dos inúmeros problemas que um clube de menor torcida tem de enfrentar para se manter de pé, nem sempre é possível celebrar o passado da maneira devida. A Conquista da Taça de Bronze é o primeiro de uma série de livros que visam ajudar a virar esse jogo, resgatando a auto estima do torcedor e do próprio clube.
Última Divisão: Duque é tido como um técnico disciplinador por seus trabalhos em grandes times. Qual foi a importância dele na conquista do título de 1981?
Marcelo Paes: Como cito no livro, há 30 anos tínhamos um panorama muito diferente de hoje, no que diz respeito à contratações de jogadores. Ainda mais para clubes com menores orçamentos como o Olaria. O clube que não investisse nas divisões de base estava fadado a desaparecer e, sabendo disso, Duque “subiu” alguns jogadores da base que foram fundamentais ao longo da campanha, como Nunes, Orlando e Catinha, por exemplo. Além disso, montou um esquema tático muito ofensivo, que privilegiava a posse de bola e buscava a transição rápida entre defesa e ataque. Em alguns momentos, chegou a usar um 4-2-4, com dois pontas e dois centroavantes, sempre buscando o gol.
Última Divisão: Quais jogadores do elenco daquele time do Olaria merecem ser lembrados pela conquista?
Marcelo Paes: Todos, sem distinção. Mesmo quem não jogou merece destaque, pois o elenco era muito equilibrado e os reservas estavam sempre ali esperando uma chance, enquanto os titulares sabiam que, caso dessem brecha, seria bem difícil recuperar a vaga. Isso fez com que todos mantivessem o foco e tentassem fazer o melhor que podiam sempre.
Última Divisão: Você entrevistou muitos ex-jogadores durante a elaboração do livro? Isso foi importante na confecção da obra?
Marcelo Paes: Tenho cerca de 40 horas de gravações, com os depoimentos dos jogadores, membros da comissão técnica da época, além do treinador Duque e, para mim, esse é o grande diferencial do livro. Procurei o máximo que pude fugir da abordagem “enciclopédica” que alguns livros sobre futebol acabam tendo. Claro que as informações técnicas estão lá, como as súmulas e escalações, mas as histórias dos bastidores da conquista e a interação entre os jogadores e o técnico são o ponto alto do título.
Última Divisão: Quais foram as maiores dificuldades em realizar esse trabalho?
Marcelo Paes: A parte da pesquisa documental é sempre bastante trabalhosa, pois não existe um arquivo oficial de súmulas e dependemos, na maioria das vezes, do que saiu nos jornais, que nem sempre coloca todas as informações. Em alguns casos, tive que consultar três fontes diferentes apenas para saber quem havia sido expulso. Apesar disso, gosto de folhear os jornais antigos. Me ajuda no processo de “imersão” na época, o que acaba enriquecendo o material.
Última Divisão: Como você analisa o atual momento do Olaria? O time pode voltar a disputar campeonatos nacionais?
Marcelo Paes: O time vem alternando bons e maus momentos desde que voltou para a primeira divisão do Estadual. Infelizmente, esse ano o clube retornou a segunda divisão. Portanto, o momento não é dos melhores, mas acredito que não seja algo tão difícil de mudar. O primeiro passo, na minha opinião seria justamente voltar a disputar o Campeonato Brasileiro. Aqui no Rio, existem duas formas de garantir uma vaga na Série D nacional: uma boa campanha no Estadual ou chegar à final da Copa Rio, competição que reúne as três divisões cariocas e acontece no segundo semestre.
Como não existe mais possibilidade de conseguir a vaga do Estadual, sobra a Copa Rio, mas para isso seria necessária a manutenção de um grupo durante o ano inteiro, o que é bem difícil sem um bom patrocínio. A Copa Rio, na teoria, é um ótimo dispositivo, pois ajuda a manter os clubes em atividade durante o ano. Mas ela esbarra nas limitações dos próprios clubes que a disputam. Muitos não tem sequer um estádio para mandar seus jogos e acabam acontecendo muitos WOs ao longo da disputa. E aí começa o problema: que patrocinador investiria seu dinheiro em um torneio onde a maioria dos jogos são disputados no meio da tarde de um dia útil e acabam acontecendo com portões fechados?
Comentários