Nos últimos anos, o futebol catarinense ganhou destaque no cenário nacional, graças à presença de cinco clubes nas duas primeiras divisões do Campeonato Brasileiro – Criciúma, Figueirense, Chapecoense, Joinville e Avaí. Por isso, o campeonato estadual local passou a ser olhado com mais atenção. Afinal, não é fácil se destacar estando geograficamente entre Paraná e Rio Grande do Sul.
Mas mesmo em meio a tantos destaques nos últimos anos, o futebol de SC encontra espaço para ter mais novidades. Em 2015, a primeira divisão local recebe de volta o Inter de Lages, campeão catarinense de 1965 (foto). Afastado da primeira divisão desde 2002, o time chegou a se licenciar dos gramados, antes de conquistar dois acessos seguidos (2013 e 2014).
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No retorno à elite local, o Inter de Lages ganhou ainda mais destaque, graças às contratações de renome: o meia Marcelinho Paraíba, aos 39 anos, entrará em campo ao lado do goleiro Fernando Henrique (ex-Fluminense) e do atacante Reinaldo (ex-Flamengo, São Paulo e Paris Saint-Germain). O comando da equipe fica a cargo do técnico Marcelo Mabília.
Mas qual o segredo do Inter de Lages, que nem futebol profissional tinha há três anos? A resposta é pragmática: responsabilidade fiscal e investimentos. Entre 2013 e 2014, o clube quitou mais de R$ 100 mil em antigas dívidas trabalhistas. E isso só foi possível com uma nova diretoria, encabeçada pelo trio formado por Christopher Nunes, Patrick Cruz e Maurício Neves de Jesus.
Para explicar o ressurgimento do Inter, o Última Divisão conversou com Christopher Nunes, o presidente do clube (foto). E ele explicou ainda como o clube pretende fazer para pagar os nomes conhecidos do elenco em 2015, pensando já em estabelecer o time em uma divisão nacional daqui a poucos anos.
Confira:
Última Divisão: O Inter de Lages conseguiu uma recuperação muito rápida no cenário catarinense. Como isso foi possível?
Christopher Nunes: Houve alteração da gestão. Até 2012, tinha um grupo à frente que permanecia há mais de 20 anos no clube. Houve a atitude do Patrick (Cruz, atual vice-presidente), do Maurício (Neves de Jesus, um dos responsáveis pelo projeto de reestruturação do clube), de restaurar essa situação de clube. Foi pago um determinado valor. O antigo presidente (José Carlos Susin, o Zezé) não colocou oposição de chapa, a gente fez alteração de estatuto. Em 2013, foi montada uma equipe, e a gente conseguiu subir, ser campeão da terceira divisão (do Campeonato Catarinense). Eu participei com cinco atletas que o Criciúma emprestou com salário pago. Coloquei dois atletas. Na segunda divisão (2014), coloquei os 30 atletas. A partir daí, a gente conseguiu montar um elenco que foi vitorioso, com o qual a gente conseguiu realmente ser campeão. A partir do final do ano, eu troquei a cadeira – eu era presidente do conselho deliberativo e assumi a presidência da equipe.
UD: Para 2015, o time contratou três nomes conhecidos: Fernando Henrique, Marcelinho Paraíba e Reinaldo. Como foram avaliados estes nomes para as contratações?
CN: Eu tinha um goleiro que estava sendo liberado para o Criciúma, uma questão jurídica. A gente foi em busca do Fernando Henrique. Já o Marcelo e o Reinaldo foram diferentes. Eu acompanhei o Reinaldo no Luverdense. A gente conversou via um outro empresário, que é amigo do Reinaldo, aí a gente intermediou ele para cá. O Marcelo, eu já conheço ele há anos no esporte. Acompanhei o Campeonato (Brasileiro) da Série C, vi que ele estava bem no Fortaleza. Fiz contato e a gente se acertou. Claro que (a contratação) atrai, em questão de mídia. Mas ele tem qualidade.
UD: Como o clube gera finanças para contratar nomes de peso para o Campeonato Catarinense?
CN: A gente está tentando fazer com que o Inter sobreviva com sócio-torcedor, bilheteira, patrocínio e comercialização de atletas. Hoje, eu estou buscando parcerias que eu tinha como empresário para poder no fim do de tudo solucionar essa parte financeira. Não alcançando, eu estou fazendo empréstimos pessoais ao clube.
UD: Em meio a tantas críticas aos estaduais, a gente vê clubes catarinenses elogiando o torneio como uma preparação para o Brasileirão. Como o senhor avalia?
CN: O dirigente da primeira divisão que falar que Estadual não vale a pena está cuspindo no prato em que come. Se a gente parar para pensar, o Avaí estava na Série B (em 2012), o Joinville estava subindo da Série C para a Série B (em 2011), a Chapecoense estava na Série C (em 2012). Se a gente parar para pensar alguns momentos, o futebol de Santa Catarina está se fortalecendo. Tem um Estadual forte. É de grande valia para todo o ano. A Chapecoense ficou de fora do quadrangular final (do Catarinense em 2014), o Avaí também. Um subiu da Série B para a A e o outro permaneceu. Hoje, o Catarinense está se fortalecendo. Santa Catarina é um grande exemplo de como se estabelecer. Nosso presidente Delfim Pádua Peixoto está de parabéns. Com tão pouco recurso perante os grandes, como Flamengo, Corinthians, São Paulo, Grêmio, Inter, Atlético-MG, Cruzeiro, permanecem na primeira divisão, brigando de igual pra igual. Permanecer na primeira divisão pode ser comparado a uma Libertadores do Grêmio, do Inter, do Cruzeiro, do Atlético-MG.
UD: Qual é a projeção, a curto, médio e longo prazo, para o clube?
CN:A curto prazo, a permanência na primeira divisão. A médio, poder pensar em uma vaga na Série D e no acesso para a Série C. Se não for neste ano, que seja ano que vem ou no outro ano. A longo prazo, se espelhar nos trabalhos que existem aqui, em Joinville, Chapecó e Criciúma, que são cidades de interior e que buscam ascender as categorias.
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