O jornalista e escritor Vicente Henrique Baroffaldi é um incansável pesquisador do futebol interiorano. Ele é autor da nova edição do livro Ferroviária em Campo- Breviário Grená, publicado recentemente pela kroger feedback survey Editora Pontes. A obra é a compilação de diversos fatos e curiosidades sobre a Associação Ferroviária de Esportes, um dos clubes mais tradicionais do interior paulista. “Incorporamos muitas informações nesta nova edição”, destaca Baroffaldi. O Última Divisão conversou com ele sobre o livro e sobre a atual situação da equipe afeana. “Falta melhor estrutura e competência dos responsáveis pela sua condução”, avalia o autor.
Última Divisão: Como surgiu a ideia de escrever uma segunda versão do Ferroviária em Campo?
Vicente Henrique Baroffaldi: A primeira versão aconteceu no final de 2010; em abril de 2011, já havíamos distribuído os 1.000 exemplares gratuitamente, dentro do plano de difundir a história afeana. A partir de então, passamos a ser indagados a respeito de uma nova edição. Preferimos demorar alguns anos para publicar uma nova versão, não só atualizada e revisada, como também ampliada. A primeira versão foi de 220 páginas; a atual, contém 310.
UD: Quais as novidades dessa segunda versão?
VHB: Incorporamos muitas informações a respeito da história da Ferroviária, como os artilheiros de todos os tempos e os maiores públicos que viram a AFE jogar. Demos também enfoque especial nos três melhores Paulistões do clube de Araraquara; e um capítulo especial que ocupa 50 páginas do livro, intitulado Acontecências, com muitas curiosidades. Por fim, fechamos a obra destacando o futebol feminino, com os dados técnicos dos jogos que resultaram na conquista da Copa do Brasil de 2014 pelas Guerreiras Grenás.
UD: O capítulo Acontecências está recheado com mais de 200 curiosidades da Ferroviária. Foram muitos anos para concluir essa parte da obra?
VHB: A pesquisa que resultou na elaboração do capítulo foi intensificada decisivamente nos dois últimos meses, graças à colaboração imprescindível de Paulo Luís Micali, amigo colaborador desde o nosso primeiro livro, que encampou a ideia de difusão do esporte, dando-nos respaldo para melhor desenvolvermos as nossas pesquisas e darmos a elas um “corpo” mais atraente.
UD: Algumas dessas curiosidades surpreenderam o senhor?
VHB: Sem dúvida nenhuma. Por mais que tenhamos acompanhado a história da Locomotiva, certos episódios causaram-nos grande surpresa, mostrando-nos a grandeza da agremiação araraquarense e o quanto a sua trajetória foi palmilhada por fatos enaltecedores e também por apreensões, dadas as vicissitudes que fazem parte da vida de qualquer entidade, associação ou mesmo pessoa.
UD: A rivalidade da Ferroviária com o Botafogo e o Comercial de Ribeirão Preto aparecem na obra?
VHB: Sim, os números são mostrados e os acontecimentos que se desenrolaram para que as rivalidades fossem recrudescidas através do tempo ocupam naturalmente um espaço apreciável, destacando-se a boa vantagem estatística da Ferroviária sobre o Botafogo. As conquistas importantes se dividiram entre ambas as agremiações, bastando lembrar que a AFE subiu para a principal divisão do futebol paulista em jogo de decisão contra o Botafogo, ganhando por contagem elástica, 6 a 3, em 1956. Por sua vez, o Pantera da Mogiana também alcançou o acesso pela última vez em jogo contra os grenás, fazendo a festa em plena Fonte Luminosa (no dia 3 de maio de 2008, o Fogão, mesmo perdendo de 4 a 1, sacramentou o seu retorno à divisão principal, pela combinação de resultados e pelo que já fizera durante o certame). Foi na Fonte Luminosa que os torcedores do tricolor de Ribeirão Preto comemoraram a volta, mantendo-se o Botafogo até hoje na elite do futebol paulista. Já em relação ao Comercial, o equilíbrio é impressionante, havendo uma divisão bem equânime de vitórias e derrotas entre os litigantes que fazem o tradicional Come-Ferro. No Bota-Ferro, a Ferrinha leva nítida vantagem quanto se fala em números estatísticos. Aliás, o livro Ferroviária em Campo – Breviário Grená está coalhado de informações estatísticas.
UD: Quais são as principais dificuldades em se pesquisar a história da Ferroviária e do futebol do interior de São Paulo?
VHB: Sabe-se que a casa do futebol paulista – a FPF – foi vítima de incêndio, deixando os pesquisadores e historiadores com reais dificuldades para o desenvolvimento de seus trabalhos. Existem fontes que nos trazem muitas luzes, mas nenhuma delas é absoluta. Torna-se necessário garimpar por vários meios, intercambiando muito e desenvolvendo com isso um trabalho solidário entre os poucos que se dispõem a sustentá-lo, sempre movidos pela paixão pelo futebol. Mas o principal meio segue sendo o jornal local, embora também com restrições, visto que os registros muitas vezes são incompletos ou mesmo inexistentes, além da precariedade do estado de conservação do papel. A digitalização dos jornais ainda é muito parcial, e muito se perdeu até aqui. Felizmente, outros meios se somam, inclusive o de testemunhos. Enfim, trabalha-se com a certeza de que a plenitude não se alcança, mas o empenho pode fazer com que nos aproximemos dela. E afinal de contas, vivemos no mundo do relativo.
UD: Muitas histórias sobre o Bazzani são contadas? Ele é o maior jogador da história da Ferroviária?
VHB: Sim, o Bazzani é o craque grená mais citado na obra, até por uma imposição de seus feitos: jogador que mais vezes vestiu a gloriosa camisa do clube; que mais gols assinalou; que mais títulos conquistou; que maior polivalência desenvolveu dentro da associação, tendo sido jogador, técnico e funcionário. Em todas as atribuições, exibindo uma disposição admirável. Nunca uma homenagem foi tão merecida como a que é representada na entrada principal da Arena Fonte Luminosa, onde um busto de Bazzani é exposto e visualizado por todos os esportistas que chegam àquele moderno estádio.
UD: Atualmente, a Ferrinha disputa a Série A-2 e a Copa Paulista. O que falta pra equipe voltar a ser uma das grandes forças do nosso interior?
VHB: Melhor estrutura e competência dos responsáveis pela sua condução. A Ferroviária tornou-se um time nômade, itinerante, treinando cada dia em um local diferente, vivendo de favores de clubes e empresas da cidade e região. Lamentável essa constatação quando se trata de uma associação que foi detentora de um patrimônio invejável. É crucial que se defina de vez um local de referência para os treinamentos da base, do time de profissionais e do futebol feminino (que vem enchendo a cidade de orgulho com suas recentes e constantes conquistas). Dizem que dinheiro não falta; então, só pode estar faltando competência para quem é hoje responsável pelo departamento de futebol da Ferroviária. E também não se trata apenas de conseguir o retorno à elite do futebol, mas de estar preparada para a permanência na vitrine.
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