Quem me conhece mais intimamente sabe que nutro muitas paixões, dentre as maiores certamente está o futebol e praticamente tudo que envolva o Uruguai.
Dito isso, não é de se estranhar que alguém que está acostumado a acordar nos sábados e domingos pela manhã para ver os jogos da segundona charrúa estava ansioso para acompanhar a reestreia de Luis Suárez pelo Nacional de Montevidéu.
Não esperava que o embate diante do Atlético-GO fosse ganhar contornos dignos de uma boa crônica escrita por Eduardo Galeano. Obviamente, eu estava torcendo pelo Nacional, não apenas por essa paixão pela Banda Oriental e pelo desejo de ver o futebol uruguaio alcançar glórias dignas dos tempos românticos, mas por uma façanha do clube que carrega as cores dos Trinta e Três Orientais, que remete a este tempo idílico.
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Em 1980, com um gol de Waldemar Victorino, o Nacional impediu o Internacional — que vinha de um título invicto do Campeonato Brasileiro com uma das maiores equipes da história do futebol latino-americano — de ser a primeira equipe gaúcha a levantar a Copa Libertadores.
A questão é que o 2 de agosto de 2022 era um dia reservado para o imponderável: o Parque Central, cancha de mais de um século de existência, estava vidrada para rever El Pistoleiro. Mas assim como todo território uruguaio, ficou de queixo caído diante do feito de um time, que ocupava as últimas colocações do Campeonato Brasileiro: o Atlético-GO, clube ascendente no futebol brasileiro, mas que “sofre” pelo sucesso tendo que se dividir em três competições – indo muito bem na Sul-Americana e na Copa do Brasil, mas correndo risco de rebaixamento no campeonato nacional, em paradoxos do ludopédio em Terra Brasilis.
Uma explicação pode estar no elenco limitado para suportar tal calendário, com muitos jogadores de passagens tenebrosas em outros clubes brasileiros, mas que hoje fazem o Dragão desafiar os moinhos uivantes nos relvados sul-americanos. Esses mesmos jogadores que foram execrados por suas antigas agremiações, fizeram a estreia de Luis Suárez ser o fato menor na noite da terça-feira em questão.
Começando pela lesão do goleiro Ronaldo, que após uma bela defesa de um chute de falta, acabou se machucando tendo que ser substituído por Renan – reserva da posição que, ao fim da partida, ganhou o prêmio de melhor jogador em campo, pegou tudo e mais um pouco durante os 90 minutos.
Renan, assim como Suárez fez boa parte de sua carreira no futebol europeu. A diferença é que o goleiro revelado pelo Botafogo brilhou no Leste, no Ludogorets (Bulgária), fazendo o que costumamos ver como uma trajetória “alternativa” no mundo da bola.
Alternativo: adjetivo que definirá esse embate, que consagrou Luiz perante os uruguaios, diante do olhar atento de Kün Aguero. Luiz Fernando, que após receber a bola dos pés de Léo Pereira, cabeceou no canto do goleiro Rochet, ocupando o lugar de um bom centroavante no coração da grande área. Estando no lugar de Churín, responsável por puxar a marcação bolsiluda para que os uruguaios vissem o “outro” Luiz brilhar.
O GOL DO JOGO! Luiz Fernando aproveitou ótimo cruzamento de Léo Pereira para marcar o único gol do jogo! TALISMÃ! 🇹🇹🇧🇷#DRAGÃO #DragãoNaSula
🎥: @SudamericanaBR pic.twitter.com/nNAOR9u2db— Atlético Goianiense (@ACGOficial) August 3, 2022
Trio que alguns meses atrás era rebaixado com o Grêmio, desta vez consagrou o Dragão, marcados para sempre por roubarem as luzes na reestreia de um dos maiores do futebol uruguaio, quiçá um dos melhores ataques latinoamericanos do século XXI. O Bolso pode até eliminar o Atlético no jogo de volta, mas nada apagará a magia que pairou sobre o Parque Central, uma epítome do futebol alternativo.
(Emerson Folharini)
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