Todo mundo sabe que a Copa do Brasil é a mais democrática competição do futebol brasileiro, única que envolve times de todos os estados e divisões. Felizmente, o nível técnico entre os times menores e os times grandes vem diminuindo nos últimos anos.
Já são muitos os pequenos que fazem boas campanhas e exemplos não faltam como Linhares (ES), 15 de Campo Bom (RS), Paulista (SP), Santo André (SP), entre outros. Mas quem abriu caminho para que esses times pudessem sonhar com coisas maiores foi o Criciúma, que há 20 anos atrás chegava ao título da copa do Brasil de maneira invicta.
O Criciúma levantou a taça com seis vitórias e quatro empates. Na decisão, um jovem e desconhecido Luiz Felipe Scolari mostrou a astúcia que virou marca em sua personalidade ao jogar com o regulamento debaixo do braço: ganhou o título com dois empates – o Tigre levou vantagem por ter feito um gol na casa do Tricolor Gaúcho.
Atual bi-campeão catarinense, o Criciúma tinha um elenco muito unido e que jogava junto havia bastante tempo. O principal responsável por essa união foi o próprio Felipão, que adiante ficaria conhecido justamente pela maneira “familiar” de unir os elencos com quem trabalha.
O técnico havia chegado a Criciúma como atual campeão da Copa da Ásia com a seleção do Kuwait e encontrou um elenco onde os principais nomes estavam no meio de campo (Roberto Cavalo, Gelson e Grizzo) e com uma bela dupla de ataque comandada por Jairo Lenzi.
Na Copa do Brasil, o primeiro adversário foi o Ubiratan (MS) e a estreia foi com empate em 1 a 1 na casa do adversário. No Heriberto Hülse, porém, goleou por 4 a 1 e garantiu a classificação para a segunda fase. Dali para frente, o Tigre só enfrentou pedreira: começou eliminando o Atlético (MG) com duas vitórias por 1 a 0, empatou sem gols com o Goiás (GO) na ida das quartas de final e garantiu a classificação com uma goleada por 3 a 0 na volta, dentro de casa. Já nas semifinais, contra o Remo, mais duas vitórias – 1 a 0 em Belém e 2 a 0 em Criciúma.
Para a final, o estado de Santa Catarina se uniu diante da possibilidade do primeiro título nacional do estado. A rivalidade com o Rio Grande do Sul fez os torcedores da capital (Figueirense e Avaí) se juntarem aos do Criciúma para torcer contra o Grêmio. Resultado? Na primeira partida, no estádio Olímpico, empate por 1 a 1 com gols de Vilmar para o Criciúma aos 15 minutos do primeiro tempo e Maurício aos 38 do segundo tempo.
Na decisão, mesmo em casa, o Criciúma jogou fechadinho, só esperando o adversário. O placar em branco mostrou que o time de Felipão entrou em campo realmente com o regulamento embaixo do braço. A festa foi muito grande a prefeitura local decretou feriado. A torcida foi só alegria.
Confira a ficha técnica da decisão:
Criciúma 0×0 Grêmio
Local: Heriberto Hulse
Data: 02 de junho de 1991
Árbitro: Cláudio Vinícius Cerdeira
Público: 19.525
Criciúma: Alexandre, Sarandi, Vilmar, Altair e Ita; Roberto Cavalo, Gélson, Grizzo, depois Vanderlei; Zé Roberto, Soares e Jairo Lenzi.
Técnico: Luís Felipe Scolari.
Grêmio: Sidmar, Chiquinho, João Marcelo, Vilson e Hélcio; Norberto, Donizete e João Antônio; Maurício, Nando, depois Darci e Caio.
Técnico: Dino Sani.
Felipão saiu do time uma semana após o título, assinou um contrato milionário com o Oriente Médio e, no ano seguinte, o Criciúma (com o mesmo elenco campeão) foi eliminado pelo São Paulo nas quartas-de-final da Copa Libertadores.
Daquele elenco, apenas Roberto Cavalo ficou conhecido nacionalmente e fez sucesso por outros clubes, tendo sido vice campeão brasileiro pelo Vitória (BA) e foi bem no Botafogo (RJ).
Jairo Lenzi e Grizzo, por outro lado, nunca conseguiram apresentar o futebol dos tempos de Criciúma em outros clubes – o segundo ainda teve destaque na Ponte Preta (SP), quando ajudou o time a subir para Série A do Brasileiro. Mesmo assim, isso não apaga a grande campanha daquele time, que garantiu o primeiro título nacional ao estado de Santa Catarina.
Comentários