O estreante Kuwait não fez feio em sua única participação em Copas do Mundo, no ano de 1982. Colocada na Grupo D, ao lado de Inglaterra, França e Checoslováquia, a seleção asiática empatou por 1 a 1 com os checoslovacos na estreia e perderam os dois outros jogos, 4 a 1 para os franceses e 1 a 0 para os ingleses. Voltaram da Espanha com um pontinho, mas com um personagem dos mais lembrados da história dos Mundiais: Fahd Al-Ahmed Al-Jaber Al-Sabah, o príncipe do país.
Fahd – que será chamado apenas de Fahd daqui para frente – era o presidente da Associação de Futebol do Kuwait (KFA) durante a Copa do Mundo. No dia 21 de junho de 1982, ele estava na tribuna de honra do Estádio José Zorilla, em Valladolid, para acompanhar o jogo contra a França. E certamente estava um tanto quanto incomodado com o segundo tempo, no qual o time de Michel Platini abriu 3 a 0. Abdullah Al-Buloushi descontou aos 30min da etapa final, aproveitando rápida cobrança de falta.
Poucos minutos depois, aos 36min, Platini acertou um passe preciso pela esquerda para Alain Giresse, que chutou forte e fez 4 a 1. Os jogadores do Kuwait cercaram o árbitro da partida, o soviético Miroslav Stupar, e alegaram posição irregular de Giresse – de fato, no lance, dois jogadores param e pedem impedimento. O lance seguiu e o gol saiu, gerando protestos – inconformados, os comandados de Carlos Alberto Parreira chegaram a deixar o gramado.
É aí que (literalmente) entra Fahd. O xeque do Kuwait desceu do camarote onde estava para, mesmo cercado, discutir com a arbitragem à altura do gramado. Ali, argumentou que alguém soprou um apito nas arquibancadas, o que levou seus jogadores a parar no gramado acreditando no impedimento. O mais inusitado: Miroslav Stupar aceitou a argumentação e invalidou o gol. Assim, a seleção do Kuwait voltou a entrar em campo. Mesmo assim, Maxime Bossis anotou mais um aos 44min da etapa final e garantiu a vitória por 4 a 1.
Quatro dias depois, o Kuwait perdeu para a Inglaterra e encerrou sua única participação em Copas do Mundo. Ainda assim, o irmão do emir do Kuwait registrou seu nome para sempre na história do futebol mundial. Mas, cá entre nós…
Você se lembra de Fahd Al-Ahmed Al-Jaber Al-Sabah?
O príncipe da confusão aí acima nasceu em 10 de agosto de 1945, e não precisava ter arrumado o que fazer pelo resto da vida, uma vez que fazia parte da realeza kuwaitiana. Mas quis fazer: em 1957, ajudou a fundar o Comitê Olímpico do Kuwait, reconhecido pelo COI em 1966. Dividindo-se entre as Forças Armadas e os esportes, o então tenente assumiu a presidência do Al-Qadsia FC (um dos clube mais populares clubes do país) em 1969, cargo que ocupou por dez anos. Neste intervalo, assumiu a presidência da Federação de Basquete do Kuwait (1974 a 1977).
Em 1978, Fahd assumiu a presidência da KFA, cargo que ocupou inicialmente até 1985. Durante seu mandato, o país conquistou a vaga na Copa do Mundo pela primeira e única vez. Passado o torneio de 1982, Fahed deixou o cargo em 1985, mas foi reeleito dois anos depois. Desta vez, presidiu a KFA até sua morte.
O príncipe tinha 44 anos quando morreu, em 2 de agosto de 1990, durante uma invasão de tropas do Iraque ao Kuwait em meio à Guerra do Golfo. Fahed defendia o palácio da família de tropas quando foi alvejado – o episódio, em detalhes aqui, é conhecido como Batalha do Palácio de Dasman. Seu irmão mais velho, o emir Jabir, havia fugido em voo para a Arábia Saudita.
Em sua vida, Fahd ocupou cargos importantes em entidades esportivas. Foi vice-presidente da Federação Internacional de Handebol (1980 a 1990) e membro do Comitê Olímpico Internacional (1982 a 1990), entre outros cargos continentais. No entanto, seu nome é sempre lembrado pela invasão de campo de 1982, uma das mais exóticas das Copas do Mundo.
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