Uma publicação nas redes sociais em 12 de janeiro de 2022 chamou a atenção de apaixonados pelo futebol do interior de São Paulo: o Esporte Clube Paraguaçuense divulgou um certificado de filiação junto à Federação Paulista de Futebol, datado de 16 de dezembro do ano anterior, comemorando a confirmação de atividades do clube.
“A diretoria do Esporte Clube Paraguaçuense vem trabalhando nos bastidores e apresenta o certificado de filiação do ano de 2021 a todos os torcedores e simpatizantes do nosso querido Azulão, mostrando que o clube está no caminho para o retorno das competições oficiais da Federação Paulista de Futebol”, registra a publicação.
Embora o clube não entre em campo desde que disputou a Segunda Divisão do Campeonato Paulista de 2007, segue constando como filiado à FPF. E o documento assinado por Reinaldo Carneiro Bastos, presidente da entidade, reforça a impressão dos últimos anos de que o Paraguaçuense vem, aos poucos, renascendo.
Mas para entender o que está acontecendo em Paraguaçu Paulista, é preciso voltar ao começo da década de 1990.
O troféu que não chegou
Entre as décadas de 80 e 90, a FPF pretendia enxugar as divisões do Campeonato Paulista. Em 1986, a primeira divisão teve 20 clubes, enquanto a segunda teve 55. Por isso, em 1987, a segunda divisão seria dividida após a primeira fase: os 26 melhores da primeira fase, mais Comercial (Ribeirão Preto) e Paulista (Jundiaí), rebaixados em 1986, formariam os 28 da Divisão Especial. Os demais formariam a Segunda Divisão (na verdade, a terceira) a partir de 1987.
A partir daquele ano, a primeira divisão começou a aumentar. Foram 20 times em 1987, 22 em 1988 (contando Ponte Preta e Bandeirante, rebaixados no ano anterior e mantidos após decisão da justiça, que mais tarde seria cassada) e em 1989, 24 em 1990, 28 em 1991 e em 1992 e 30 em 1993. Entre 1989 e 1993, o campeonato era dividido na primeira fase em dois grupos, sendo um mais forte (em geral com os melhores colocados do ano anterior) e um mais fraco (com os demais, além dos promovidos). Ao fim de 1993, os times foram divididos para a reformulação das divisões paulistas: o grupo mais forte virou a Série A-1 e o grupo mais fraco virou a Série A-2.
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Enquanto isso acontecia, o Esporte Clube Paraguaçuense oscilava em divisões inferiores do Paulista. A arrancada só começou em 1989, com o acesso na quarta divisão. De 1990 a 1992, o time disputou a Segunda Divisão (a rigor, a terceira), subindo em 1992 com o terceiro lugar. Em 1993, estreou na Intermediária (então segundo patamar estadual) e foi campeão.
Se o regulamento para 1994 fosse mantido, o Paraguaçuense entraria no grupo mais fraco da primeira divisão. A grosso modo, com o “corte” promovido pela FPF, o grupo se transformou na Série A-2, e a Divisão Intermediária virou a Série A-3. E o Azulão subiria da segunda divisão para… A segunda divisão.

A reformulação não tirou, no entanto, o título do Paraguaçuense na segunda divisão paulista de 1993.
Com uma campanha surpreendente naquele ano, o time se garantiu no quadrangular final, ao lado de Comercial (Ribeirão Preto), Francana e União Barbarense. No fim, o time de Paraguaçu levou a melhor e terminou na liderança, com sete pontos em seis jogos, e foi campeão. O Comercial, com seis pontos, foi vice. Os dois “subiram” para a Série A-2, enquanto Francana e União Barbarense “permaneceram” na Série A-3.
Mas além de não ganhar a vaga na primeira divisão, o Paraguaçuense ainda ficou sem o troféu. O motivo: na última rodada da competição, em 12 de dezembro, enquanto o Paraguaçuense encarava o União Barbarense, o Comercial (ainda com chances) media forças com a Francana. Assim, o troféu não iria para nenhum dos dois jogos e seria entregue posteriormente.
O Azulão fez sua parte, venceu por 4 a 1 e conquistou o título. Mas o troféu não foi entregue.
“O (então presidente da FPF, Eduardo José) Farah prometeu vir pessoalmente depois aqui”, contou Nivaldo Francisco, ex-presidente do clube, em entrevista à TV Tem em 2020. “Ele tratou diversas vezes e não veio. A gente tinha subido para a Especial (primeira divisão), para (enfrentar) Santos, São Paulo, Palmeiras. Só que ele fez a divisão (…). Mas essa divisão ele fez depois que nós fomos campeões.”
Clube sonha com volta após chegada de troféu

Entre Divisão Intermediária e Série A-2, o Paraguaçuense ficou na segunda divisão paulista de 1993 a 2002. Na Série A-3 de 2003, foi rebaixado com 14 derrotas em 14 jogos. Depois, disputou a quarta divisão em 2004 e 2005, ficou fora em 2006 e voltou em 2007. Desde então, não entra mais em campo para jogos profissionais.
Mas isso pode estar mudando. Em 2020, Petrus Ricardo Rodrigues Silva assumiu a presidência do clube e decidiu reivindicar o troféu junto à Federação Paulista de Futebol. Em pouco tempo, graças ao conteúdo reunido pelo historiador Amarildo José Ramos, conseguiu.
“A primeira coisa que fiz foi entrar em contato com a federação, com o presidente Reinaldo Bastos. Ele pediu para a gente comprovar que tinha sido campeão de fato. A gente mandou e-mails com reportagens. Acho que passou uma, duas semanas, ele falou: ‘(O troféu) está pronto, pode vir buscar na federação’”, contou, também em entrevista à TV Tem em 2020.
Quando o troféu foi entregue, em dezembro de 2020, foi recebido com festa. Mas também trouxe ânimo para que o Paraguaçuense desse fôlego para voltar aos gramados após mais de uma década.
“A gente está preparando tudo – pagando dividas, arrumando o campo para reativar o time. Acho que ano que vem já podemos ter a Paraguaçuense de volta a campeonato oficial”, declarou também o presidente Petrus.
A volta aos gramados não aconteceu em 2021, dando a impressão de ter sido apenas mais uma declaração que mistura empolgação e promessa. Mas o certificado de filiação publicado pelo clube nas redes sociais parece indicar uma situação mais sólida. Ainda falta muita coisa, é claro – o estádio Carlos Affini, por exemplo, carece de muita manutenção. Mas se o Esporte Clube Paraguaçuense pintar em torneios oficiais da FPF a curto prazo, não será uma (agradável) surpresa.
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