Demorou mais de uma década, mas o boom econômico pelo qual atravessa a China finalmente começa a chegar ao futebol. O Campeonato Chinês era desconhecido, quase folclórico há 15 anos; hoje, a Chinese Super League começa a se transformar em um mercado viável para jogadores, em meio a salários astronômicos e nível técnico em ascensão – ainda que baixo.
Os primeiros registros de futebol na China datam de 2197 a.C., segundo O Livro de Ouro do Futebol, do jornalista e pesquisador Celso Unzelte. De acordo com a obra, “a primeira forma documentada de futebol de que se tem notícia vem da China, com o tsu-chu, que em chinês significa ‘lançar com o pé’ (tsu) uma ‘bola recheada feita de couro’ (chu)”. De origem militar, a atividade só passou a ser praticada pelas demais classes sociais na virada do milênio, durante a dinastia Han.
Passaram-se quase outros vinte séculos, até que a China passasse a organizar seus primeiros torneios regulares de futebol – no caso, durante os Jogos Nacionais, realizados a cada quatro anos, com disputas de futebol entre seleções regionais, como Olimpíadas nacionais. Competição nacional anual, o país só passou a ter em 1951, com o Campeonato da China, amador.
Este embrião da Chinese Super League era disputado inicialmente por equipes que representavam regiões e indústrias. Paralisada esporadicamente nas décadas de 60 e 70 por questões políticas, a competição se manteve praticamente intacta (e amadora) até 1987. Foi aí que a Associação Chinesa de Futebol (CFA) decidiu tentar profissionalizar seu campeonato. O processo durou até 1993, quando um torneio experimental nacional foi realizado.
Foi um sucesso. Com a organização de um comitê da entidade a partir de 1994, a Jia-A League passou a ser disputada com três divisões: Jia-A, Jia-B e Divisão 2. Os times de empresas e regiões passaram a ser clubes, que podiam ser mantidos por empresários e contar com nomes de patrocinadores. Em 2004, para tornar a competição mais comercial, a CFA rebatizou o torneio de Chinese Super League.
Desde então, a CSL passou a adotar naming rights e vender seu nome a patrocinadores fortes, como Siemens (2004) e Pirelli (2009 e 2010). Não por acaso, no mesmo período, a China vivenciou (e vivencia) uma fase de grande pujança econômica, que tem atraído jogadores – quase sempre iniciantes ou em fim de carreira – ao país.
Exemplos não faltam. Pioneiro, o alemão Carsten Jancker defendeu o Shanghai Shenhua em 2006. O leonês Mohamed Kallon, ex-Inter de Milão, passou pelo Shaanxi Renhe em 2010 antes de se aventurar pela Índia. Os nigerianos Garba Lawal e Victor Agali também já passaram pelo futebol chinês nos últimos anos. O coreano Ahn Jung-Hwan (aquele, do gol contra a Itália em 2002) está no Dalian Shide desde 2009. Damiano Tommasi, volante pouco refinado da Roma entre 1996 e 2006, atuou em 2009 pelo Tianjin Teda.
O Brasil passou a conhecer o mercado chinês em 2010, quando Obina e Muriqui deixaram o Atlético-MG para jogarem respectivamente no Shandong Luneng e no Guangzhou Evergrande. O time de Guangzhou ainda tirou Darío Conca do Fluminense, por um dos maiores salários do mundo. Resultado: foi campeão chinês em 2011, com um time que conta ainda com o brasileiro Cléo – que já foi personagem aqui.
Muriqui, ao centro – caso haja alguma confusão, não?
Não foram, porém, os primeiros brasileiros a se aventurarem na China. Em 2004, Adílson (ex-Paraná Clube) e Vicente (ex-Caxias) chegaram à China. No ano seguinte, Gilsinho (ídolo do Taubaté) também integrou a lista de brasileiros que aterrissaram na Chinese Super League. De lá para cá, Argel, Scheidt, Bruno Lança e outros nomes reforçaram o torneio.
A bola da vez da China para 2012, e talvez a contratação de maior impacto da história do futebol do país, é Nicolas Anelka. Aos 32 anos, e depois de passar por Paris Saint-Germain, Arsenal, Real Madrid, Liverpool, Manchester City, Fenerbahce, Bolton Wanderers e Chelsea (ufa!), o francês cedeu às investidas asiáticas e assinou com o Shanghai Shenhua por três anos. Lá, vai ser o único estrangeiro do elenco, comandado por um técnico croata. Didier Drogba também estaria na mira.
Anelka, porém, ainda é uma exceção, um jogador que deixa um grande centro europeu, com uma idade razoável, para se aventurar na China – prova de que os investimentos que vêm de lá podem ser bastante persuasivos. Tendo em vista que o Brasil lidera a lista de aquisições estrangeiras pós-2004 na China (Camarões, Nigéria, Austrália, Coréia do Sul, Croácia, Sérvia, Argentina e Honduras também são bem cotados), não será surpresa se o astro do seu time for sondado para reforçar um dos clubes do mais novo emergente da bola.
Da lista, desde 2004, foram campeões: Shenzhen (2004), Dalian (2005), Shandong (2006, 2008 e 2010), Changchun (2007), Beijing (2009) e Guangzhou (2011).
Comentários