Um técnico sugere a criação de um torneio regional entre seleções: quadrangular simples, três datas Fifa e uma sede única. Os outros aceitam, afinal uma pitada de rivalidade e uma taça em disputa criam um enredo melhor que qualquer amistoso por aí. Para fechar, uma marca de cerveja vai e banca a brincadeira. Está criada a Carling Nations Cup, onde República da Irlanda, Escócia, Irlanda do Norte e País de Gales rolam o melão e preparam seus craques de meio de tabela da Premier League para a sequência das Eliminatórias da Euro.
O campeonato substitui de certa forma o antigo British Home Championship, considerado o mais antigo torneio internacional de futebol do mundo. O primeiro jogo aconteceu em janeiro de 1884, quando os Escócia visitou a Irlanda, ainda unificada, em Belfast e venceu por 5 a 0. Ao todo foram 88 disputas, que chegaram a contar com até cinco seleções, já que Inglaterra e País de Gales logo aderiram e a seleção irlandesa se dividiria em duas após a separação da ilha.
A última edição foi na temporada 1983-84, e os ingleses têm 54 títulos, sendo 20 (!!) dividindo o primeiro lugar devido aos regulamentos sem critério de desempate – dois times com quatro pontos, por exemplo, eram campeões juntos. Simples. No meio da história, o torneio teve importância digna de Copa do Mundo: em 1949-50 e 1953-54 chegou a servir de eliminatórias para o Mundial, mas foi perdendo o ímpeto a medida que Copa e Eurocopa foram ganhando tamanho.
Uma notícia da BBC Sport de janeiro deste ano especula que o torneio pode voltar em 2013. A ideia é que a Federação Inglesa pode estar disposta a reviver o formato, já que os amistosos não têm sido sucesso de público e rentabilidade, enquanto os recentes clássicos regionais têm se mostrado jogos com maior apelo de torcidores e mídia.
Surge a Carling Nations
Em 2006, o então técnico da Irlanda do Norte, Lawrie Sanchez, sugeriu a criação do campeonato, já entendendo que não seria de interesse da Inglaterra, preocupada em ganhar dinheiro com amistosos diante de seleções maiores. Ele citou também o medo que os técnicos ingleses têm de se expôr nessa situação – perder para os vizinhos ‘pobres’ gera uma crise instantânea na Terra da Rainha.
Em matéria da mesma BBC, porém, um membro da direção da Federação Inglesa de Futebol admite que apesar de não haver nada concreto para uma participação contínua em algum torneio desse tipo, o English Team pode fazer uma série de amistosos contra os rivais em 2013 para celebrar os 150 anos da instituição que comanda o esporte no país.
Enquanto isso, seguiram os preparativos para a Carling Nations Cup. A primeira edição deveria ter acontecido ainda antes, entre 2009 e 2010, mas o calendário da qualificação para a Copa da África do Sul inviabilizou a ideia. Assim, ficou para agora, e teve início na primeira data destinada às seleções em 2011.
O lado B do Campeonato Inglês
Na Irlanda, os 19 jogadores disponíveis para o jogo de estreia atuam no futebol inglês, como o centroavante Kevin Doyle, autor do gol do Wolverhampton na vitória que quebrou a invencibilidade do Manchester United na temporada. E, tirando a dupla dos próprios Diabos Vermelhos – O’Shea e Gibson – e o experiente goleiro Shay Given, hoje reserva no Manchester City, o plantel passa por gente que joga no Stoke City, Aston Villa, Everton e Fulham, além do pessoal da Championship, a Segundona deles, como os atacantes que atuam no Bristol e no Reading.
Nos outros três elencos alguns nomes jogam no futebol escôces e, no caso do País de Gales, há representantes também da liga local. De fora do eixo, só dois convocados para a primeira rodada do torneio: Kenny Miller, avançado escocês que joga no Bursaspor, da Turquia, e Liam Boyce, camisa 9 de 19 anos que está no Werder Bremem. No time B, claro.
‘Come on, boys in green’
O Aviva Stadium, novíssimo estádio de Dublin construído no lugar do antigo Lansdowne Road, recebeu apenas 20 mil pessoas em seus 51 mil lugares na noite de terça-feira, 8 de fevereiro, para Irlanda x País de Gales. Se o time da casa não contou com o capitão Robbie Keane, os visitantes também não tiveram Gareth Bale, meio-campista do Tottenham que é uma das sensações da temporada europeia.
O ingresso para o setor mais popular – que nem por isso deixa de ter uma ótima visão para o campo – custou 30 euros (75 reais) e vem com exatamente todo aquele pacote dos principais palcos do mundo: mais guias que policiais, filas organizadas, banheiros limpos, fácil acesso para todos os setores, lugares numerados e limpos, e etc. Confesso que sou contra o conceito de arena e essa padronização excessiva do futebol, mas admito que, esteticamente, o espetáculo impressiona.
O Aviva é o mesmo local onde a seleção de rugby do país manda seus jogos. Inclusive lá está disputando a Six Nations Cup, torneio que também conta com Inglaterra, Escócia e País de Gales, além de Itália, França e os irlandeses. Só quatro dias depois do futebol o gramado recebeu a partida entre os donos da casa e os franceses, com vitória dos visitantes.
Irlanda e Escócia vencem bem
O italiano Giovanni Trapattoni, no auge dos seus 71 anos, é motivo de muitas críticas na Irlanda. Os jornais não aliviam a relação distante que o técnico mantém com os jogadores. Em entrevista recente, perguntado sobre o porquê de não ter falado com determinado jogador, ele respondeu que não tinha o número de telefone do comandado. Além disso, sua dificuldade com o idioma tem se tornado motivo de piadas.
Mas em campo, parece que a conversa no vestiário fez bem para o time. Depois de um primeiro tempo travado e ruim, a Irlanda voltou mais agressiva e matou o jogo em 3 a 0, com gols de Gibson, Duff e Fahey. No dia seguinte, foi a vez da Escócia largar com o mesmo placar para cima da Irlanda do Norte. O próximo compromisso das seleções é pelas Eliminatórias da Euro, mas as rodadas da Carling Cup acontecem também já em março, dias 24, 25, 27 e 28, quando irlandeses e escoceses devem decidir quem leva a taça inédita – e, de quebra, fica com o status de principal sombra dos inventores do futebol.
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