Quem vê o duelo dos gamers de hoje entre as séries Fifa (da EA Sports) e Pro Evolution Soccer (da Konami) pode nem se lembrar, mas a fabricante do segundo era quase incontestável nos anos 90. Ainda que os primeiros Fifa (quando a série se chamava Fifa Soccer) fossem populares, a Konami era responsável por um campeão de vendas: o International Superstar Soccer, que deu origem à sequência International Superstar Soccer Deluxe. Deste, originou-se uma versão “alternativa” das mais peculiares: o Campeonato Brasileiro 96.
A história deste clássico começa em 1991, quando a Konami lançou o Konami Hyper Soccer para o NES no Japão. Com algum sucesso do game, a empresa lançou no Japão o Jikkyō World Soccer: Perfect Eleven, que saiu em 1994 para o Super Nintendo. No resto do mundo, o game virou o International Superstar Soccer e fez muito sucesso – inclusive no Brasil. Assim, o lançamento da versão Deluxe no ano seguinte foi um passo natural, mais uma vez tornando a fita um sucesso estrondoso.
O ISSD tinha como principais méritos a jogabilidade e as características físicas dos jogadores – qualquer um poderia apontar semelhanças entre os craques virtuais e os reais, como o colombiano Murillo (Carlos Valderrama) ou o italiano Galfano (Roberto Baggio). No Brasil, porém, o caminhão de gols marcados por Pardilla, Beranco, Gomez e Allejo logo provocou posteriormente o surgimento de uma versão nacional.
Quer dizer, nacional pero no mucho. As narrações em um portunhol canhestro não escondem que a criação do jogo é tudo, menos brasileira. É provável que a origem do game seja peruana, uma vez que o grupo responsável por criar “versões brasileiras” iniciais do ISSD era peruano (Twin Eagles Group, ou TEG Peru). Tal grupo também fez suas versões no ISS original, mas sem o mesmo sucesso no mercado “paralelo”.
No Campeonato Brasileiro 96, apesar da data, os criadores tiveram o cuidado – chamemos assim – de colocar 24 times do Campeonato Brasileiro de 1997, além de clubes da Copa Libertadores da América e outros seis da então Copa dos Campeões da Europa. Assim, graças a uma meia dúzia de edições nos uniformes das equipes e nos nomes dos jogadores, era possível ter confrontos envolvendo Sávio (Flamengo), Renato Gaúcho (Fluminense) e Giovanni (Santos). Melhor ainda: era possível colocar o Boca Juniors, de Maradona e Cannigia, para enfrentar o União São João de Araras.
Mas além da possibilidade de controlar seu time de coração, o Campeonato Brasileiro 96 também fez muito sucesso com um personagem desconhecido: o narrador do game. Ao invés das frases do original em inglês, o locutor da versão latina arriscava frases no já citado portunhol. Assim, “down the wing”, “it’s a biiiig kick”, “incredible control!”, “he shoots” e “blocked shot” deram lugar a expressões mais populares, como “tirô!”, “perigo!”, “saque do golêro” e “ecspulsao”. Você já deve ter usado algumas dessas na sua pelada de fim de semana, não?
Posteriormente, os camelôs do Brasil passaram também a comercializar a versão “atualizada” do Campeonato Brasileiro 96, batizada de Ronaldinho Soccer 97. Na Argentina, a versão com os clubes locais virou o Fútbol Argentino 96. Legalmente (ou seja, produzidas mesmo pela Konami), as sequências de ISSD viriam a ser mais tarde a série Winning Eleven e Pro Evolution Soccer – mas que também não escaparam da pirataria e que deram origem aos patches que contam até mesmo com a Série B do Campeonato Brasileiro.
Mate as saudades do PERIGÔ!
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